Quem são Manafort e Gates e o que os liga a Trump?
Paul Manafort e Rick Gates são dois dos três primeiros nomes alvo de acusações formais no âmbito da investigação às suspeitas de interferência russa nas eleições norte-americanas de 2016.
Quem são Paul Manafort e Rick Gates?
Paul Manafort, um empresário e um operacional de longa data do Partido Republicano, entregou-se ao FBI, nesta segunda-feira, após serem conhecidas as primeiras acusações no âmbito da investigação às suspeitas de interferência russa na campanha presidencial norte-americana de 2016. O ex-director da campanha do Presidente norte-americano Manafort e o antigo subdirector da campanha, Rick Gate, são acusados de 12 crimes, incluindo de “conspiração contra os Estados Unidos”, lavagem de dinheiro, ausência de registo enquanto agentes ao serviço de entidades estrangeiras, omissão ou falsificação de declarações às autoridades e ocultação de contas bancárias no estrangeiro.
Os advogados de Gates e de Manafort não teceram, até ao momento, qualquer comentário sobre o teor da acusação. O Kremlin nega qualquer interferência na campanha eleitoral do ano passado com o intuito de favorecer Trump e este, por sua vez, nega qualquer conluio com Moscovo.
Quem é Paul Manafort?
Manafort é um operacional republicano de longa data que trabalhou como lobista, em Washington e como consultor político noutros países. Entre os seus antigos clientes estiveram, ao longo dos anos, líderes como Ferdinand Marcos, das Filipinas, e diversos empresários e dirigentes políticos na Rússia e na Ucrânia. Manafort foi director da campanha presidencial de Donald Trump durante o Verão de 2016.
Quais as acusações de que Manafort e Gates são alvo?
O processo contra Manafort e Gates indica que ambos terão obtido mais-valias de dezenas de milhões de dólares por serviços prestados na Ucrânia, e que as verbas foram branqueadas através de dezenas de entidades norte-americanas e estrangeiras, de modo a iludir as autoridades dos EUA, entre 2006 e, pelo menos, 2017.
Em Junho, Manafort e Gates registaram-se, a título retroactivo, como agentes estrangeiros junto do Departamento de Justiça, declarando que auferiram 17 milhões por serviços de lóbi em nome do Partido das Regiões, um partido ucraniano pró-russo, entre 2012 e 2014. O processo cujos detalhes são agora públicos indica que ambos ocultaram o seu trabalho e os respectivos rendimentos a favor do partido ucraniano pró-russo. Terão utilizado o dinheiro para levar um “estilo de vida opulento” sem pagar impostos sobre os rendimentos, argumentam os procuradores. No processo lê-se que mais de 75 milhões de dólares foram movimentados através de contas de Manafort e Gates. Manafort terá branqueado mais de 18 milhões de dólares.
Os procuradores alegam que Manafort e Gates, em conluio com outros indivíduos, conspiraram para defraudar os Estados Unidos através de “impedimento, prejuízo, obstrução e bloqueio das funções governamentais legítimas” do Departamento de Justiça e do Departamento do Tesouro entre 2006 e 2017.
Quais são as ligações de Manafort a Trump?
Manafort juntou-se à campanha presidencial de Trump em Março de 2016 e tornou-se mais tarde director de campanha, mas foi forçado a demitir-se em Agosto quando começaram a surgir questões sobre o seu trabalho para o partido político do antigo Presidente ucraniano, apoiado pelo Kremlin, Victor Ianukovitch.
O site Business Insider afirma que Manafort e Trump relacionam-se desde os anos 80, quando Trump contratou a empresa de Manafort para fazer lóbi pela Organização Trump (o conjunto das empresas detidas pela família do agora Presidente dos EUA).
Segundo a mesma publicação, Manafort e a mulher compraram em 2006 um apartamento na Torre Trump em Nova Iorque, que ainda é detido por Manafort e onde este vive quando está em Manhattan.
Como é que as acusações se relacionam com Trump?
“Não têm nada a ver com a campanha ou com as alegações de conluio com a Rússia”, disse John Dowd, advogado de Washington que representa Donald Trump na investigação sobre a interferência russa.
Uma fonte próxima de Trump disse: “Em relação à ligação com Trump, não há nada. Todos 12 crimes da acusação revelada hoje são anteriores à contratação para a campanha”.
A acusação indica que Manafort e Gates lavaram dinheiro através de “muitas empresas dos Estados Unidos e de outros países, associações e contas bancárias” desde por volta de 2006 até “pelo menos 2016”.
Quem é Rick Gates?
Rick Gates era um representante de Manafort e um parceiro de negócios. De acordo com dois antigos altos quadros de Trump, Gates foi gestor da campanha de Trump por mais de dois meses, tempo durante o qual não terá sido remunerado.
O jornal norte-americano New York Times noticiou em Junho que foi ordenado à equipa de transição de Donald Trump que preservasse toda a documentação relacionada com as investigações à suposta intervenção russa nas eleições de 2016. De acordo com o New York Times, a missiva dos investigadores para a antiga equipa de transição solicitava informações específicas sobre cinco pessoas, incluindo Manafort e Gates.
De acordo com a acusação, entre pelo menos 2006 e 2015, Manafort e Gates agiram como agentes não registados do governo ucraniano, do partido político ucraniano que era liderado pelo então presidente da Ucrânia Victor Ianukovitch e do próprio Ianukovitch. A acusação diz que ambos geraram dezenas de milhões de dólares como resultado do seu trabalho para a Ucrânia. Ianukovitch encontra-se exilado na Rússia desde que foi expulso da Ucrânia na sequência da revolta popular de 2014. A sua saída acendeu o rastilho para a anexação da Crimeia por parte da Rússia e para uma insurreição separatista no Leste da Ucrânia, onde a maioria da população fala russo.
A acusação indica que Gates ajudou Manafort na obtenção de dinheiro de uma conta offshore e que Gates usou dinheiro para pagar despesas pessoais incluindo “a sua hipoteca, as propinas dos filhos e a decoração de uma casa na Virgínia”.
Qual é a importância da detenção de Gates?
A acusação mostra que o envolvimento de Gates com Manafort se prolonga ao longo de vários anos. Isto poderá abrir a própria a um depoimento de Gates contra Manafort e outros no futuro. David Sklansky, um professor na Faculdade de Direito de Stanford e um antigo procurador federal, afirma que Gates pode sentir-se pressionado a cooperar e a testemunhar contra Trump.