Chelsea Manning rejeita acusações de traição

Antiga militar que passou documentos confidenciais ao WikiLeaks falou pela primeira vez após a universidade de Harvard ter cancelado um convite para dar aulas.

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Reuters/HANDOUT

Chelsea Manning, a antiga militar norte-americana condenada por passar informações confidenciais ao site de denúncias WikiLeaks, e que foi posteriormente alvo de um perdão presidencial por parte de Barack Obama, disse este domingo que não se considera uma traidora (como o actual director da CIA, Mike Pompeo, a qualifica), defendendo as suas acções.

“Acredito que fiz o melhor possível, nas minhas circunstâncias, para tomar uma decisão ética”, respondeu Manning, durante uma conferência no estado norte-americano do Massachusetts, quando foi questionada pelo moderador do encontro sobre a acusação proferida por Pompeo.

Esta foi uma das primeiras aparições públicas de Manning após a sua libertação, em Maio. A participação no encontro acontece dias depois da universidade de Harvard, também no Massachusetts, ter retirado um convite a Manning para falar naquela instituição académica de elite sobre temas da comunidade transexual. O director do Instituto de Políticas Públicas da Harvard Kennedy School, Douglas W. Elmendorf, considerou que o convite feito a Manning tinha sido “um erro”

O recuo de Harvard foi anunciado precisamente poucos dias depois de Pompeo ter cancelado uma visita à instituição e de Michael Morell, um antigo director-adjunto da CIA, ter anunciado um corte de relações com a universidade - ambos em protesto pelo convite a Manning.

A antiga militar considera que o episódio demonstra que os EUA são um "estado policial" e que as universidades não permitem que exista um debate sobre ideias políticas. "Não tenho vergonha de ter sido desconvidada", disse, citada pela Associated Press.

Vários alunos de Harvard contestam o recuo da universidade e exigem que a antiga militar seja novamente convidada, tendo publicado uma carta de protesto no Harvard Crimson, o jornal dos estudantes da insituição. Os signatários da missiva considera que "a suspensão de Chelsea Manning enquanto professora convidada é um caso de ofensa selectiva", e afirmam que Manning será reconhecida "a seu tempo" pelo seu contributo. Os alunos pedem ainda que a instituição dirija um pedido de desculpas à antiga analista do exército norte-americano.

Ainda no encontro deste domingo, Manning declarou que sente que está a assistir a "uma novela distópica" desde que saiu da prisão, considerando que a sociedade norte-americana está "morta". A antiga militar expressou ainda preocupação com a falta de privacidade nos EUA e defendeu o direito ao perdão: "devemos perdoar toda a gente a dada altura”.

Em 2010, enquanto trabalhava para os serviços de informações militares dos Estados Unidos, Manning passou mais de 700 mil documentos confidenciais ao portal WikiLeaks. Entre os documentos estavam informações sobre a guerra no Iraque e no Afeganistão, bem como informações sobre a forma como o Vaticano encobria casos de abuso sexual na Irlanda. 

Manning foi inicialmente condenada a 35 anos de prisão, mas acabaria por ser libertada, em Maio, depois de o Presidente cessante dos Estados Unidos, Barack Obama, lhe ter concedido um perdão presidencial, ainda em Janeiro.

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