“Há muitos médicos que não aceitam trabalhar para a ADSE”

A ADSE paga apenas 18 euros por uma consulta de especialidade, diz o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, Óscar Gaspar.

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Nelson Garrido

Há muitos funcionários públicos que se têm queixado de que os hospitais privados os discriminam, demorando mais tempo a marcar consultas e exames.
A convenção com ADSE é voluntária. Há muitos médicos que não aceitam trabalhar para a ADSE. É um problema para o qual já chamámos a atenção [a este subsistema]: há algumas especialidades em que não é fácil ter médicos a trabalhar para ADSE, que paga cerca de 18 euros por uma consulta de especialidade. Na psiquiatria, dermatologia, pediatria, há médicos com os consultórios de tal forma cheios que entendem que não se justifica ter convenção com a ADSE.

Olhando para os vossos números, de investimento e volume de negócios, pode dizer-se que o negócio da saúde privada vai de vento em popa.
Os privados têm demonstrado que são eficientes. O ex-director-geral da Saúde, Francisco George [que vai presidir à Cruz Vermelha Portuguesa], fez o favor de dar uma entrevista à nossa newsletter em que diz que não lhe custa admitir que a tendência seja haver um equilíbrio entre público e privado.

O problema é que os portugueses estão a gastar cada vez mais dinheiro do seu bolso com as despesas de saúde, já chega a 28% do total.
Os especialistas dizem que o pagamento das famílias está no limite. É preciso ver se o sistema deve ser financiado de outra forma e nós entendemos que deve. Agora, não entendo algumas críticas. Tenho até uma perplexidade em relação às críticas às PPP [há quatro hospitais públicos geridos neste regime]: o que dizem todos os estudos é que não só cumprem os contratos, em termos financeiros e de qualidade assistencial, como vão para além do contratado. São um bom negócio para o Estado.

Não é bem assim. O estudo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) conclui que os resultados são semelhantes. E os outros estudos também destacam falhas nas PPP. Por exemplo, o Hospital de Cascais não tem oncologia, não tem psiquiatria.
O estudo da ERS não é sobre a parte financeira mas sobre a prestação e o que diz é que não se prova que seja melhor. Mas basta perguntar às pessoas de Braga se preferiam ter o velhinho hospital de S. Marcos. Os relatórios mais completos são os da Unidade Técnica de Acompanhamento (Finanças e Saúde) e o que dizem é que há um cumprimento escrupuloso dos contratos e há a criação do chamado value for money, cada um poupou 20 ou 30 milhões por ano ao Estado. O Hospital de de Cascais não tem psiquiatria, mas estava no contrato que tivesse? A culpa de não ter é do Estado que fez o contrato. 

O futuro hospital de Lisboa Oriental vai ser construído mas não gerido em PPP.  Se a gestão privada é assim tão boa porquê que isto aconteceu? Foi um Governo do seu partido (PS) que tomou esta decisão.
As PPP foram lançadas pelo PS no tempo do professor Correia de Campos. Tendo em conta os estudos, seria poupador para o Estado entregar também a gestão hospital de Lisboa Oriental a privados. De resto, penso que as pessoas devem ter a  possibilidade de optar. Se um doente em Mirandela tem um problema oftalmológico porque é que há-de ter que vir ao hospital de S. João (Porto) quando tem um hospital privado ao pé de casa? E por que é que as pessoas estão a ir cada vez mais aos privados? Por causa do acesso e do conforto. Toda a literatura diz que a parte hoteleira é importante. Aliás, os hospitais privados são os únicos que são sujeitos a licenciamento em Portugal.

Quantos médicos trabalham nos hospitais privados?
Não lhe sei dizer, não tenho esse número. Na maior parte dos casos, os médicos trabalham nos hospitais públicos e privados, mas cada vez há mais médicos a trabalhar em exclusividade nos privados.

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