Oito milhões de euros em bolsas europeias para cinco cientistas em Portugal

O Conselho Europeu de Investigação acaba de atribuir 605 milhões de euros para cinco anos a 406 cientistas em início de carreira. Neste concurso, há o maior número de mulheres desde a criação deste organismo de financiamento da ciência na Europa.

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Fábio Augusto

Ao todo, 406 cientistas em início de carreira vão receber uma bolsa de subvenção de arranque do Conselho Europeu de Investigação (ERC, na sigla em inglês) e que perfazem um bolo de 605 milhões de euros – acaba de ser anunciado esta quarta-feira. Esta bolsa é atribuída a investigadores doutorados no máximo há sete anos, para criarem o seu grupo de investigação. Entre eles estão cinco cientistas que trabalham em Portugal: quatro portugueses e uma argentina, que vão receber um total de cerca de oito milhões de euros.

Nos últimos dias, já tinham sido anunciados os nomes de três cientistas em Portugal que vão receber estas bolsas: Dulce Freire, do Instituto de Ciências Sociais de Lisboa, terá cerca de 1,5 milhões de euros para um projecto sobre a história das sementes na Península Ibérica (de 1750 a 1950); Pedro Leão, do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto, também vai ter cerca de 1,5 milhões de euros para estudar novos compostos naturais em cianobactérias; e Catarina Homem, do Centro de Estudos de Doenças Crónicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, que receberá cerca de 1,9 milhões de euros para o estudo das células estaminais do cérebro e ver de que forma o metabolismo e a nutrição determinam o destino destas células capazes de originar outros tipos de células cerebrais.

Agora, segundo a lista do ERC divulgada em comunicado e os montantes atribuídos a cada investigador, há mais dois cientistas em Portugal que receberam uma destas bolsas. André Martins, do Instituto de Telecomunicações, vai ter cerca de 1,4 milhões de euros. A sua investigação consiste em combinar métodos de aprendizagem estatística estruturada com redes neuronais artificiais, aplicando-os ao processamento de linguagem natural. “Um dos problemas abordados será o da tradução automática estatística”, diz-nos. O Instituto Superior Técnico, onde é professor convidado, e a startup Unbabel também vão estar envolvidos no projecto.

Já Eugenia Chiappe, cientista argentina da Fundação Champalimaud, em Lisboa, vai ter cerca de 1,7 milhões de euros para compreender como o circuito neuronal integra os estímulos e criar assim uma representação interna dos movimentos associados ao andar, estudando para tal a mosca-da-fruta.

Fora de Portugal, há mais três cientistas portugueses financiados. Sílvia Portugal está no Departamento de Parasitologia da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, a liderar um grupo de investigação em malária. Agora recebeu 1,5 milhões de euros para estudar o parasita da malária (Plasmodium falciparum) durante a estação seca em áreas de transmissão sazonal da doença. A investigadora quer assim perceber como o parasita da malária sobrevive sem a presença dos mosquitos que o transmitem (os anófeles) durante vários meses. Para o seu estudo, vai usar parasitas recolhidos no Mali, em colaboração com a Universidade de Bamaco (no Mali) e os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.

Por sua vez, Anton Khmelinskii, também da Universidade de Heidelberg, vai receber cerca de 1,7 milhões de euros para estudar os sistemas de controlo da qualidade proteica. “O objectivo é perceber os mecanismos que as nossas células usam para identificar e destruir proteínas defeituosas, e investigar a importância desses mecanismos em doenças como o cancro”, explica o investigador de português ao PÚBLICO. Informa ainda que vai estabelecer o seu grupo de investigação no Instituto de Biologia Molecular em Mainz, na Alemanha. Por fim, Renato Dias de Brito Gomes, da Faculdade de Economia de Toulouse (França), receberá cerca de 1,2 milhões de euros para estudar a competição e regulação de mercados.

No total, as bolsas dos sete cientistas portugueses valem cerca de 10,8 milhões de euros.

Mais mulheres financiadas

Neste concurso para atribuição de bolsas de arranque (starting grants, em inglês), atingiu-se o maior número de bolsas para investigadoras. Cerca de 40% dos cientistas financiados são mulheres, de acordo com o comunicado do ERC. “Quatro entre dez vencedores das bolsas são mulheres – um recorde desde o lançamento do ERC. Espero que o trabalho persistente do conselho científico do ERC e o seu Grupo de Trabalho para o Equilíbrio de Género tenha contribuído para esta evolução positiva”, diz Jean-Pierre Bourguignon, presidente do ERC.

Há também o maior número de nacionalidades desde o início do ERC, em 2007. “Este ano, o concurso incluiu 48 nacionalidades diferentes entre os bolseiros – o maior número desde a criação do ERC”, refere o comunicado. Os cientistas trabalham em 23 países europeus, numa lista liderada pelo Reino Unido (79 investigadores), seguida da Alemanha (67) e da França (53). Portugal está em 15.º lugar (com as tais cinco bolsas).

No conjunto dos 406 investigadores, há 45 investigadores que não são europeus. Nesse grupo estão 17 norte-americanos. Ainda há 18 investigadores que se vão deslocar para a Europa para receber uma destas bolsas do ERC e, entre eles, há 13 europeus que retornam ao seu continente. Neste concurso, o ERC recebeu 3085 propostas e vai financiar cerca de 13% delas.

“O talento de topo precisa de boas condições para prosperar no tempo certo”, salienta Carlos Moedas, comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, no mesmo comunicado. “A União Europeia oferece as melhores condições possíveis para as etapas iniciais da carreira de um investigador através das starting grants do ERC.”

Todo este caminho, que começou em 2007 com a criação do ERC pela União Europeia, está agora ao abrigo do programa de financiamento Horizonte 2020. O ERC atribui vários tipos de financiamento a cientistas de qualquer nacionalidade que trabalhem na Europa ou que queiram vir para cá. Além das bolsas de arranque, há bolsas de consolidação para investigadores que fizeram o doutoramento há pelo menos sete anos e no máximo há 12 anos. E há ainda bolsas avançadas e bolsas para prova de conceito. Em 2018, pretende-se avançar com as bolsas de sinergia. Desde a criação do ERC, cientistas estabelecidos em Portugal já receberam 74 bolsas do ERC, segundo o gabinete de imprensa do ERC. E no total, incluindo já estas novas cinco bolsas, vieram para Portugal cerca de 124 milhões de euros. 

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