D. Manuel Martins: um bispo “bom”, “solidário” e uma “referência da consciência social”
O bispo emérito de Setúbal, que ficou conhecido como o “bispo vermelho” durante a crise dos anos 80, é recordado à esquerda e à direita como um homem que lutou pela igualdade social.
Várias figuras públicas e dirigentes políticos como António Costa, Ferro Rodrigues ou Jerónimo de Sousa prestaram homenagem ao bispo emérito de Setúbal D. Manuel Martins, que morreu este domingo aos 90 anos.
O primeiro-ministro reagiu através da rede social Twitter, dizendo ter recebido a notícia com “tristeza” e referindo-se a D. Manuel Martins como uma “grande referência da consciência social”. “A melhor homenagem à sua memória é a acção pela erradicação da pobreza”, acrescentou.
O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, expressou os seus “profundos sentimentos” e um voto de solidariedade para com a família e os amigos de D. Manuel Martins, “um homem bom que sempre foi solidário”. “Conheci D. Manuel Martins e pude comprovar as preocupações sociais que sempre exprimiu, o seu inconformismo permanente na luta contra a pobreza e a sua solidariedade”, referiu Ferro Rodrigues, afirmando que recorda com saudade a entrega que lhe fez “do projecto do que mais tarde viria a ser o Rendimento Mínimo Garantido”.
Também o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, endereçou condolências à Igreja Católica e a todos os católicos e, apesar da “contenção que o momento merece”, enalteceu o bispo emérito de Setúbal como uma personalidade que em certos momentos “teve uma grande intervenção social, particularmente num tempo em que se trabalhava e não se recebia, e em que havia tantos salários em atraso”.
Já na segunda-feira, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, considerou também que o bispo emérito de Setúbal foi uma “personalidade marcante da vida nacional” e que teve um papel muito importante sobretudo “num período difícil para aquela região”. Passos Coelho lembrou que Manuel Martins assumiu-se “no espaço público como uma voz de preocupação com aquelas pessoas”.
Numa acção de campanha em Sacavém, a coordenadora do BE, Catarina Martins, recordou o papel do bispo D. Manuel Martins no combate à pobreza. “Hoje morreu Manuel Martins, bispo de Setúbal, que ficou conhecido por ser voz dos pobres quando foi preciso”, lembrou.
“D. Manuel Martins foi um missionário da dignidade e dos direitos humanos”, disse ainda a candidata à Câmara de Lisboa pelo CDS-PP, Assunção Cristas, acrescentnado que o bispo “lutou incansavelmente numa missão contra a pobreza e pela dignidade de quem trabalha ou que quer trabalhar”. A deputada apresentou condolências à família do bispo emérito de Setúbal e a toda a Igreja, dizendo que este “será sempre lembrado como um pastor, um promotor e um provocador da consciência e justiça social”.
Numa outra homenagem, o ex-bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, recordou o "estilo de servir" de Manuel Martins, nomeadamente a sua "sensibilidade apostólica a causas e a lutas que envolveram sempre a degradação do ser humano". "Sempre tive dele a visão de um homem superior e muito raro na Igreja", sublinhou D. Januário Torgal Ferreira à agência Lusa.
O provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, António Tavares, lamentou por sua vez a morte de D. Manuel Martins, nome que surge associado ao Centro de Alojamento Social da instituição portuense. Em comunicado citado pela Lusa, António Tavares salientou o "importante papel desempenhado" na vida colectiva "como cidadão e homem da Igreja" de alguém que "com grande humildade" aceitou ser o capelão da Santa Casa, ficando "o seu nome ligado ao último projecto da Misericórdia do Porto - o Centro de Alojamento Social". Na nota da Santa Casa lê-se ainda que o bispo foi um "verdadeiro príncipe do povo junto da igreja".
O funeral do bispo D. Manuel Martins realiza-se na terça-feira, pelas 15h, no Mosteiro de Leça do Balio — terra onde nasceu em 1927. A diocese de Setúbal informou ainda que o velório decorre a partir de segunda-feira.