Icebergue gigante desprendeu-se na Antárctida
A fissura num grande bloco de gelo tinha vindo a crescer a um ritmo acelerado nos últimos meses. Nesta quarta-feira a separação foi confirmada por imagens de satélite.
São quase seis mil quilómetros quadrados de gelo que estão à deriva, depois de se terem desprendido da plataforma Larsen C, na Antárctida Ocidental. O desprendimento de uma área gelada superior à do território de países como o Brunei, Cabo Verde ou o Luxemburgo foi confirmado nesta quarta-feira por cientistas, através de imagens recolhidas por satélite.
Um fenómeno já registado no passado mostra que estas alterações, com a entrada em oceano de blocos de gelo com um tamanho tão significativo, podem subir o nível do mar.
O risco de cisão e desprendimento já vinha a ser apontado durante os últimos meses, devido ao rápido crescimento da fissura que separava o bloco e a plataforma de gelo. Estava unido à massa de gelo apenas por cinco quilómetros, com a separação a verificar-se já ao longo de 200 quilómetros.
Desde Fevereiro que a fenda na plataforma Larsen C parecia ter abrandado a sua progressão no gelo, mas a 1 de Maio foi observada uma mudança no cenário branco. Uma das pontas do risco no gelo abriu-se em duas, apresentando agora uma bifurcação semelhante à língua de uma cobra. O “novo ramo”, que nasceu dez quilómetros antes do fim da fenda, surgiu mais perto do mar e dirigia-se para a frente de gelo, segundo os dados recolhidos pelo cientistas do Projecto Midas, da Universidade de Swansea, no País de Gales (Reino Unido), que acompanham a evolução da plataforma Larsen C. Na altura em que as imagens foram registadas, o ramo tinha cerca de dez quilómetros de comprimento e não aumentava o tamanho da fenda original, mas já se sabia que iria acentuar a fragilidade do bloco do gelo, formando uma ponta com duas brechas.
Em Janeiro, quando só havia uma fenda, o rasgo no gelo já tinha cerca de 175 quilómetros, faltavam 20 para se partir. Com o tal abrandamento registado desde Fevereiro, as duas pontas quase paralelas da fenda chegavam aos 180 quilómetros em Maio. Segundo os investigadores, a abertura deste novo ramo terá surgido quando a fissura original atingiu gelo mais macio e por isso mais difícil de se fracturar, transferindo a pressão e tensão para outra zona do bloco.
Já se sabia que quando este bloco de gelo se soltasse, a plataforma Larsen C perderia mais de 10% da sua área; daqui resulta que a frente de gelo fica na posição mais recuada de sempre. “Este fenómeno vai mudar de forma fundamental a paisagem da Península Antárctica”, alertaram os investigadores dedicados ao Projecto Midas, lembrando que a “nova configuração será menos estável”.
As lições aprendidas com a desintegração da Larsen A e a Larsen B, em 1995 e 2002, mostram também que a entrada no oceano destes grandes blocos de gelo, que são a parte final dos glaciares, aumenta o nível do mar. A lista de plataformas de gelo que se partiram, recuaram ou perderam volume nas últimas décadas é longa. Faz parte do ciclo de vida dos glaciares. Uma das explicações para este tipo de fenómenos está centrada nas alterações climáticas. E a Península Antárctica é dos locais que têm estado a aquecer mais depressa no planeta: desde 1950, a temperatura média anual do ar subiu cerca de três graus Celsius. Porém, esta separação do icebergue da plataforma flutuante de gelo poderá ter também causas naturais, uma vez que os colapsos destas placas são frequentemente o resultado de questões dinâmicas. O mais provável mesmo será estarmos a assistir ao resultado da força da natureza, empurrada pela mão humana. com Liliana Borges