#PinhaldoPovo congrega esforços para replantar Leiria
Especialista alerta para perigos do excesso de voluntarismo por parte de quem não domina o património florestal.
Contra a apatia e a falta de reacção, a necessidade de recuperar o pinhal de Leiria destruído pelo fogo está na base da criação de vários grupos de cidadãos, que foram sendo mobilizados através das redes sociais. Estão dispostos a tomar nas suas mãos a replantação de árvores nalgumas das áreas que foram reduzidas a cinzas.
Na sequência das críticas ao excessivo voluntarismo destas iniciativas, por parte de quem não domina o património florestal, um destes grupos denominado #PinhaldoPovo divulgou, ao final da manhã desta quarta-feira, via Facebook, um comunicado a esclarecer que a vontade de reerguer o Pinhal de Leiria não se concretizará sem “congregar e articular sinergias” e sem estabelecer os contactos tidos como necessários “com técnicos, instituições, organizações e autoridades locais” capazes de assegurar o devido aconselhamento quanto à melhor forma de concretizar o propósito.
“Estamos conscientes de que o objectivo que abraçamos exige tempo e ponderação em igual medida de acção e determinação. Por esse motivo (…) optamos por prosseguir com a prudência que é exigida, dedicando ao diálogo e à análise construtiva o tempo que for necessário, por forma a não esvaziar o projecto em acções desadequadas à realidade”, escreve Diogo Carvalho Alves, um dos promotores do movimento.
“Estas iniciativas voluntaristas têm o seu lado simpático mas depois podem ter consequências menos simpáticas”, alerta Joaquim Sande Silva, professor na Escola Superior Agrária de Coimbra, argumentando que a regeneração de um pinhal é um trabalho que cabe a técnicos com formação florestal. Admitindo que o trabalho voluntário possa ser útil em operações simples de plantação, o especialista lembra ainda que muitas vezes a regeneração da floresta “não se resolve com replantações, mas com o saber aproveitar a regeneração natural”.
“Sendo o pinhal de Leiria um pinhal adulto, com alguma capacidade de auto-regeneração, há que tirar partido desse potencial em vez de estarmos a arrasar tudo para plantar de novo”, acrescenta Joaquim Sande Silva, para acrescentar que estas operações “têm o seu timing, porque é necessário perceber como é que o sistema vai reagir depois do fogo, nomeadamente com a variante das plantas invasoras que podem comprometer todo o trabalho”. Em síntese, “voluntarismo sim, mas sempre sob supervisão”.