Negociações para nova coligação de Merkel colapsam
Imigração e ambiente inviabilizam acordo com Verdes e liberais. Merkel poderá ter de formar governo minoritário.
As negociações para tentar formar uma nova coligação governamental na Alemanha – a chamada coligação Jamaica, nunca antes tentada no país – falharam neste domingo, depois de os partidos envolvidos terem falhado o prazo para chegar a um consenso sobre assuntos como a imigração e as políticas de energia. Os liberais do FDP atiraram a toalha ao tapete. Angela Merkel vê-se assim perante a possibilidade de ter de formar um governo minoritário. Esta segunda-feira é o “dia de reflexão” para a chanceler.
No domingo o líder do FDP, Christian Lindner, anunciou que o seu partido se retirava das negociações, alegando diferenças irreconciliáveis com os dois partidos com quem tentava chegar a um acordo prévio que permitisse formar governo. "É melhor não governar do que governar o caminho errado”, disse.
Merkel procurava até aqui formar uma coligação entre a sua CDU-CSU, os Verdes e o FDP, o que seria uma situação inédita no governo federal. A chanceler, que já lamentou o fracasso das negociações, garantiu que tudo fará para que o país seja bem governado nas “difíceis semanas que se avizinham".
“Este é um dia de profunda reflexão sobre como ir em frente na Alemanha. Como chanceler tudo farei para garantir que este país é bem governado nas difíceis semanas que se avizinham”, disse Angela Merkel aos jornalistas, citada pela Reuters.
Ao longo de um mês de conversações, a saída do FDP é “inesperada”, clarificam as agências internacionais. A Reuters fala na possibilidade desta crise política levar a novas eleições na maioria economia europeia. A outra hipótese é a de Merkel formar um governo minoritário. Ambas as soluções são inéditas na Alemanha do pós-II Guerra Mundial e podem significar o fim dos 12 anos de estabilidade política, a bandeira dos governos de Merkel.
A chanceler assumirá o cargo como interina e já disse que ia consultar o presidente Frank-Walter Steinmeier sobre o que fazer daqui em diante.
A incerteza no país já teve repercussões no euro. Nesta segunda-feira, segundo a Reuters, a moeda deslizou no mercado asiático, tendo atingido o valor mais baixo em dois meses em relação ao iene japonês (caiu 0,6%).
E as ondas de choque da instabilidade política na Alemanha podem afectar quase tudo, antecipa a Bloomberg: desde a política para a União Europeia, a Turquia e a Rússia até aos gastos do governo e cortes nas emissões de carbono. Merkel já deixou claro que a política alemã da área do euro está em suspenso até que haja um novo Governo.
Impasse na imigração
Merkel foi sobretudo uma espectadora neste processo negocial, tendo os representantes dos Verdes e do FDP assumindo o debate em torno de causas fracturantes como as políticas de imigração. Fortemente pressionada pela recente vaga de refugiados, a Alemanha acolheu mais de um milhão de pessoas entre 2015 e 2016. A oposição de parte do eleitorado à entrada de refugiados e imigrantes, de resto, fez com que o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha chegasse ao Bundestag nas últimas legislativas.
CDU, CSU e FDP defendem a criação de um limite anual para o número de requerentes de asilo que a Alemanha aceita. A medida era até agora rejeitada pelos Verdes, mas este fim-de-semana os ecologistas declararam estar abertos a um limite de 200 mil pessoas por ano, mas sem fechar a porta ao direito de reunião familiar.
Os Verdes encontram-se afastados do FDP também no ambiente e na energia, defendendo uma redução drástica da electricidade produzida a partir do carvão. As despesas governamentais, as reduções de impostos e a política climática são outros pontos de cisão.
Há outra peça neste puzzle. Os sociais-democratas de centro-esquerda, SPD, que parceiros de Merkel no último Governo, têm recusado uma nova aliança com os conservadores. Mas o deputado da CDU Jens Spahn já disse que não pensa em novas eleições e falou na possibilidade de repetir o acordo com o SPD. "Alguns ministros do SPD deixaram claro que querem governar", disse Spahn à televisão N-tv, cita a Reuters.
Certo é que nenhuma das partes quer voltar a eleições, com medo que isso signifique um crescimento da popularidade do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha, que já é o terceiro maior partido no parlamento alemão.