Dois anos para desassorear albufeira do Mondego em Coimbra

Intervenção com o custo de 4 milhões começa este ano. Objectivo é repor o leito do rio aos níveis de 1985.

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Sergio Azenha

A retirada de sedimentos da albufeira do Mondego em Coimbra arranca este ano e só ficará concluída em 2019. A intervenção foi consignada nesta sexta-feira, tem um prazo de execução de dois anos e quer devolver o caudal do Mondego aos níveis registados em 1985, ano em que foi construído o açude-ponte.

O desassoreamento do rio é tido como uma operação que ajuda a mitigar os efeitos de cheias, sendo um dossier que já se arrasta há anos e que vem à tona cada vez que o Mondego galga as margens e causa prejuízos.

A obra no valor de 4 milhões de euros, que fica a cargo da Mota-Engil, prevê a retirada de 700 metros cúbicos de inertes do rio, numa extensão de 3,5 quilómetros a partir do açude-ponte para montante. Os inertes retirados do leito vão ser aplicados na reposição das margens ou em zonas que apresentem défice sedimentar a jusante da capital de distrito. A Câmara Municipal de Coimbra calcula que a intervenção nesta parte do Mondego tenha impacto em 250 mil pessoas ao longo do rio.

Em Janeiro e Fevereiro de 2016, as inundações causadas pela subida do nível das águas do rio causaram milhões de euros em prejuízos em equipamentos públicos e propriedade privada, provocando estragos também em Montemor-o-Velho. O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha e os estabelecimentos de restauração do Parque Verde foram a face mais visível das consequências das cheias.

Na cerimónia de consignação da empreitada, que contou com a presença de António Costa e do ministro do Ambiente, Pedro Matos Fernandes, e teve lugar no meio do tabuleiro da ponte-açude, o autarca de Coimbra, Manuel Machado sublinhou que a obra é “imprescindível para que não ocorram mais cheias na cidade”

Tanto autarquia como governo procuraram antecipar eventuais críticas ao processo. Machado diz que não seria possível lançar a obra com a “rapidez” que se conseguiu sem o apoio do governo, enquanto Costa diz que intervenções do género não se fazem “com uma varinha mágica” e lembra que, antes de iniciar a obra, teve que se passar pelos processos de elaboração do projecto, concurso público e adjudicação.

Pedro Matos Fernandes fez questão de sublinhar que a razão pela qual as águas não voltaram a subir no Inverno passado não se prende exclusivamente com a diminuição da pluviosidade. “Foi porque o acompanhamento da curva guia da barragem da Aguieira foi rigorosíssimo da nossa parte e com isso conseguimos garantir que as cheias não acontecessem”, garantiu.

Um documento elaborado pela Ordem dos Engenheiros e cujas conclusões foram tornadas públicas no início deste ano sugere que as cheias de Janeiro de 2016 em Coimbra poderiam ter sido evitadas ou minimizadas se as normas de exploração da barragem da Aguieira, da responsabilidade da EDP, tivessem sido cumpridas.

Juntamente com a retirada de sedimentos, vai ser levada a cabo outra obra em Coimbra, a da estabilização da margem direita. Outras três intervenções estão previstas a jusante da cidade e a cargo da Agência Portuguesa do Ambiente: a regularização do leito periférico esquerdo do Mondego, a reabilitação e desassoreamento do leito periférico direito e a requalificação e dos diques e do leito central. A totalidade das intervenções está avaliada em 16,3 milhões de euros.

Barrinha de Mira e Ria de Aveiro também vão ser desassoreadas

O ministro do Ambiente, Pedro Matos Fernandes, aproveitou a ocasião para referir outros projectos de gestão de recursos hídricos na região. O responsável falou nos processos de desassoreamento da Ria de Aveiro e da Barrinha de Mira e lembrou que os dois estão a decorrer, estando apenas à espera do encerramento da época balnear para que haja novos desenvolvimentos.

A intervenção na Barrinha de Mira já está consignada e vai arrancar em Setembro, tendo um custo de 545 mil euros. Para além de assoreada, a lagoa situada na Praia de Mira enfrenta uma praga de jacintos-de-água.

Relativamente à Ria de Aveiro, Matos Fernandes diz que “uma parcela do concurso ainda só não foi lançada porque as autarquias entenderam por bem fazê-lo apenas após o Verão”. Há 20 anos que não havia uma grande dragagem de inertes, lembra o governante, que referiu ainda que a operação tem um custo estimado em 23,5 milhões. Os sedimentos retirados da ria durante a intervenção vão servir para reforçar o cordão dunar.

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