Afinal morreram 65 pessoas no incêndio de Pedrógão, diz Expresso

Semanário noticia que há pelo menos mais uma vítima mortal que não consta da lista oficial. Será uma mulher que morreu atropelada quando tentava fugir do incêndio. PSD e Bloco de Esquerda reclamam um esclarecimento do Governo.

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Adriano Miranda

Pelo menos mais uma pessoa terá morrido devido ao incêndio de Pedrógão Grande, segundo o semanário Expresso, que na edição deste sábado afirma que a lista de vítimas mortais da tragédia é de 65 e não de 64, questionando a possibilidade de este rol ser ainda maior.

A 65.ª vítima será uma mulher de 71 anos que vivia sozinha e foi atropelada a 17 de Junho perto de sua casa, quando tentava fugir das chamas, refere o Expresso. O semanário explica que este nome não integra a lista oficial uma vez que apenas foram consideradas as vítimas directas da tragédia – ou seja, as pessoas que morreram devido às queimaduras ou por inalação de fumo.

A vice-presidente do PSD, Teresa Morais, e a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, já reclamaram um esclarecimento do Governo. "É uma matéria de imensa gravidade que não pode estar sujeita a especulações de qualquer espécie", defendeu Teresa Morais à SicNotícias, enquanto Catarina Martins, sublinhando que esta notícia é "perturbadora", enfatizou que “o país tem de conhecer exactamente a dimensão da tragédia” do incêndio.  

"Existir um caso significa que há alguma coisa que não está bem feita", disse Catarina Martins, para quem é essencial ouvir as populações afectadas pelo incêndio no âmbito da investigação que está em curso.

A assessoria de imprensa do gabinete do primeiro-ministro remeteu qualquer esclarecimento para o gabinete da ministra da Administração Interna - que por sua vez remeteu uma resposta para o Ministério da Saúde. Numa informação ao PÚBLICO que foi enviada na sexta-feira e não se referia especificamente ao caso noticiado pelo Expresso, o Ministério da Saúde garantiu ser "infundada a suspeita de um número de óbitos superior ao oficialmente divulgado". 

"No Instituto de Medicina Legal foram realizadas autópsias a 64 cadáveres relacionados com o grande incêndio de Pedrogão. O Delegado de Saúde do PIN [Pinhal Interior] informou que, após a noite de 17 para 18 [de Junho], não mais foi convocado para qualquer outra verificação de óbito relacionada com o incêndio", assegura o Ministério da Saúde.

Lista oficial não divulgada

Foi a filha da idosa atropelada ao fugir do incêndio que relatou ao semanário as circunstâncias da morte da mãe: “Levava uma lanterna, o telemóvel e o dinheiro que tinha em casa e foi encontrada na estrada, com a cabeça e o braço partido". O autor do atropelamento fugiu, mas já terá sido identificado pela GNR.

Sublinhando que nas localidades afectadas pela tragédia circulam listas informais com diferentes números totais de mortos, devido a repetições de nomes, o jornal publica a lista oficial com a identificação e as circunstâncias em que as pessoas morreram.

Esta lista não foi ainda divulgada pelas autoridades que se recusam a fazê-lo, alegando que o caso está em segredo de Justiça, no âmbito do processo-crime que investiga as circunstâncias das operações de combate ao fogo e resgate às vítimas. Um inquérito que servirá para perceber se há ou não responsabilidades criminais.

Expresso explica, aliás, que pediu a lista oficial ao Ministério da Justiça, que esclareceu que a identificação das vítimas mortais é "informação emergente da actividade do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses e da Polícia Judiciária". Esta informação, acrescenta, está "integrada no inquérito-crime do Departamento de Investigação e Acção Penal da Comarca de Leiria, que se encontra em segredo de justiça".

Questionando os critérios de contabilização oficial das mortes, o semanário acrescenta que, entre os 64 óbitos anunciados pelas autoridades, há pelo menos um caso em que a vítima morreu igualmente num acidente rodoviário. Trata-se de um bombeiro de Castanheira de Pêra que ficou gravemente ferido na sequência de um choque entre viaturas quando combatia o incêndio na madrugada de 18 de Junho. Morreu no dia seguinte no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

Na resposta ao PÚBLICO, o Ministério da Saúde frisa que os relatórios diários dos hospitais apenas referem esta morte hospitalar relacionada com um incêndio (o bombeiro de Castanheira de Pera). E acrescenta que o sistema  informático de registo de óbitos da Direcção-Geral da Saúde e da Direcção-Geral de Registos e Notariado, que regista as vítimas mortais por concelho de residência, tem nas duas semanas que se seguiram à tragédia (de 18 de Junho a 1 de Julho) um número de óbitos "aquém do esperado (6 óbitos em 2017 contra 10 nas semanas homólogas de 2016 nos concelhos de Pedrógão, Figueiró e Castanheira)".

O incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande (Leiria) no dia 17 de Junho provocou oficialmente 64 mortos e mais de 200 feridos e apenas foi dado como extinto uma semana depois.

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