"Ousou sempre ir mais além": as reacções à morte de Américo Amorim
Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal, morreu nesta quinta-feira. O empresário tinha 82 anos e uma fortuna avaliada em 4,4 mil milhões de dólares.
Marcelo Rebelo de Sousa
"Américo Amorim atravessou, com a sua carreira empresarial, mais de meio século de vida português. Empreendedor, determinado, persistente e, muitas vezes, visionário, marcou, de modo inabalável, sectores da vida económica, como o da cortiça, e culminou o seu percurso com posição decisiva no domínio petrolífero"
Filipe Pinhal
"O sr. Américo Amorim foi a pessoa mais intuitiva para os negócios que eu conheci. Tinha o faro apurado de um perdigueiro, para apanhar a perdiz. Apanhava as ideias no ar, reagia no imediato.”
E Filipe Pinhal concretiza com o episódio ocorrido quando o BCP estava a ser constituído: “A Comissão delegada da Assembleia Geral do BCP [chefiada por Amorim] juntava os maiores accionistas fundadores e quando a reunião terminava havia um almoço, onde os presentes se distribuíam por três mesas. E na que era presidida pelo sr. Amorim sentavam-se os accionistas do Norte, como Elídio Pinho, António de Melo, Álvaro Costa Leite, Ludgero Marques, Ferreira de Magalhães, António Gonçalves, José Machado de Almeida - que saíam mais cedo para apanharem o avião. E eu [Pinhal] também me sentava naquela mesa. Durante as refeições todos eles iam falando de hipóteses de negócios, procurando seduzir e atrair o interesse de Américo Amorim que na maioria das vezes fingia que não os ouvia. Mas quando atribuía interesse a um projecto, então, Amorim parava, punha as costas direitas, e mobilizava os dois braços, mantendo os talheres na posição em que se encontrava: ‘Isso pode ter muito interesse.’ E normalmente eram as únicas hipóteses empresarialmente interessantes.”
Jorge Coelho
“Conheci o sr. Américo Amorim há muitos anos, quando fui ministro [1995] e adorava falar com ele a sós, pelas histórias que me contava e pelo que podia aprender”, declarou Jorge Coelho, ex-ministro das Obras Públicas e da Administração Interna e ex-presidente da Mota Engil.
O dirigente socialista confessa que ainda retém uma frase que ouviu a Américo Amorim e “que nunca" esquecerá: "A base do meu sucesso foi ter desde bem cedo viajado muito por todo o mundo.’” Uma ideia que o empresário iria repetir quando comemorou os 50 anos de actividade numa cerimónia no Norte, onde Jorge Coelho esteve presente. “Era sem dúvida um homem da globalização” num tempo em que viajar não era habitual. Jorge Coelho acrescenta que Américo Amorim “era um grande homem com qualidades humanas, alguém que se tornou o maior empresário em Portugal.”
João Rui Ferreira, presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR)
"Via oportunidades onde, durante muito tempo, outros só viam dificuldades, e ousou sempre ir mais além, catapultando o sector para o lugar cimeiro que hoje ocupa e olhando sempre para o mundo como espaço de afirmação da cortiça"
Emídio Sousa, presidente da Câmara de Santa Maria da Feira
"Como qualquer ser humano, Américo Amorim estava sujeito à influência da idade e do tempo, mas a diferença é que continuará a viver na nossa memória por muitos séculos por ter sido uma figura ímpar e um modelo de empresário e cidadão exemplar”
Jorge Jardim Gonçalves
“É uma personalidade de muito trabalho, de muito sentido de família, com a mulher sempre a apoiá-lo. Com grande capacidade de definição estratégica, de preservar e de resistir a dificuldades. É justo lembrar que foi um grande empresário e um bom investidor”
Luis Mira Amaral
“Morreu um grande amigo e um grande empresário”, disse ao PÚBLICO o ex-ministro Luís Mira Amaral, que conheceu o empresário na década de 1970 quando era quadro do Banco de Fomento Nacional (BFN) e o grupo Amorim cliente da instituição: “O BFN era um grande financiador da indústria portuguesa e, na altura, os irmãos Amorim tinham interesses no sector da cortiça. E, mais tarde cruzamo-nos novamente quando fui ministro do Trabalho e ministro da Indústria e apreciei muito a visão estratégica e o faro dele para o negócio.”
O ex-presidente do banco luso-angolano BIC, uma parceria entre Isabel dos Santos e Américo Amorim, salienta ainda que “ [Américo Amorim] sempre saiu atempadamente dos negócios, nomeadamente do imobiliário e da banca [BNC/Banco Popular e BIC Portugal], onde chegou a deter posições de referência”. Mira Amaral evoca ainda: “E em apanhei-o de novo quando Isabel dos Santos e Fernando Teles me convidaram para lançar o BIC Portugal, num almoço em que Amorim esteve presente.” E “tornei-me seu amigo e de toda a sua família.”
Carlos Rodrigues, presidente do banco BIG
“Sempre gostei muito do senhor Américo Amorim. O que me ocorre dizer é que ele era um grande cavalheiro, um humanista e um empresário de primeira linha e, como português, orgulho-me de ter sido seu amigo”, diz, recordando ainda a humildade e a defesa dos interesses de Portugal. “Era um homem sem vaidade, que levou uma vida sempre a defender os interesses de Portugal e a manutenção dos centros de decisão em Portugal. Era um empresário livre, com as qualidades que um grande empresário deve ter”
Isabel dos Santos
"Américo Amorim, um grande capitão da indústria, um homem com paixão pela criação de valor, riqueza, emprego e constante empreendedor de projectos", escreveu Isabel dos Santos, considerada pela revista Forbes como a mulher mais rica de África. A empresária angolana acrescentou, sobre o empresário, com quem partilhou negócios na área da energia, cimentos e imobiliário, que "a sua vida marcou a economia de Portugal".
Nuno Botelho, presidente da Associação Comercial do Porto (ACP)
"Um exemplo para todos os empresários portugueses"