Donald Trump venceu as eleições nos Estados Unidos com a promessa de secar o pântano no Congresso, em Washington D.C., mas nos primeiros sete meses de vida como Presidente tem mostrado alguma dificuldade para secar o pântano no interior da própria Casa Branca, na outra ponta da Avenida Pensilvânia. Com o seu navio a afundar-se cada vez mais em fugas de informação e ataques furtivos lançados à sua volta, na famosa Ala Oeste, o capitão Trump chamou um pirata para tentar pôr ordem na tripulação – e Anthony Scaramucci, o novo director de comunicação, já começou a empurrar para a prancha o chefe de gabinete do Presidente, Reince Priebus.

As remodelações na Administração norte-americana começam a ser tão frequentes que já quase não são notícia, mas a última semana tem sido particularmente dura para duas figuras de topo, e tem revelado que está a formar-se na Casa Branca uma nova dupla de heróis dos eleitores anti-sistema que puseram Trump na liderança do país.

Enquanto o Presidente tortura na praça pública o seu procurador-geral, Jeff Sessions, o novo director de comunicação ficou com a tarefa de sufocar o chefe de gabinete, Reince Priebus, mais uma das pessoas que foram importantes para a vitória de Trump nas eleições mas que acabaram por pagar a factura da falta de lealdade segundo a definição do Presidente norte-americano: total, inquestionável e, quando é preciso, à prova de factos.

Para Donald Trump, o incómodo chamado Reince Priebus é mais fácil de resolver do que o pesadelo chamado Jeff Sessions, mas ambos fazem parte do mesmo problema. Um problema que, por mais voltas que dê, vai parar sempre ao mesmo sítio – a Rússia.

Priebus era o presidente da Comissão do Partido Republicano quando Trump se candidatou à Casa Branca, e foi sempre visto com desconfiança no círculo mais próximo do actual Presidente. Ainda assim, figuras como Priebus e Sessions foram importantes durante a campanha, já que garantiram a Trump um pouco de apoio em todas as franjas do partido – se Priebus e o speaker da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, o ajudavam a não espantar o chamado establishment, Jeff Sessions e o actual vice-presidente, Mike Pence, garantiram-lhe um pé na ala mais religiosa e conservadora.

O problema para o Partido Republicano é que Donald Trump já deu mostras de que ninguém consegue controlá-lo, pelo menos durante tempo suficiente para conseguir fazer dele um Presidente "normal", como alguns esperavam antes da tomada de posse – que o diga Reince Priebus, mas também figuras como o radical Stephen Bannon, que também já teve os seus 15 minutos de fama no topo da Casa Branca.

A acusação contra o ainda chefe de gabinete do Presidente norte-americano é que ele é um dos principais responsáveis pelas fugas de informação da Casa Branca para os jornais. E que fugas são essas? Anthony Scaramucci garante que ele e Donald Trump estão mais preocupados com fugas sobre o Irão, a Síria ou a Coreia do Norte, mas basta recuar um pouco no tempo para encontrar a primeira – e recorrente – queixa na Casa Branca sobre fugas de informação: reuniões com responsáveis russos durante a campanha eleitoral, de que ninguém tinha ouvido falar e que Donald Trump negava.

Na noite de quarta-feira, Scaramucci pegou no Twitter e disparou uma mensagem enigmática mas que foi rapidamente descodificada por Ryan Lizza, um comentador da CNN que conquistou quatro prémios de excelência em jornalismo, e por Philip Rucker, chefe dos correspondentes do Washington Post na Casa Branca (dois órgãos de informação que Donald Trump acusa de lançarem notícias falsas): segundo os dois jornalistas, o objectivo do director de comunicação da Casa Branca era mesmo acusar Reince Priebus de ser o autor das fugas de informação de que Donald Trump tanto se tem queixado.

"Por causa da fuga de informação sobre a minha declaração de rendimentos, que é um crime, vou falar com o FBI e o Departamento de Justiça", escreveu o director de comunicação da Casa Branca, antes de incluir no fim da sua mensagem o nome de utilizador de Reince Priebus no Twitter.

A mensagem foi apagada mais tarde, mas a armadilha montada para expor Reince Priebus já tinha alcançado o resultado pretendido. Na manhã desta quinta-feira, Scaramucci entrou em directo no programa New Day, da CNN, e encurralou o chefe de gabinete da Casa Branca: "Eu respeito os jornalistas como o Ryan Lizza, que sabem quem são os responsáveis pelas fugas de informação e não me dizem. Mas quando eu partilho um tweet com o nome do Reince e eles dizem que o responsável é ele, então ele que explique que não é responsável por fugas de informação."