"O meu nome é Pedro Santana Lopes e assumo tudo o que fiz"
Antigo primeiro-ministro disse querer um “PSD cada vez mais PPD” ao apresentar candidatura em Santarém.
O antigo primeiro-ministro Pedro Santana Lopes lançou diversas críticas a Rui Rio, o seu adversário na corrida à liderança do PSD, e a apoiantes seus, ao lembrar que sempre respondeu aos desafios do partido – mesmo quando eram missões “espinhosas” – e que não andou a “patrocinar outros movimentos" contra o próprio partido nem a faltar a congressos para "não ofuscar".
Na apresentação da candidatura à liderança do partido, esta tarde em Santarém, Santana Lopes disse querer um “PSD cada vez mais PPD”, “cada vez mais popular” e que quer sempre ser o “partido das bases”. O candidato assumiu todo o seu percurso político: “O meu nome é Pedro Santana Lopes assumo tudo o que fiz até hoje como tudo na vida, os melhores e piores momentos.” E desafiou Rui Rio a fazer debates nas distritais do partido.
Perante uma sala do pavilhão de exposições com perto de mil militantes – segundo dados da candidatura – Santana Lopes começou por responder à maior crítica que os apoiantes da candidatura adversária lhe fazem: a de ter disputado legislativas com José Sócrates em 2005 e de, nessa altura, ter permitido ao PS ganhar com maioria absoluta.
“Aprendi em 2004 e 2005 que a legitimidade do voto não se herda, conquista-se”, afirmou, acrescentando que não vai “comparar as causas da dissolução do Parlamento dessa altura” nem comparar “os governos que se seguiram nem os que ‘estão à espera de julgamento’, numa clara referência a Sócrates.
O antigo primeiro-ministro não poupou nos ataques a Rui Rio ao acusar o antigo autarca do Porto não só de “patrocinar outros movimentos” contra o PSD – numa alusão ao apoio a Rui Moreira contra Luís Filipe Menezes, em 2013 – e de ir ouvir os “elogios” de Vasco Lourenço na Associação 25 de Abril “quando Portugal se tentava salvar da bancarrota –, como também de faltar a congressos para “não ofuscar” lideranças, como argumentou Rio para não comparecer na reunião magna de 2016.
Assumindo que defendeu Pedro Passos Coelho “quando ninguém o fazia”, Santana Lopes voltou à carga contra José Pacheco Pereira: “Nunca fui para a Aula Magna fazer sessões com o Bloco de Esquerda”. António Capucho, ex-militante que agora admite regressar ao partido, também não escapou. “Nunca fui para a Fundação Mário Soares – que respeito – como um ex-companheiro de partido que admite regressar – quando estávamos a conseguir chegar à ‘saída limpa’, em 2013, dizer que ‘a democracia está mais difícil, estamos a caminho de uma ditadura corporativa’, fazendo coro com os adversários do meu partido. Nunca o fiz”, afirmou, pedindo várias vezes “clarificação”.
Assumindo que quer construir uma alternativa à actual “frente esquerda” (não gosta da palavra “geringonça”), Pedro Santana Lopes propõe-se dar prioridade à área social – “não compreendo que haja um candidato que não fale nisto” – referindo o combate à desertificação, os “mais idosos” e “cuidados paliativos”.
Do seu programa – que será elaborado por figuras como a actual vice-presidente do PSD Teresa Morais – Santana Lopes salientou a necessidade de ligar o partido às universidades, e de dar destaque – através de “líderes por cada área” – ao “ambiente”, “cultura”, “descentralização” “finanças” e “património”. Aos 61 anos, o candidato quer ser “esse porta-voz das novas gerações, dos novos talentos, dos quadros”.
O antigo primeiro-ministro referiu-se ainda ao Presidente da República para dizer que o partido “deve sentir orgulho” em Marcelo, apesar de nem sempre se poder “compreender” as suas atitudes ou de “às vezes” se gostar de ver o Presidente “mais distante do Governo em funções”. Mas lembrou os dias mais recentes do relacionamento entre os dois: “Os Presidentes não devem ser oposição aos governos, mas podem e devem ser a voz da consciência nacional, como foi agora o caso”.
Assumindo que sempre foi contra o Bloco Central – “não é agora que sou candidato” – Santana Lopes reconheceu, no entanto, um ponto em comum com Rui Rio. “Eu defendo pactos de regime, como o outro candidato. Não sei se serão as matérias. Mas pacto é pacto, é um ponto intermédio”, afirmou, num discurso de perto de uma hora, tempo que o candidato prometeu não repetir noutras intervenções públicas.
Por duas vezes, o social-democrata que já foi quase tudo no partido – assessor de Sá Carneiro, dirigente distrital, autarca, primeiro-ministro e secretário de Estado – quis apresentar-se como se tivesse acabado de chegar: "O meu nome é Pedro Santana Lopes e assumo tudo o que fiz, nos piores e nos melhores momentos". E até deu um toque sobre a sua vida privada: "Pai de cinco filhos, avô de quatro netos. Divorciado, mas bem na sua vida pessoal".
Nas primeiras filas estavam sentados líderes de distritais – como a do Porto – e de concelhias, autarcas, vice-presidentes da bancada parlamentar, e Conceição Monteiro, a secretária de Francisco Sá Carneiro.