Ginásio do Alto do Pina está em risco de ficar sem a sede que ocupa há 106 anos
Num prédio que dizem “não ter condições” e sem certeza quanto ao futuro, o clube reclama por uma nova sede e acusa a Junta da Penha de França de o ter "abandonado". Junta diz que “está atenta” e a trabalhar com a câmara para encontrar um novo espaço.
O Ginásio do Alto do Pina (GAP) pertence ao restrito clube das colectividades centenárias da cidade. Foi a 11 de Novembro de 1911 que abriu portas, mas este velho clube, que é o responsável por organizar a Marcha do Alto do Pina, terá de abandonar o espaço que ocupa na rua Barão Sabrosa, antiga Freguesia de São João e agora da Penha de França, há 106 anos. Sem certezas quanto ao futuro, o GAP recorreu à junta de freguesia à procura de ajuda para encontrar um novo espaço, mas acusa a autarquia de estar a “abandonar” o clube.
A empresa proprietária do edifício, a Construtora Gala – Sociedades de Construção Civil, Lda, pôs fim ao contrato de arrendamento do GAP, deixando o clube sem certezas quanto ao seu futuro.
Há já alguns anos, conta o actual presidente da colectividade, Marco Campos, que o clube se queixa da “falta de condições do prédio, a cair de podre”, e acusa o senhorio, com o qual o PÚBLICO não conseguiu entrar em contacto, de nunca ter “promovido as necessárias obras de conservação conforme seria sua obrigação, nos termos do Regime Jurídico de Urbanização e Edificação (RJUE)”.
As anteriores direcções foram fazendo algumas obras e “tentando recuperar o espaço”, diz Marco Campos, presidente desde o ano passado. Mas, há três anos, os senhorios acabaram por mover uma acção em tribunal, “porque diziam que não sabiam das obras” e porque “os antigos directores tinham deixado atrasar algumas rendas”. Desse processo judicial, resultou a "cessação do contrato de arrendamento".
"A qualquer momento, o senhorio pode dizer 'rua' e nós temos de sair", lamenta Marco Campos. Na semana passada, o presidente da colectividade disse ao PÚBLICO que estava previsto assinar um acordo com o senhorio para que o clube se pudesse manter nas instalações até 31 de Julho. No entanto, esse acordo ainda não foi assinado.
Entretanto, o GAP lançou uma petição online e em papel, na semana passada, dirigida à câmara de Lisboa e à Junta de Freguesia de Penha de França, onde pede por uma “alternativa, ainda que provisória, quanto às instalações da sede”, um lote num terreno camarário que terá sido atribuído há mais de dez anos ao clube, onde a autarquia nunca construiu.
As reivindicações por um novo espaço, diz Marco Campos, são antigas. “A junta mandou-nos procurar um espaço. Fui lá eu e um assessor da junta. Até hoje nunca fizeram nada. Até já tenho vergonha de lá ir. Pareço um mendigo”, critica, reclamando um espaço “digno” para que possam manter as actividades do clube.
Questionada pelo PÚBLICO, a Junta de Freguesia da Penha de França, liderada pela socialista Sofia Dias, refere que “está a trabalhar numa solução e não compreende, nem pode aceitar, estas acusações dos actuais responsáveis do Ginásio do Alto do Pina, que não correspondem à verdade”.
O gabinete de comunicação da autarquia explica ainda que está a trabalhar com a câmara municipal para “tentar encontrar um espaço que vá de encontro às expectativas desta importante colectividade”. Uma tarefa que, diz a junta, não é “fácil nem rápida”, tendo em conta o “grande número de instituições que estão a passar pelo mesmo processo de perda de instalações arrendadas”.
Outra das acusações que a colectividade faz à junta é a de querer só uma marcha a representar a freguesia – que neste caso seria a Marcha da Penha de França que é organizada pelo Sporting Clube da Penha -, nas festas populares de Junho.
A junta negou veemente esta acusação, exemplificando que, entre 2014 e 2017, “deu apoios financeiros ao Ginásio do Alto do Pina no valor de 44.055 euros, sendo que parte deste valor corresponde ao apoio da Marcha Infantil desta colectividade, o que mostra o empenho da junta na continuação desta importante tradição”. Por comparação, indicou a mesma fonte, ao Sporting Clube da Penha “foram atribuídos apoios financeiros no valor de 30.855 euros”.
A mesma fonte adiantou que está agendada para esta quinta-feira uma reunião entre a Junta de Freguesia da Penha de França e o Ginásio do Alto do Pina.
Alto do Pina fora das marchas populares
Entre as actividades da colectividade, destaca-se a preparação para as marchas populares. A marcha do Alto do Pina, diz o presidente do clube, que é marchante há 29 anos, sai às ruas da capital ininterruptamente há 86 anos e venceu o concurso em 2011, 2012 e 2015. Só que, à partida, no próximo ano, a Marcha do Alto do Pina não vai desfilar na Avenida da Liberdade.
Na semana passada foram conhecidas as marchas que vão integrar a edição de 2018 das Marchas Populares de Lisboa. Na lista das 20 seleccionadas, não figura a marcha do Alto do Pina já que, no ano passado, só conquistou o 17º lugar em ex aequo com Belém.
Ora, segundo o novo regulamento apresentado pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), responsável pela iniciativa, as três últimas classificadas da última edição (pelo anterior regulamento apenas eram afastadas as duas últimas) ficam fora do lote das concorrentes deste ano. Pelo sorteio realizado com Belém, a Marcha do Alto do Pina foi afastada.
Ao PÚBLICO, Marco Campos apenas disse que o Ginásio do Alto do Pina “vai contestar a decisão”, defendendo que as novas regras só deveriam entrar “em vigor para o sorteio de 2019”, visto que “a EGEAC alterou o regulamento no decorrer da edição de 2017, sem a aprovação das marchas, contrariando o que sempre foi costume até então”.
Desde então, várias colectividades da capital têm manifestado publicamente solidariedade com o GAP, nomeadamente, a direcção do Sporting Clube da Penha.
“É um erro que a EGEAC vai ter de reparar”, rematou Marco Campos. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, obter mais esclarecimentos junto da EGEAC.