A luta dos professores é uma bela oportunidade
Foi ele, o ministro, que abdicou de ter um papel nesta negociação, empurrando a decisão para o Ministério das Finanças, como se Centeno fosse o ministro disto tudo (e ele, Tiago Brandão Rodrigues, o ministro disto nada).
Os professores vão hoje para as ruas com uma reivindicação que parece justa: se o Governo está a descongelar carreiras e a repor os direitos suspensos nos últimos oito/nove anos à administração pública, por que razão ficariam eles sem iguais direitos?
A resposta do Governo também parece ter razão de ser: não só não há dinheiro no Orçamento para dar aos professores as progressões congeladas como eles são a maior parte de uma minoria dos trabalhadores do Estado que não tem um sistema de avaliação devidamente actualizado.
A verdade é que sabemos como isso aconteceu. Ainda na década passada, uma ministra socialista ousou criar um novo sistema de avaliação dos professores. Mas Maria de Lurdes Rodrigues acabou substituída numa segunda legislatura, incapaz de resistir à maior manifestação de sempre de um sector. Há menos tempo, um outro ministro aproveitou as vacas magras e quis impor a alguns dos que ensinam o mesmo que se pede sempre aos alunos: um teste de avaliação, que acabou boicotado por muitos.
Podíamos dizer que os professores são os primeiros culpados da injustiça de que hoje se queixam, mas a conclusão seria redutora. Nos dois momentos em que se tentou impor um novo sistema de avaliação, não foi só a classe que venceu — foi também o sistema político que claudicou. E o que ficou na lei, assumido pelo Estado, não pode servir, sem mais, para justificar uma não negociação.
Entre todos, este Governo tem menos argumentos para fechar a porta aos professores. Foi também ele — em particular este ministro — que abdicou durante dois anos de discutir com a Fenprof e a FNE um novo sistema de avaliação, sentando-se apenas para anunciar a simpática estratégia das reversões. Foi ele, o ministro, que abdicou de ter um papel nesta negociação, empurrando a decisão para o Ministério das Finanças, como se Centeno fosse o ministro disto tudo (e ele, Tiago Brandão Rodrigues, o ministro disto nada).
Na verdade, neste jogo do empurra e da pressão, todos partem da mesma base zero. Mesmo PCP e Bloco, que agora reclamam uma solução, nunca condicionaram a aprovação do Orçamento de 2018 a esta matéria.
A parte boa disto tudo é que, se todos partem sem grande moral para esta luta, todos têm também a mesma obrigação. Que se sentem e negoceiem tudo: uma avaliação como tem uma parte significativa da administração pública, um método para dar aos professores o que os outros também vão ter. Ao menos assim fazia-se uma reforma que ficasse. Para variar, sabia bem.