O passo para a eternidade do laboratório musical que é Paredes de Coura
Arranca esta quarta-feira a 25.ª edição do festival Paredes de Coura. Até sábado estima-se que cerca de 20/25 mil pessoas passarão pelos palcos montados na Praia Fluvial do Taboão.
“Para sempre”. É a frase que está gravada no pórtico de entrada para o recinto do festival Paredes de Coura que arranca nesta quarta-feira para durante quatro dias celebrar a 25.ª edição. Não é o ano da maturidade, é o da eternização, diz João Carvalho, um dos fundadores, que acredita que os dias passados na vial minhota ficarão na memória dos já mais de “um milhão” de pessoas, que desde 1993 lá se deslocaram.
“São memórias que não desaparecem” do imaginário daqueles que durante 24 anos rumaram a Coura e são memórias que quem por lá passar “seguramente” vai coleccionar, de um festival de “afectos”, que surge de uma “brincadeira de miúdos”. Hoje, desses “miúdos” sobram três: José Barreiro, Filipe Lopes e João Carvalho. Diz o último que o tempo não faz desaparecer o “nervoso miúdinho” que sente dias antes do festival arrancar. São cerca de 20/25mil pessoas que todos os anos entram diariamente no recinto. Este ano esperam a mesma média. Pela segunda vez, depois de 2015, já esgotaram os passes gerais. Os bilhetes diários seguirão o mesmo caminho, acredita. No sábado, dia em que toca Benjamin Clementine, estão à espera de 25 mil pessoas.
Por Paredes de Coura já estão cerca de 15 mil acampadas. As tendas já marcam lugar junto às margens do rio Coura, na praia fluvial do Taboão, desde o início de Julho. Desde sábado que os visitantes têm acesso a outro cartaz: “Um festival dentro de outro festival”, diz João Carvalho, referindo-se ao Sobe à Vila, que desde 2013 arrasta para o centro os forasteiros que aparecem mais cedo para uma jornada de concertos de quatro dias de acesso gratuito. As noites têm acabado “já depois das três da manhã” e na rua principal “onde costumam circular poucas dezenas de pessoas” há milhares que dão “cor e vida” à vila.
A partir desta quarta-feira começa o festival “a sério”. Tocam nomes confirmados do cenário musical internacional como Future Islands, At the Drive-in, Beach House, Benjamin Clementine ou os nacionais Mãos Morta, a banda que mais vezes se apresentou no festival e este ano leva um set centrado nos 25 anos do Mutantes, e descobrem-se novas propostas que regra geral mais tarde são catapultados para o mainstream. Aconteceu com os Coldplay, Arcade Fire, Wovenhand e mais recentemente com os Cage the Elephant. “Paredes de Coura há-de continuar a ser sempre um laboratório musical”, assegura o organizador. Esse laboratório continuará a ser possível por força de um cartaz que é escolhido por melómanos que desde 2010 têm controlo total no processo de escolha das bandas que só lá tocam se passarem primeiro no teste de quem o monta. “Daqui a trinta anos, se ainda estiver a fazer o que mais gosto, hei-de continuar a seguir este critério. Só assim não defraudaremos o público”, promete.
Em 1993 12 jovens na casa dos 20 anos montaram um festival numa semana com palco construído com as próprias mãos. Sem adivinharem na altura a dimensão que um dia viria a ter foram insistindo em mais uma edição e depois noutra. Quase um quarto de século depois ainda continuam a fazê-lo.Um dos fundadores, Vítor Paulo Pereira, fora da organização, é o presidente da câmara que foi aprendendo a conviver com o festival e percebendo a importância do evento para a vila. Os anos trouxeram a maturidade e conservaram a vontade de continuar a descobrir música nova. “Cada vez mais continuo com vontade de conhecer coisas novas”, diz João Carvalho. Esta quarta-feira o orçamento é outro. Ronda os 3 milhões de euros. A satisfação é a mesma: “Ao fim destes anos todos continuo a emocionar-me quando vejo aquele anfiteatro cheio de gente”.