Zonas mais pobres do Porto precisam de mais e melhores espaços verdes
A conclusão dos investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto foi publicada na revista International Journal of Environmental Research and Public Health
Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto defenderam esta terça-feira que é necessário aproximar os espaços verdes das populações que vivem em zonas mais desfavorecidas da cidade e melhorar a qualidade das áreas verdes já existentes. "Neste estudo, quisemos averiguar se os espaços verdes do município do Porto estavam distribuídos de forma equitativa pelo território, algo nunca estudado até à data no nosso país", refere Ana Isabel Ribeiro, coordenadora da investigação, publicada na revista "International Journal of Environmental Research and Public Health".
Desenvolvido na Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit), do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), o trabalho apresenta contributos para o ordenamento do território portuense.
Os autores fizeram um levantamento dos espaços verdes públicos e de acesso livre existentes na cidade e avaliaram a qualidade dessas áreas, usando um instrumento de auditoria validado internacionalmente. Aspectos como a presença de instalações para prática de actividade física, qualidade ambiental, presença de elementos de conforto e ainda questões relacionadas com a segurança, foram tidos em conta.
Os resultados, disponibilizados à Lusa, mostram que, "embora a maioria dos locais da cidade (80%) possua pelo menos um espaço verde a uma distância aceitável (o equivalente a 10 minutos a pé), as áreas mais desfavorecidas da cidade estão, por regra, a uma distância maior de espaços verdes".
De acordo com os investigadores, este facto poderá ajudar a perceber o motivo pelo qual as populações mais desfavorecidas apresentam menores níveis de actividade física e piores indicadores de saúde. "As pessoas mais pobres já fazem menos actividade física, porque têm menos recursos económicos. Se o ambiente onde elas se inserem também não favorecer a prática de actividade física, existirá menos motivação para adoptarem comportamentos e estilos de vida saudáveis", considera a investigadora Ana Isabel Ribeiro.
Além disso, acrescenta "a qualidade dos espaços verdes situados na vizinhança das zonas mais desfavorecidas é inferior. Existem maiores problemas de segurança, assim como menos equipamentos para a prática de actividade física e menor disponibilidade de elementos de conforto, como casas de banho públicas e locais de descanso, entre outros".
Segundo a investigadora, uma das hipóteses para melhorar esta situação poderá passar pela "aproximação dos espaços verdes das áreas de residência das populações mais desfavorecidas, até porque, à partida, são estas as pessoas que beneficiariam mais com estes espaços".
"Além disso, deveria apostar-se na melhoria da qualidade dos espaços em si, aumentando, por exemplo, o número de equipamentos disponíveis para a prática de actividade física nos parques e nos jardins da cidade, sobretudo, nas zonas mais pobres. A nível de estética e de conforto, seria útil introduzir equipamentos que levam as pessoas a usarem as áreas verdes e a permanecerem nelas, como cafés, quiosques, casas de banho públicas, bancos e caixotes do lixo", defende Ana Isabel Ribeiro.
O estudo designado "Socioeconomic Inequalities in Green Space Quality and Accessibility -- Evidence from a Southern European City" é também assinado pelos investigadores Elaine Hoffimann (primeira autora) e Henrique Barros.