O Instituto Moreira Salles continua a celebrar a imagem (agora também em São Paulo)
O corredor cultural da Avenida Paulista tem uma nova (e muito aguardada) paragem: o IMS acaba de abrir as portas da sua casa em São Paulo, Brasil, com uma mão cheia de exposições.
O corredor cultural da Avenida Paulista tem uma nova (e muito aguardada) paragem: o Instituto Moreira Salles acaba de abrir as portas da sua novíssima casa em São Paulo, Brasil, com uma mão cheia de exposições. O IMS Paulista, instalado num prédio de sete andares de fachadas transparentes (concebido pelo atelier brasileiro Andrade Morettin), tentará a partir de agora alicerçar a sua actividade numa das maiores metrópoles do mundo, depois de ter conseguido inscrever a sua marca na paisagem cultural do Rio de Janeiro, onde actua desde 1999 com exposições, mostras de cinema, palestras, cursos e concertos. Para o tiro de partida da nova sede do Instituto fundado em 1992 pelo diplomata e banqueiro Walther Moreira Salles (1912-2001) foram organizadas cinco exposições que podem ser entendidas como um manifesto de actuação do IMS, que possui espólios de grande relevância em áreas como a fotografia (2 milhões de imagens, publicação de livros e revista ZUM), música (26 mil discos), literatura (cerca de 150 mil títulos, arquivos pessoais de vários autores e publicação da revista serrote) e iconografia (10 mil desenhos, gravuras e arquivos pessoais de artistas gráficos). Embora a fotografia (nos seus mais diversos usos) assuma protagonismo, o leque de exposições reforça a pluralidade e polissemia da imagem na arte contemporânea.
A disruptiva série The Americans, de Robert Frank (1924), é uma das principais apostas (curadoria de Samuel Titan Jr., Sergio Burgi e Gerhard Steidl), ao apresentar 83 provas vindas da colecção da Maison Européenne de la Photographie, de Paris, que guarda um dos poucos conjuntos completos da celebrada obra do artista. Paralelamente às imagens fotográficas será mostrado também o projecto Books and Films, 1947–2016, concebido por Frank e pelo editor e impressor Gerhard Steidl. À boleia desta exposição, o mítico fotolivro The Americans terá uma versão brasileira. De um clássico da fotografia do século XX, para a produção brasileira contemporânea em fotografia, cinema e vídeo, a exposição Corpo a Corpo (curadoria de Thyago Nogueira e Valentina Tong) revela sete trabalhos de artistas e colectivos (Bárbara Wagner, Garapa, Jonathas de Andrade, Letícia Ramos, Mídia Ninja e Sofia Borges) que foram desafiados pelo IMS a criar obras onde o corpo assumisse protagonismo enquanto elemento de representação social e actuação política. No campo da utilização das imagens cinematográficas como matéria prima para outras obras, surge The Clock, de Christian Marclay, onde a justaposição de pequenos trechos potencia jogos de memória e de percepção e onde, ilusoriamente, o tempo parece ser domesticado. Para celebrar o seu renascimento na cidade (a primeira sede do IMS paulista foi inaugurada em 1996), São Paulo: três ensaios visuais (curadoria de Guilherme Wisnik) resgata personagens daquela urbe, partindo de imagens de meados do século XIX (Militão Augusto de Azevedo), passando pelo século XX (Alice Brill) até aos últimos anos do século XXI (Mauro Restiffe). Por último, o IMS apresenta Câmera Aberta (curadoria Thyago Nogueira), um trabalho do alemão Michael Wesely que partiu da construção da própria sede, com câmaras analógicas e digitais que captaram continuamente desde 2014 as quatro faces do edifício. Tanto as câmaras como as técnicas de captação foram desenvolvidas pelo fotógrafo, que usa negativos expostos capazes de receber exposições ao longo de anos, sobrepondo muitos momentos numa fotografia. Segundo o IMS, as quatro imagens resultantes deste trabalho, bem como uma das câmaras usadas, ficarão em permanência no Estúdio, um espaço de divulgação do acervo do Instituto e que fica no último andar do edifício.
Para além destas exposições (que ocuparão cerca de 1200 metros quadrados divididos por quatro andares), as iniciativas que marcam a abertura do IMS Paulista estendem-se até 29 de Setembro, com destaque para a inauguração, no dia 28, da Biblioteca de Fotografia, um espaço preparado para acolher 30 mil obras e que arranca com vários espólios nacionais e internacionais importantes, entre os quais a colecção do curador Iatã Cannabrava, a colecção de mais de mil títulos de uma das primeiras críticas de fotografia do Brasil, Stefania Bril, e uma colecção completa dos livros editados pela Steidl desde 1994 até agora, ou seja cerca de 1200 títulos.