Apenas 2,2% dos beneficiários votaram para eleger representantes na ADSE
Beneficiários dão conta de problemas no acesso ao voto online e sindicatos lamentam que informação não tenha chegado a todos.
Apenas 18 mil beneficiários do sistema de assistência na doença da função pública (ADSE) participaram no processo eleitoral desta terça-feira para a escolha dos seus representantes no Conselho Geral e de Supervisão do instituto que gere a ADSE. Trata-se de 2,2% dos 830 mil beneficiários titulares que podiam votar, um número reduzido que poderá ter sido o resultado das dificuldades identificadas pelos sindicatos e por funcionários públicos que tentaram votar e não conseguiram.
Durante o dia foram sendo tornado públicas críticas à forma como o processo estava a decorrer. Um beneficiário da região do Alentejo lamentava não ter recebido qualquer informação sobre o processo eleitoral. Outro enviou ao PÚBLICO um relato por escrito de que tentou várias vezes exercer o direito de voto sem sucesso. “Escrevi o número de beneficiário com zeros, sem zeros, com letras, sem letras, e com a senha secreta enviada por correio. A resposta foi sempre a de que não era reconhecida”, precisou. O mesmo, garante, terá acontecido a outras colegas. Uma delas conseguiu votar, mas ao fim de uma hora.
José Abraão, dirigente da Frente Sindical para a Administração Pública e apoiante de uma das listas, considera que os números que conseguiu apurar “são incompreensíveis”.
“É incompreensível que as pessoas tenham estado mais de duas horas na fila para votar, o reduzido número de mesas de voto e que haja beneficiários que não foram informados do processo eleitoral em regiões inteiras”, lamentou, acrescentando que foram também reportados problemas com o voto online.
“Recebi dezenas de telefonemas”, ilustrou em declarações ao PÚBLICO.
“Um processo desta dimensão e foi pensado pela direcção da ADSE como um processo mixuruca”, disse José Abraão.
Pela hora do almoço, também a Frente Comum, cuja coordenadora Ana Avoila é mandatária de outra das listas que concorreu às eleições, considerava “inqualificável o procedimento dos responsáveis da ADSE” no processo eleitoral.
“Protesta-se e lamenta-se profundamente que a ADSE não tenha divulgado profusamente este acto eleitoral, a existência de tão exíguos locais de votação, constatando-se a existência de longas filas, e que um vultuoso número de beneficiários com direito a voto não tenham recebido a senha que solicitaram para votarem pela Internet “, referia a estrutura num comunicado.
O PÚBLICO questionou o presidente do instituto que gere a ADSE, Carlos Liberato Baptista, sobre o processo e as críticas, mas não teve resposta.
Desde o início deste ano, a ADSE passou a ser um instituto público e foi criado um Conselho Geral e de Supervisão ao qual compete dar parecer sobre as principais decisões que se prendem com o sistema, nomeadamente a sua abertura a novos beneficiários, e indicar um dos dois vogais do conselho directivo. De acordo com a lei, neste conselho têm lugar representantes do Governo, dos principais sindicatos da função pública (a Fesap, o STE e a Frente Comum), das associações de reformados (a Apre e o Murpi) e ainda quatro representantes eleitos por sufrágio directo e universal dos beneficiários titulares.
Apresentaram-se às eleições sete listas e a direcção da ADSE garante que enviou informação sobre o processo aos cerca de 831 mil beneficiários titulares informação sobre o processo eleitoral. O presidente Carlos Liberato Baptista garantiu à Lusa, na semana passada, que foram enviadas 560 mil cartas e 271 mil e-mails.
A divulgação da informação junto dos beneficiários estava prevista na portaria que regulamenta o processo eleitoral. Além da data das eleições, a ADSE garantia ter enviado informação sobre as listas de candidatos, o respectivo manifesto eleitoral, as formas e meios de votação e os locais para a votação, entre outras, contou o responsável.
As eleições seguirão o método de Hondt, o que significa que entre os quatro representantes no conselho, poderá haver membros de várias listas.