Está aí Vilar de Mouros, o festival para avós, pais e netos

Duas décadas depois, os Young Gods regressam a Vilar de Mouros, no mesmo dia em que tocam Primal Scream, Jesus and Mary Chain, The Mission e The Veils. Até sábado há trip-hop dos Morcheeba, pós-punk/new wave dos veteranos Psychedelic Furs e dos Boomtown Rats e Peter Bjorn and John.

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Os Jesus and Mary Chain estão de volta a Portugal MIGUEL MANSO

Existiriam festivais de Verão em Portugal sem Vilar de Mouros? A resposta mais sensata e mais lógica será sim. Seguro é porém que teriam chegado cá mais tarde. Em 1971, no pós-Primavera Marcelista, ainda a quatro anos de distância da revolução do 25 de Abril, foi na aldeia minhota que se abriu uma porta à modernidade, num país onde a cultura pop era feita e disseminada entre paredes por uma elite menos conservadora com canais de ligação privilegiados com o estrangeiro, aonde se ia e de onde se vinha com a certeza de que algo não estava a acontecer em Portugal.

Aconteceu naquele ano, entre 7 e 8 de Agosto, na primeira edição internacional do “Woodstock português”, com os estrangeiros Manfred Mann e Elton John, ainda com apenas três álbuns gravados, meses depois de ter lançado Tumbleweed Connection. Estavam lá também os portugueses Pop Five Music Incorporated, os Psico e o Quarteto 1111 com José Cid.

Passaram 11 anos até haver novo festival em Vilar de Mouros. Em 1982 tocam os internacionais U2, ainda só com Boy e October na discografia, mais Echo & the Bunnymen e The Stranglers e os da casa Jáfumega, GNR e Roxigénio – estava aí o boom do rock português. Segue-se mais um interregno de 14 anos, interrompido em 1996, na década em que começam a dar os primeiros passos outros festivais de Verão, como é o caso de Paredes de Coura, cuja primeira edição tinha entretando acontecido em 1993.

Foi para o público que descende da primeira geração Vilar de Mouros que o festival regressou no ano passado, após mais um interregno na sequência da edição de 2006 e da tentativa tímida de regresso em 2014. “É um festival para avós, pais e netos”, diz Diogo Marques, um dos organizadores desta nova vida do evento, iniciada em 2016. Nova vida que fará do passado a garantia de que Vilar de Mouros continuará a ter lugar de destaque entre os “cerca de 70 festivais” regulares que existem actualmente em Portugal.

Se a edição do ano passado serviu para marcar essa posição, com o regresso dos Echo & the Bunnymen e de Peter Murphy ou com a actuação dos The Waterboys e dos Tindersticks, 2017, com velhas glórias como Young Gods, Jesus and Mary Chain, The Mission, Psychedelic Furs e Boomtown Rats no cartaz, reforça essa mesma ideia. Diz o organizador que a linha seguida pelo festival não pode ser considerada uma “paragem no tempo”. Deve ser antes entendida como forma de colmatar uma lacuna existente noutros festivais: “Este é um festival para um público mais adulto. Na sua maioria, quem cá vem tem mais do que 35 anos." É esse caminho que entende ser a melhor forma de se poder voltar a apanhar a carruagem sem prejuízo para o evento. Vilar de Mouros é declaradamente um festival para um público mais maduro.

Um festival familiar

Na ressaca da edição passada, começa-se a trabalhar em novo cartaz e garantem-se Primal Scream, The Jesus and Mary Chain (duas bandas que a organização já queria no cartaz de 2016), The Mission, Young Gods e The Veils, que abrem o festival às 20h desta quinta-feira, dia em que também tocam todas as outras. Em 1996, passava um ano do lançamento do single Kissing the sun e os suíços Young Gods, um dos nomes mais carismáticos da música industrial, tocavam em mais um regresso do festival de Vilar de Mouros. Agora, voltam numa altura em que não lançam nada há sete anos, desde Everybody Knows.

No último dia, no sábado, será a vez de o trip-hop dos Morcheeba, o pós-punk/new wave dos veteranos Psychedelic Furs e os Boomtown Rats subirem ao palco de Vilar de Mouros. Tocam ainda os Zanibar Aliens e os Avec, em noite encerrada pelo set dos belgas 2ManyDjs.

Pelo meio, reserva-se o dia de sexta-feira para “as gerações mais novas”. Apesar de Vilar de Mouros ser um festival para um público mais adulto, é também, diz Diogo Marques, um evento onde se encontram diferentes gerações: “Este é um festival familiar. Há famílias completas que cá vêm. Este ano temos um dia mais orientado para um público mais jovem”, explica. Tocam nesse dia Golden Slumbers, Peter Bjorn and John, Salvador Sobral, George Ezra, Capitão Fausto e The Dandy Warhols.

Público a crescer

Em 2016, celebraram-se os 50 anos da primeira edição do Festival Vilar de Mouros – na altura ainda um festival de folclore –, e por isso o passe geral teve o preço “simbólico” de 50 euros. Sobe este ano para os 70 euros, mas “ainda assim continua a ser dos festivais mais baratos”; paralelamente, a organização garante ter criado melhores condições no que toca a campismo e “outro tipo” de infra-estruturas. Com um cartaz “mais ambicioso”, aumenta também a despesa. De um ano para o outro, nascem nas imediações mais um hotel e “mais alguns restaurantes” para dar resposta ao esperado aumento de público. No ano passado, passaram pelos três dias do festival 22 mil pessoas. A julgar pelas pré-vendas, que segundo a organização aumentaram em “30%”, espera-se um crescimento de público na ordem dos “70%”. “Principalmente os espanhóis deixam para o último dia e compram o bilhete nas bilheteiras do recinto."

Promete a promotora Surprise and Expectation – um consórcio constituído pela Probability Makers e pela Metrónomo com a Câmara Municipal de Caminha – que até 2021, altura em que acaba o contrato, será feito um esforço para que a linha do festival se mantenha.

Como aconteceu no ano passado, paralelamente ao cartaz há outras actividades. Durante o dia o coreto recebe cantares minhotos e podem ser degustados no recinto petiscos da região.   

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