Direita teme uma “geringonça” regional na Madeira liderada por Cafôfo

Ricardo Vieira, antigo líder do CDS-Madeira e deputado regional durante mais três décadas, renunciou recentemente ao mandato. Na carta de renúncia, apela a uma aliança da direita, para evitar que a esquerda chegue ao poder.

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Paulo Cafôfo mantém boas relações com o líder do PS, António Costa Gregório Cunha

Uma “geringonça” à direita para combater uma união à esquerda. É sobre esta “urgência” que Ricardo Vieira, antigo líder do CDS-Madeira e histórico deputado regional, escreve na carta enviada ao presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, na qual renuncia ao mandato.

Vieira, que liderou os centristas madeirenses durante 12 anos, entre 1985 e 1997, abandonou o parlamento regional depois de 32 anos como deputado, com críticas para o interior da bancada — onde vê “cristalizarem-se comportamentos” — e desiludido com a produção legislativa “escassa” e de “qualidade duvidosa”.

Na hora da saída, o histórico centrista deixou avisos sobre os riscos que representa o crescimento da esquerda no arquipélago e, com as eleições regionais de 2019 no horizonte, defendeu que PSD e CDS devem liderar um movimento que refunde a autonomia regional e evite que a esquerda seja, pela primeira vez, governo na Madeira.

“Acredito que há uma vontade colectiva de agregação de contributos, especialmente de gente nova e competente, que pode gerar um amplo movimento de refundação da autonomia madeirense, no qual sejam convidados a juntar-se os movimentos e partidos que não desejem uma edição de uma ‘geringonça regional’”, escreveu Ricardo Vieira. Ao PÚBLICO, o advogado ressalva que essa união à direita não se pode esgotar num projecto de conquista do poder pelo poder.

“Só faz sentido se assentar na refundação da autonomia”, diz o antigo parlamentar centrista, referindo a defesa do Centro Internacional de Negócios da Madeira, o relacionamento financeiro com o Estado (“que assegure cobertura dos serviços de saúde e educacionais”), um novo quadro de investimento e o envolvimento da União Europeia num regime de acessibilidades que garanta a continuidade territorial  como desafios imediatos para o arquipélago. Temas, acrescenta, sobre os quais os partidos à esquerda não têm conseguido manter um discurso coerente. A zona franca, aponta Ricardo Vieira, é um exemplo claro. O Bloco de Esquerda e mesmo o PS assumem posições diferentes, algumas vezes “contrárias”, consoante a intervenção é feita em São Bento ou no parlamento madeirense.

“São desafios que vão exigir disponibilidades, persistência e muita coesão. Só serão possíveis num quadro de afirmação e de reivindicação da Madeira”, argumenta, insistindo que essa convergência à direita tem de começar a ser preparada desde já. “Envolveria a disponibilidade de muitos e em especial o reconhecimento de que são necessárias atitudes de humildade perante os percursos até agora percorridos, invertendo-os ou corrigindo-os.”

Esta urgência, a dois anos das regionais, explica-se pela leitura que Ricardo Vieira faz dos resultados das autárquicas na Região Autónoma da  Madeira, em que partidos de esquerda como o PS e o JPP e movimentos independentes dessa área política cresceram face às eleições anteriores. “Compreendo a simpatia das pessoas face a esta governação de esquerda. Têm mais dinheiro no bolso, mas esquecem que esta situação é possível, em parte, pela actuação do anterior Governo”, diz.

As últimas movimentações no interior do PS-Madeira vêm “sublinhar a actualidade” do apelo que Ricardo Vieira lança à direita. É que o surgimento, no final da semana passada, de uma candidatura concorrente à actual liderança dos socialistas madeirenses pode potenciar uma união à esquerda para as regionais. Emanuel Câmara, presidente do pequeno município do Porto Moniz, no norte da ilha, personaliza essa candidatura, mas garante que, se ganhar o partido ao actual líder, Carlos Pereira, não será ele o candidato à presidência do governo. Ninguém, mesmo os que apoiam Emanuel Câmara, pronuncia o nome de Paulo Cafôfo, o independente presidente do município do Funchal, eleito com o apoio de PS, Bloco e JPP, mas dentro do partido são cada vez mais os militantes que apoiam essa solução. Daí o medo de uma futura “geringonça”.

“O risco de termos uma maioria de esquerda na Madeira aumentou com este novo cenário dentro do PS-Madeira”, vaticina Ricardo Vieira, lembrando que o arquipélago é o único território nacional que não é governado pelos socialistas.

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