Portugal destaca-se na melhoria de projecções do FMI
Fundo está mais optimista em relação à evolução da economia mundial, mas alerta para o risco de excesso de confiança.
Num cenário de retoma mais forte do que o esperado na maior parte da economia mundial, Portugal está entre os países da zona euro que mais surpreenderam o Fundo Monetário Internacional (FMI) pela positiva durante os últimos seis meses. Em Washington, contudo, continua-se a avisar governos e mercados, um pouco por todo o mundo, que correm o risco de, se houver um excesso de confiança, colocar em causa o bom desempenho agora conseguido.
As previsões de Outono do FMI publicadas esta terça-feira confirmam que a entidade liderada por Christine Largarde está agora mais optimista em relação à evolução da economia do que estava em Abril, quando apresentou um relatório idêntico ao de hoje, e do que estava em Julho, quando divulgou uma actualização para as maiores economias do planeta.
Agora, o Fundo prevê um crescimento da economia mundial de 3,6% este ano e de 3,7% em 2018, quando antes esperavam variações de 3,5% e 3,7%, respectivamente. No caso da zona euro, a revisão em alta foi mais significativa. Há seis meses, a previsão era de um crescimento de 1,7% este ano e de 1,6% no próximo ano, mas agora acredita-se que a economia da moeda única pode afinal crescer 2,1% em 2017 e 1,9% em 2018.
No relatório, o Fundo diz que desde a segunda metade de 2016 que “a retoma global na actividade económica está a fortalecer-se”, colocando a zona euro como uma das zonas do globo que mais está a contribuir para este bom desempenho.
Para Portugal, as previsões agora apresentadas não são uma novidade. No mês passado, quando publicou o seu relatório anual sobre a economia portuguesa (e realizou a sexta avaliação pós-programa ao país), o FMI já tinha dito que previa um crescimento de 2,5% este ano e de 2% no próximo, números que representavam uma revisão forte em alta face às projecções de Abril e que agora mantém.
O que se consegue verificar é que, estando Portugal em sintonia com a tendência global de aceleração da retoma, o país foi dos que mais se destacou na melhoria do desempenho registado dentro da zona euro. Em Abril, o crescimento que era esperado para Portugal estava em linha com a média europeia: igual em 2017, com 1,7%, e ligeiramente abaixo em 2018, 1,6%. Mas agora, o crescimento projectado fica claramente acima daquilo que é previsto para a zona euro: mais 0,4 pontos este ano e mais 0,1 pontos em 2018.
No que diz respeito a 2017 e 2018, apenas em quatro dos 19 países da zona euro a revisão em alta das previsões foi mais acentuada do que em Portugal: Áustria, Finlândia, Eslovénia e Estónia.
E mesmo em relação ao crescimento potencial da economia portuguesa, para o qual o FMI tem uma perspectiva bastante pessimista, a melhoria das projecções destaca-se face à da grande maioria dos seus parceiros europeus. Em Abril, o Fundo previa um crescimento em 2022 de 1% e agora aponta para 1,2%, uma subida de 0,2 pontos que apenas é superada pelos 0,2 pontos da Áustria. Para o total da zona euro, a previsão para 2022 manteve-se inalterada nos 1,5%, ainda assim acima de Portugal.
Apesar da melhoria global das previsões, o FMI faz questão de deixar vários alertas. No relatório agora publicado, afirma que “a recuperação [da economia mundial] não está completa” e destaca dois principais motivos de preocupação. O primeiro é o de que, nem todos os países estão a conseguir beneficiar desta melhoria de conjuntura, o que pode ser motivo para algum surto de instabilidade. As dificuldades estão a ser sentidas pelas economias emergentes mais dependentes das suas exportações de matérias-primas.
O segundo grande foco de preocupação é o facto de, nas economias mais avançadas se continuar a assistir a um fenómeno de aumento extremamente moderado dos salários e de manutenção da inflação a níveis baixos. O FMI avisa que este é um problema importante porque continua a não permitir que as taxas de juro nominais muito baixas tenham o efeito de estímulo desejado na economia.
Perante isto, os responsáveis do FMI avisam que não é tempo para descansar. No prefácio que assina no documento, o economista-chefe do Fundo, Maurice Obstfeld, diz que “estes desenvolvimentos positivos dão bons motivos para uma maior confiança, mas nem os políticos nem os mercados devem deixar-se embalar para a complacência”. “Um olhar mais atento sugere que a retoma mundial pode não ser sustentável”, avisa.