Dez dias de filmes de luxo, entre Godard, Grace Jones e Julian Assange

O programa do Doclisboa, que decorre de 19 a 29 de Outubro.

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Marianne Faithfull, fleur d’âme, de Sandrine Bonnaire dr

Para onde quer que se olhe, o programa do Doclisboa 2017 é de luxo. Nem é preciso ir logo às competições, basta começar pelas secções paralelas. Da Terra à Lua, a mostra do que de melhor se faz hoje no documentário mundial? Mestres como Claude Lanzmann (Napalm, à volta da Guerra da Coreia), Frederick Wiseman (Ex Libris, sobre a New York Public Library) e Wang Bing (Bitter Money e o vencedor de Locarno Mrs. Fang); experimentalistas como Bill Morrison (Dawson City: Frozen Time, exercício de found footage sobre filmes perdidos dos anos 1910 e 1920 encontrados no Árctico) e Denis Côté (Ta peau si lisse, sobre o universo dos culturistas); a jornalista Laura Poitras (Risk, sobre Julian Assange) e o veterano Barbet Schroeder (Le Vénérable W., sobre a perseguição aos Rohingya de Myanmar).

Cinema de Urgência, objectos “a quente” que assumem a sua postura interventiva e desafiam as regras do cinema? Obras do colectivo israelita B’Tselem, que se dedica a registar as violações dos direitos humanos por parte de Israel nos territórios palestinianos ocupados, e uma sessão em que o venezuelano radicado em Espanha Andrés Duque discute a situação no seu país natal. Heartbeat, a secção dedicada à música e às artes? Documentários sobre Cary Grant, Colette Magny, Whitney Houston ou Joseph Beuys, a par do mais recente documentário de e sobre Abel Ferrara, Alive in France, de Sophie Fiennes a filmar Grace Jones (Grace Jones: Bloodlight and Bami), Sandrine Bonnaire a retratar Marianne Faithfull (Fleur d’âme) ou Emma Franz a olhar para Bill Frisell.

E Riscos, a secção de experiências ousadas e radicais? Godard (a versão restaurada de Grandeur et décadence d’un petit commerce de cinéma), Travis Wilkerson (Did You Wonder Who Fired the Gun?, sobre o racismo nos EUA), Mike Hoolboom, André Bazin (Le film de Bazin, ensaio do canadiano Pierre Hébert sobre um filme que o crítico e fundador dos Cahiers nunca chegou realmente a completar) ou... Bárbara Virgínia, primeira realizadora do cinema português, objecto do documentário de Luísa Sequeira Quem É Bárbara Virgínia?. Dentro dos Riscos, Cíntia Gil não hesita em destacar um programa especial dedicado ao pedagogo Fernand Déligny, cujo trabalho com autistas e marginais acabaria por inspirar François Truffaut a rodar O Menino Selvagem.

No concurso internacional, surgem nomes já conhecidos do Doc – o francês Éric Baudelaire, com Also Known as Jihadi, a partir dos interrogatórios de um jovem francês radicalizado, o bangladeshiano Naeem Mohaiemen, com Tripoli Cancelled, ou a dupla francesa formada por Nicolas Klotz e Élisabeth Percival, com L’Héroïque lande, la frontière brûle, sobre a “selva de Calais”. Mas também Valérie Massadian com a sua ficção a partir da realidade Milla, Filipa César com o seu Spell Reel, sobre a recuperação dos arquivos de cinema da Guiné-Bissau, ou John Bruce e Pawel Wojtasik com End of Life, que acompanha cinco pessoas com doenças terminais.

Na competição portuguesa, apenas um dos 11 títulos já tinha passado por festivais: António e Catarina de Cristina Hanes, vencedor da competição de curtas de Locarno. Entre as restantes escolhas temos a nova longa de Inês Oliveira Vira Chudnenko, inspirada pelo fait-divers real de uma ucraniana morta por cães rottweiler fugidos; Diário das Beiras, onde Anabela Moreira e João Canijo prolongam a sua viagem pelo “Portugal profundo”; BARULHO, ECLIPSE, primeira longa de Ico Costa, reconstruindo em estúdio um concerto dos Raw; ou O Canto do Ossobó, de Silas Tiny, “filme de um são-tomense sobre a escravatura colonial em São Tomé e Príncipe”.

O programa completo, com horários e preços, pode ser consultado em www.doclisboa.org.

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