“G40”, a “guarda de honra” de Grace Mugabe
Militares anunciaram que o seu alvo não era o Presidente, mas os “criminosos” que actuavam em redor de Mugabe. Vários são ministros e terão sido detidos.
A proclamação do Exército não os identificou, mas muitos zimbabweanos não terão dúvidas sobre quem são os “criminosos” em redor do Presidente que os militares tomaram como alvo. Trata-se da facção da ZANU-PF leal a Grace Mugabe, a polémica e ambiciosa mulher do chefe de Estado, um grupo composto por políticos mais jovens – o que lhe valeu o nome de “Geração 40” ou “G40” –, envolvidos há meses numa luta pelo poder com o ex-vice-presidente, Emmerson Mnangagwa.
A guerra em surdina tornou-se conflito aberto há semanas. Depois de apoiantes de Mnangagwa terem chamado “ladra” à primeira-dama, o “G40” liderou uma ofensiva que culminou com a demissão e posterior exílio de Mnangagwa e a purga de vários aliados. Mas a ambição parece ter-se sobreposto à prudência, já que, apesar da influência conseguida nos últimos anos, esta facção tem menos apoios entre os postos-chave do Estado, incluindo no aparelho de segurança, escreveu no The Washington Post a investigadora britânica Clionadh Raleigh, da Universidade de Sussex. O jornal francês Le Monde notava, no entanto, que o “G40” conta também com apoiantes nas forças de segurança e nas províncias, pelo que não é claro que se dê por derrotado.
Horas depois da entrada dos militares em Harare, não era certo o paradeiro de vários deles. Quem são, afinal, os principais nomes desta “guarda de honra” de Grace Mugabe?
Johnathan Moyo – Ministro do Ensino Superior, ex-ministro da Informação e propagandista de reputação duvidosa, é considerado o cérebro e porta-voz do grupo, usando o Twitter para comentários sarcásticos sobre os seus adversários. A sua conta nesta rede social permanecia esta quarta-feira em silêncio e era dado como detido por várias fontes em Harare.
Saviour Kasukuwere – Ministro da Administração Local, é um antigo líder da juventude da ZANU-PF, conhecido pela alcunha de “Tyson”, e foi o responsável pelas tentativas de Mugabe para forçar os investidores estrangeiros a entregar percentagens das suas empresas a figuras próximas do regime. Também é dado como detido.
Ignatius Chombo – Antigo professor universitário e amigo de Mugabe, foi promovido na última remodelação governamental, em Outubro. Transitou do Ministério do Interior para o das Finanças numa altura em que o país se abeirava do colapso financeiro. A Reuters garante que foi preso pelos militares e a edição online do jornal sul-africano Times revelou fotografias da sua casa com paredes crivadas de balas.
Kudzai Chipanga – Actual líder da juventude do partido no poder, tornou-se próximo de Mugabe e de Grace e foi responsável pela organização de comícios que a primeira-dama usou para atacar Mnangagwa e o seus aliados. Na véspera do golpe, desafiou os militares, insistindo que eles não tinham qualquer poder sobre a política nacional.
Augustine Chichuri – Comissário-geral da Polícia, é acusado por grupos de direitos humanos de liderar no último ano e meio uma violenta campanha de repressão contra os dissidentes e a oposição.