Acesso ao superior implica cuidados extra no ensino secundário
Muitas escolas optaram por deixar 10.º ano de fora da flexibilidade curricular com receio dos impactos do projecto nos exames nacionais.
“Se tivesse ensino básico, se calhar teria projectos mais arrojados. Assim sendo, temos que ir com cuidado.” A confissão é de Alexandre Costa, director da Escola Secundária de Loulé, uma das 235 que vão integrar a experiência pedagógica de flexibilidade curricular no novo ano lectivo.
O novo modelo vai ser aplicado na escola, a todas as turmas do 10.º ano, mas é o mesmo responsável que classifica as mudanças que vão ser introduzidas como “contidas”. O receio de que a flexibilidade na gestão do currículo implique menos atenção às disciplinas em que os alunos vão ter exames determinantes para o acesso ao ensino superior aconselha prudência. O caso da secundária de Loulé não é único.
De resto, há casos como o do agrupamento de escolas da Senhora da Hora, em Matosinhos, ou o de Ponte da Barca, no distrito de Viana do Castelo, que apesar de integrarem todos os restantes inícios de ciclo (1.º, 5.º e 7.º anos) no projecto de flexibilidade curricular, optaram por deixar o 10.º ano de fora. “O secundário é uma situação muito específica. É necessário um cumprimento do que está no programa que tem a ver com a preparação para o exame e a avaliação para acesso ao superior. Há algumas resistências por parte dos professores e também cuidados redobrados por parte dos pais, que estão muito mais atentos”, defende Paulo Amaral, adjunto da direcção da escola de Matosinhos.
“O horizonte dos exames nacionais é incontornável”, concorda Alexandre Costa. As disciplinas específicas para acesso a alguns cursos do superior “valem muito” e a escola “não pode negligenciar essa parte”, prossegue. A proposta da escola passa assim por trabalhar um projecto de turma (tranversalmente, envolvendo diferentes disciplinas) que vai passar a ter um peso moderado nas notas dos alunos. “Isto vai permitir-nos avaliar outras competências e capacidades que os alunos têm, algo que até aqui era muito difícil”, explica.
A visão cuidadosa sobre os impactos no secundário não é, porém, unânime. O director da associação dos estabelecimentos do ensino particular, Rodrigo Queiroz e Melo, diz que o projecto “vem romper com o imobilismo” neste nível de ensino: por exemplo, um aluno que, à entrada para o 10.º ano, esteja na dúvida sobre seguir Engenharia ou Economia no superior, acaba por escolher geralmente a área de Ciências e Tecnologias, que é onde pode ter Física, para aceder às engenharias. “Agora, esses alunos pode eventualmente escolher Economia, em vez de Biologia e Geologia, por exemplo. É um conceito de secundário mais adequado aos dias de hoje.”