Falou-se de todas as casas de Lisboa, mas pouco da de Medina
Habitação, mobilidade e turismo. Lisboa parece reduzida a estes três problemas. Toda a primeira parte do debate foi dominado pela habitação.
A habitação voltou a ser tema que marcou o debate na RTP que opôs os 12 candidatos à presidência da câmara de Lisboa e que decorreu no Convento do Beato, em Lisboa. Falou-se de todas as casas de Lisboa, mas a mais falada dos últimos dias ficou fora da discussão. O apartamento nas Avenidas Novas que o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, comprou a uma das herdeiras do grupo Teixeira Duarte ainda foi trazido à baila por Joana Amaral Dias (Nós, Cidadãos!), mas Fernando Medina limitou-se a afirmar estar “a cumprir escrupulosamente o que a lei obriga”, referindo ainda que disponibilizou a informação referente à compra da casa no seu site da campanha (Medina2017.pt). E rematou o assunto dizendo que as recentes polémicas, que envolvem a não declaração da compra do ‘duplex’ ao Tribunal Constitucional e a compra de um apartamento numa zona nobre da cidade por um preço inferior ao que a vendedora tinha pago, também há dez anos é uma “uma campanha de insinuação”. Teve a ajuda da candidata social-democrata, Teresa Leal Coelho, que arrumou o assunto quando disse que não tinham vindo ao debate “para discutir casos”.
Daí para a frente, as intervenções circularam à volta da oferta de casas na capital. Leal Coelho começou por acusar Fernando Medina e o PS de ter deixado a habitação municipal fora das prioridades nos últimos dez anos, ignorando “as pessoas que estão em situação mais vulnerável”. E acusou a autarquia de ter mais 2000 fogos desocupados e por vender património municipal “em hasta pública contribuindo para a especulação imobiliária”.
A crítica foi partilhada pelo candidato comunista, João Ferreira, que acusa a gestão socialista de ter uma “visão que deixou a cidade nas mãos dos especuladores imobiliários”. Criticou ainda a extinção da Empresa Pública de Urbanização de Lisboa (EPUL). Fernando Medina defendeu-se ao afirmar que durante este mandato foram entregues 1200 casas e que foi lançado “o maior programa de reabilitação de bairros municipais” e que prevê avançar, dentro de “alguns meses”, a reabilitação de edifícios na rua de São Lázaro, que disponibilizará casas para 123 famílias.
Por sua vez, o candidato do Bloco, Ricardo Robles, estende as críticas sobre o problema da habitação em Lisboa a Assunção Cristas, referindo-se à Lei das Rendas, aprovada no governo PSD/CDS. O candidato defende que esta legislação contribuiu para que “mil famílias” fossem “despejadas” da cidade desde o início do ano. O bloquista acusa ainda Fernando Medina de ter entregado “2500 casas a fundos privados”. Também Joana Amaral Dias acusou Fernando Medina de estar “refém dos interesses imobiliários”.
O candidato do PCTP/MRPP, Luís Júdice, por seu turno, alertou para o facto de o debate se realizar na zona do Beato, “que está situada numa das zonas mais degradadas da cidade”. “Vão visitar a Vila Dias e depois falamos de habitação”, atirou, responsabilizando “todos os partidos do arco parlamentar” pela “expulsão de mais de metade da população da cidade”.
As críticas ao executivo socialista continuaram com a candidata pela coligação CDS/MTP/PPM (Nossa Lisboa), Assunção Cristas, a afirmar que “durante dez anos não houve nada a ser feito na habitação” nem se tentou atrair mais pessoas para a capital. E acrescentou que “o património municipal deve ser alocado para habitação”, a preços moderados, mas, ressalvou que a habitação não é apenas o problema que está a impedir a chegada de mais pessoas à capital realçando, por exemplo, que Lisboa é “o pior concelho do país em relação à cobertura de creche”.
Na segunda parte do debate, a mobilidade e o turismo dominaram as intervenções. Mas enquanto a habitação acaba por reunir algum consenso, embora haja diferenças quanto ao papel dos privados nesta questão, já em relação aos transportes as opiniões dividem-se. A gestão da carris e a circulação de carros dentro da cidade são alguns dos temas onde as divergências são evidentes.