Portugal volta a aumentar investimento em ciência depois de seis anos de quebra
Despesas com investigação e desenvolvimento foram 1,27% do valor do PIB em 2016. Empresas valem quase metade do dinheiro investido no sector.
Portugal investiu, no ano passado, 2348 milhões de euros em investigação e desenvolvimento (I&D), relevam os dados provisórios do Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional de 2016, que foram publicados, esta segunda-feira, pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC). Este valor representa 1,27% do produto interno bruto (PIB) de 2016 e significa que, pela primeira vez desde 2010, o país aumenta as despesas com o sector relativamente ao ano anterior.
Os 1,27% do PIB investidos em I&D em 2016 significam um aumento ligeiro face ao valor verificado ano anterior (mais 0,03 pontos percentuais). Este crescimento é, ainda assim, suficiente para pôr um ponto final no ciclo de queda que se verificava desde 2010. “Conseguimos finalmente inverter a tendência de decréscimo da despesa pública e privada”, valoriza ao PÚBLICO o ministro da Ciência, Manuel Heitor.
No ano passado, os dados provisórios divulgados pela DGEEC já apontavam para um ligeiro aumento bruto do investimento em ciência. Esse crescimento na ciência era, ainda assim, inferior ao do PIB do país. Esses números acabariam por ser revistos em baixa pela DGEEC, deixando o indicador do investimento em I&D medido em percentagem do PIB em 1,24% em 2015.
Esse tinha sido o sexto ano consecutivo em que houve diminuição do investimento em investigação científica no país. Em 2009, esse valor fixava-se em 1,64% do PIB, o seu máximo histórico desde que, em 1982, a DGEEC começou a publicar este instrumento estatístico que é o Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional.
Estes dados conjugam os indicadores de investimento quer públicos quer privados. Segundo a DGEEC, em 2016, 48% da despesa nacional em investigação e desenvolvimento foi assegurada pelas empresas. É a primeira vez desde 2013 que a despesa privada neste sector é superior à pública. O ensino superior executou 45% dos gastos em ciência no ano passado, enquanto o próprio Estado assegurou 5%. Os restantes 2% foram da responsabilidade de instituições privadas sem fins lucrativos.
Globalmente, a despesa com I&D aumentou, entre 2015 e 2016, 114 milhões de euros. O contributo do sector privado assume, mais uma vez, um peso elevado nesta verba (mais 90 milhões de euros, que correspondem a um crescimento de 8% face ao ano anterior). Ao todo, o sector privado, que investiu 1162 milhões de euros em investigação no ano passado.
A DGEEC publicou, juntamente com os dados globais do investimento em investigação e desenvolvimento, uma lista das 100 empresas que mais investiram nesta área em 2016. Este grupo de empresas foi responsável por 51% do total de despesas do sector empresarial com investigação.
Os principais destaques são a Portugal Telecom (PT), que aumentou o seu investimento em I&D pela primeira vez desde 2009. Nesse ano, a empresa investia cerca de 220 milhões de euros em investigação, baixando para 160 milhões no ano seguinte. Em 2015, atingiu o seu mínimo histórico com 50 milhões de euros canalizados para a investigação. No ano passado, a recuperação fez-se com 69,4 milhões de euros de despesas da PT em investigação.
Na lista dos principais investidores empresariais em I&D seguem-se a farmacêutica Hovione (cujo total de investimento não foi divulgado pela DGEEC, por falta de autorização da empresa), o grupo BCP (quase 32 milhões de euros) e a farmacêutica Bial, que apesar de ter diminuído o seu investimento gradualmente nos últimos seis anos, em 2016 gastou 29,4 milhões de euros em investigação. A Bial é também a empresa com o maior número de investigadores doutorados contratados, com 29. A fechar o “top 5” está a empresa tecnológica Coriant Portugal, que teve, no último ano, despesas de 20,34 milhões de euros com investigação.
Outro indicador com evolução positiva no Inquérito ao Potencial Científico e Tecnológico Nacional de 2016 é o aumento do número de investigadores na população activa, passando de 7,4%o (por mil), em 2015, para 7,9%o (por mil), no ano passado. Ou seja, foram registados 40.746 investigadores, medidos em equivalente de tempo integral – ponderando os investigadores que trabalham apenas a tempo parcial, tendo como referência um horário completo de trabalho –, o que é mais 2074 do que ano anterior.
O ensino superior público continua a ser o sector que emprega mais investigadores, 26.432 (65% do total), enquanto no sector privado trabalham 13.041 investigadores em equivalente de tempo integral (32%).
“Os dados confirmam que podemos voltar a ter a esperança e a confiança da retoma do processo de convergência com a Europa do conhecimento”, defende o ministro Manuel Heitor. O Governo tem como objectivo “exigente, mas realista” que o nível de investimento global em I&D em 2022 seja de 2,15% do PIB, o que, a concretizar-se, bateria todos os recordes nacionais de despesa com ciência.
Para que isso aconteça, a despesa pública tem de crescer “cerca de 50 milhões de euros por ano a partir de 2018”, enquanto a despesa privada terá de ter um aumento de 200 a 300 milhões de euros por ano nos próximos cinco anos, antecipa Heitor.