As quatro pedras no caminho global da Altice

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daniel rocha

A saída de Michel Combes dos comandos do grupo dono da PT foi interpretada pelos analistas e observadores como o culminar de uma cadeia de más notícias que começou na semana passada com a apresentação de resultados abaixo das expectativas. No dia 2 de Novembro as contas da Altice mostraram uma fragilidade operacional que, conjugada com o risco financeiro sempre presente, levaram os investidores a fugirem das acções. Numa semana, o valor da empresa em bolsa encolheu 30%, acelerando uma tendência que vem desde meados de 2015, quando os títulos valiam três vezes mais do que valem hoje. Na cabeça dos investidores estão quatro ameaças cujo desfecho irá determinar o futuro de curto prazo da estratégia desenhada por Patrick Drahi.

Concorrência em França

A operação francesa – centrada na operadora SFR – é o coração da Altice, representando 43% dos resultados operacionais do grupo. E foi a fragilidade deste negócio que levou Drahi a alertar os investidores na semana passada que os resultados anuais ficariam na parte baixa do intervalo definido como meta para 2017. O demissionário Combes foi contratado há dois anos para dar um novo fôlego à SFR, na batalha contra a líder Orange e a “low cost” Iliad. Depois de realizar um profundo corte de custos, que levou à saída de 5000 trabalhadores, Combes arriscou em investimentos milionários nos conteúdos e prometeu cobrir toda a França de fibra em 2025. No terceiro trimestre, a SFR prolongou a lenta hemorragia de clientes, com uma perda de 75 mil subscritores na fibra.

Dívida Elevada

É o grande elefante na sala de máquinas da Altice. 50 mil milhões de euros. Aliás, o alerta sobre os resultados de 2017 não se fez sentir apenas nas acções. O custo da dívida disparou nos mercados internacionais, apesar da sofisticada operação de refinanciamento da Altice, que lhe permitiu já proteger-se de eventuais turbulências no mercado. Nos últimos 18 meses, a empresa já refinanciou 36 mil milhões de euros, o que significa que 44% da dívida total só vence em 2023, dando um balão de oxigénio para a operadora alcançar níveis mais altos de rentabilidade. Para além disso, 85% do gigantesco bolo de dívida é taxa fixa, o que dá estabilidade à gestão. Ainda assim, o endividamento é cinco vezes mais alto que a capacidade da Altice gerar lucros todos os anos.

Investimentos caros

É uma das traves mestras da estratégia de risco de Patrick Drahi. Comprar telecomunicações  e investir em conteúdos para, a prazo, gerar resultados suficientes que comecem a pagar o endividamento assumido para expandir as operações. Por um lado, os valores pagos pelas empresas – como os 7 mil milhões da Portugal Telecom ou os 440 milhões oferecidos agora pela Media Capital – aumentam a pressão para obter resultados. Por outro, o recuo das receitas – menos 3% na Meo até Setembro, por exemplo – tornam mais difícil convencer os investidores de que o caminho definido está a ser bem executado. Nos conteúdos, destaca-se a aposta no futebol – 350 milhões de euros anuais pelos direitos da Liga dos Campeões em França ou os 460 milhões de euros por 10 anos dos jogos do FC Porto. Tudo suportado no mercado de dívida e em plena guerra para levar fibra mais longe que todos os seus rivais, em França, Portugal e Estados Unidos.

Revolução nos Estados Unidos

Os resultados operacionais no mercado norte-americano foram a boa notícia das contas, com ligeiras melhorias no negócio nas várias empresas que a Altice controla em Nova Iorque ou no Texas. Mas a ameaça neste mercado vem de outras paragens. Por um lado, o sector está em profunda mudança, com forte concorrência na consolidação vertical, isto é, com as operadoras a lutarem por conteúdos e a enfrentarem alguma resistência política (a AT&T voltou a ter de adiar a integração da gigante Time Warner por um alegado veto da Casa Branca). Por outro, os consumidores americanos estão a cortar o cabo e a consumir conteúdos directamente na internet, em pleno advento de serviços de streaming como o Netflix ou a Amazon, com alguns estudos a indicarem que os adultos que consomem televisão paga irão descer 10% até 2021. 

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