Oito mulheres acusam o jornalista e apresentador Charlie Rose de assédio sexual

As mulheres relataram ao Washington Post conversas telefónicas obscenas, nudez e apalpões. Rose pede desculpa mas diz que algumas das alegações não são totalmente correctas. PBS deixa cair programa que está no ar desde 1991.

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Charlie Rose, de 75 anos, é também um dos correspondentes do programa da CBS 60 Minutos Lucas Jackson/Reuters

A onda de acusações de assédio sexual contra figuras públicas não pára. Agora, oito mulheres acusam Charlie Rose, um dos mais conceituados entrevistadores e jornalistas norte-americanos, de avanços sexuais como conversas telefónicas obscenas, andar nu à frente delas ou apalpões. Rose já pediu desculpa pelo seu comportamento no passado, mas ressalva que algumas das acusações não são totalmente verdadeiras.

Os relatos foram obtidos pelo Washington Post, sendo que cinco das oito mulheres identificaram-se e as outras três falaram sob anonimato, receando a influência na indústria de Rose.

Pouco tempo depois de a notícia ter sido publicada, a CBS anunciou que vai suspender Charlie Rose e a PBS vai interromper a distribuição do seu programa (produzido pela empresa de Rose e distribuído pela estação pública americana e pela Bloomberg), dá conta a Associated Press. Todas estas mulheres trabalhavam para Rose, ou aspiravam a trabalhar, durante o período em que foi transmitido o programa Charlie Rose. Os episódios relatados terão acontecido desde o final dos anos 1990 até 2011, sendo que as idades das mulheres na altura do sucedido variavam entre os 21 e os 37 anos.

Com uma longa carreira, Charlie Rose, agora com 75 anos, apresentava o programa com o seu nome que era transmitido pela PBS desde 1991, co-apresenta o programa da CBS This Morning e é correspondente do programa de investigação jornalística 60 Minutos. O seu nome é sinónimo de "entrevista", há décadas respeitado e premiado pelas suas conversas com estrelas ou políticos - recebeu Emmys pelas suas entrevistas com o homicida Charles Manson, por exemplo, ou com o Presidente sírio Bashar al-Assad, além de ser detentor de um prémio Peabody e da Legião de Honra francesa.

Uma das mulheres que denuncia agora Rose é Reah Bravo, que foi estagiária no programa da PBS e depois, em 2007, começou a trabalhar na equipa de produção. Acusa o apresentador de avanços sexuais indesejados em casa deste em Nova Iorque, em viagens de carro, num quarto de hotel e num avião privado. “Ele era um predador sexual”, acusa Bravo.

Kyle Godfrey-Ryan era assistente do apresentador quando tinha 21 anos, trabalhando numa das suas casas, e relata que Rose andou à sua frente completamente nu dezenas de vezes. Além disso, sugeriu à jovem assistente que nadasse nua na sua piscina. Godfrey-Ryan diz ainda ao Post que Rose descobriu que ela tinha confidenciado este comportamento a um amigo em comum e que foi despedida nessa altura.

Megan Creydt foi coordenadora do programa da PBS entre 2005 e 2006, e acusa o apresentador de pôr a mão na sua coxa durante uma viagem de carro.

O Washintgon Post acrescenta que falou com dezenas de pessoas que trabalharam com Charlie Rose. Destas, seis garantem ter assistido a comportamentos que consideram ser assédio sexual, oito dizem que se sentiam desconfortáveis com a forma como o jornalista abordava as funcionárias do sexo feminino e outras dez garantem que nunca viram ou ouviram nada que causasse alarme.

Uma das mulheres ouvidas pelo jornal norte-americano que não quis ser identificada, que tem cerca de 30 anos, relata que, em 2010, se dirigiu a uma casa do apresentador para discutir uma oferta de trabalho e que este apareceu vestido apenas com um roupão e que tentou pôr a mão dentro das suas calças.  

Outra conta que, numa altura em que era estagiária, nos anos 1990, estava a trabalhar num apartamento de Rose quando este foi tomar banho, deixou a porta da casa de banho aberta e chamou repetidamente por si. Depois, alguns colegas disseram que este comportamento não passava de uma espécie de praxe. Outra diz que o jornalista e apresentador lhe apalpou as mamas numa viagem de carro.

“Nos meus 45 anos de jornalismo, orgulhei-me por defender as carreiras das mulheres com quem trabalhei”, disse Rose num comunicado enviado ao Washington Post, desculpando-se “profundamente pelo comportamento inapropriado”. Admitindo que está “envergonhado” com estas acusações, Rose diz que se “comportou de forma insensível em tempos” e aceita “as responsabilidades por isso”. No entanto, diz que “não acredita que todas estas alegações sejam correctas”.

Entretanto, segunda-feira, o New York Times suspendeu "um dos seus jornalistas mais proeminentes", como o próprio jornal descreve, após denúncias de quatro jornalistas publicadas pelo site Vox. Glenn Thrush era jornalista do Politico até Janeiro, quando foi contratado pelo jornal nova-iorquino para cobrir a administração Trump. Beijos e toques indesejados são o cerne das acusações, com Thrush a pedir "desculpas a qualquer mulher que se tenha sentido desconfortável" na sua presença. "E por qualquer situação em que me tenha comportado de forma inapropriada. Qualquer comportamento que faça uma mulher sentir-se desrespeitada ou desconfortável é inaceitável".

O jornal, que publicou a primeira investigação sobre o produtor Harvey Weinstein e outras desde então sobre assédio e violência sexual no contexto laboral, está a investigar as acusações sobre o jornalista que se tornara tão célebre nos últimos meses que tinha até direito a ser encarnado no programa de sketches Saturday Night Live. com J.A.C.

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