“Alerta máximo” para a chegada de mais refugiados rohingya ao Bangladesh
Cerca de 520 mil refugiados rohingya fugiram da Birmânia para o país vizinho Bangladesh, depois do início de confrontos em Agosto entre a minoria muçulmana e o exército. Do outro lado da fronteira do Bangladesh, foi iniciada uma campanha de vacinação contra a cólera para os que chegam.
Depois do pico registado em Agosto, o número de refugiados que tentam sair da Birmânia volta a subir: só na segunda-feira, atravessaram a fronteira do Bangladesh mais de 11 mil refugiados rohingya – uma minoria muçulmana perseguida há décadas na Birmânia e rejeitada pelos países fronteiriços –, segundo as autoridades que controlam as fronteiras do Bangladesh, citadas pelas Nações Unidas.
Ao todo, desde 25 de Agosto, os números de rohingya que fugiram da Birmânia ascendem a meio milhão. A fuga em massa começou na altura em que um grupo rebelde da minoria muçulmana atacou as instalações policiais e militares do estado birmanês de Rakhine – de onde são originários a maior parte dos que atravessam a fronteira. Em resposta, o exército do país reagiu com violência, que ainda hoje continua. Ultimamente, atravessavam a fronteira cerca de 2000 rohingya por dia, segundo algumas agências de ajuda aos refugiados, mas, no início desta semana, os números voltaram a aumentar.
“Estamos de volta a uma situação de alerta máximo”, disse o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Adrian Edwards, numa conferência de imprensa nesta terça-feira, na cidade suíça de Genebra, argumentando que “é um grande aumento” passarem a ver-se 11 mil refugiados por dia.
“Temos claramente que estar preparados para mais chegadas”, acrescentou ainda, referindo que alguns refugiados fogem das suas terras por causa da fome ou porque as suas casas estão a ser queimadas – e também para escaparem aos ferimentos e à morte. Mesmo vivendo há séculos no estado ocidental birmanês de Rakhine, os rohingya são considerados imigrantes do Bangladesh e não fazem parte da lista de 155 minorias étnicas reconhecidas oficialmente na Birmânia.
“Não sabemos o que está a motivar isto”, disse o porta-voz das Nações Unidas. “Algumas destas pessoas já fugiram das suas casas há vários dias e, em alguns casos, há duas semanas, e mudaram-se para perto da fronteira antes de a atravessarem”, explicou.
Entretanto, foi iniciada na região bangladeshiana de Cox’s Bazar, a cerca de 30 quilómetros da fronteira com a Birmânia, uma campanha para proteger os recém-chegados da cólera (que pode ser fatal), segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Numa primeira fase, serão distribuídas 900 mil vacinas orais e, posteriormente, serão prestados cuidados a 250 mil crianças com idades até aos cinco anos. O porta-voz Christian Lindmeier da OMS garante que a cólera representa um “risco claro” mas que não há, até ao momento, nenhum caso registado da infecção entre os rohingya.
Apesar da crescente condenação internacional à atitude do exército birmanês (a ONU, por exemplo, considerou que a violência era uma “limpeza étnica”), a acção militar está a ser bem recebida pela maioria budista do país, que nutre pouca simpatia pela minoria muçulmana. Porém, nesta terça-feira, o governo birmanês deu o primeiro passo para melhorar as relações entre as duas partes em confronto: a líder política Aung San Suu Kyi juntou num estádio em Rangun, a maior cidade da Birmânia, vários representantes religiosos (de budistas a muçulmanos, hindus ou cristãos) para falarem sobre a paz e a amizade.