Ao primeiro encontro, Putin e Trump anunciam trégua no Sul da Síria

Os presidentes da Rússia e dos Estados Unidos reuniram em Hamburgo, à margem da cimeira do G20 e revelaram "grande entendimento" e uma "química positiva".

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LUSA/MICHAEL KLIMENTYEV / SPUTNIK / KREMLIN POOL / POOL
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O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve o seu primeiro encontro face a face com o homólogo russo, Vladimir Putin em Hamburgo, no G20. A reunião devia ter durado 30 minutos, mas acabou por se prolongar por quase duas horas e meia, e de lá saiu um anúncio de compromisso para um cessar-fogo no Sudoeste da Síria, a partir das nove horas de domingo.

"É a primeira indicação de que os Estados Unidos e a Rússia são capazes de trabalhar juntos na Síria”, observou o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson. O acordo de “apaziguamento” conta também com a assinatura da Jordânia, que faz fronteira com a província síria de Daraa – onde bombardeamentos do regime de Assad deitaram por terra uma trégua informal.

“Nos últimos dois anos, essa frente [de guerra] esteve muito mais parada do que o resto da Síria, uma vez que os aliados dos rebeldes limitaram o seu apoio”, sublinhava o The Guardian. O acordo russo-americano negociado em Hamburgo terá um valor mais simbólico do que prático, interpretavam os analistas.

Após meses de especulações sobre como seria o relacionamento dos Ppesidentes norte-americano e russo, coube a Tillerson informar que os dois rapidamente demonstraram um “grande entendimento” e revelaram uma “química positiva”. “Deram-se tão bem que nenhum dos dois queria pôr fim à reunião”, disse o chefe da diplomacia americana, que participou no encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, e os tradutores das respectivas delegações.

Na sua curta interacção para as câmaras antes da reunião – que decorreu enquanto os restantes 18 líderes do G20 terminavam uma sessão conjunta sobre o desafio das alterações climáticas, onde reafirmaram o seu compromisso com o Acordo de Paris para combater o aquecimento global, abandonado pelos EUA – os dois líderes trocaram sorrisos e elogios.

Putin não manifestou qualquer incómodo com o endurecimento da linguagem de Trump em comentários sobre a “desestabilização” russa na Ucrânia na véspera do encontro. E o Presidente dos EUA não se mostrou constrangido pelas suspeitas de conluio com a Rússia para derrotar a sua adversária democrata, Hillary Clinton, que pairam sobre membros da sua campanha e da Casa Branca.

“Senhor Putin, é uma honra estar consigo”, afirmou Trump, que esperava que “muitas coisas positivas venham a acontecer para a Rússia, para os EUA, para toda a gente”. Ignorando as perguntas sobre a interferência da Rússia na campanha presidencial americana, Trump disse que as suas conversas ao telefone com Putin têm sido “muito, muito boas”.

“Estou encantado por poder finalmente conhecê-lo. Espero que esta nossa reunião tenha bons resultados”, replicou Putin, depois de confirmar aos jornalistas que apesar de os seus telefonemas para a América para discutir “importantes questões bilaterais e internacionais” serem muito produtivos, “as conversas ao telefone não são suficientes”.

A quantidade de “assuntos bilaterais e internacionais" que os Presidentes tinham para discutir era infindável: dos grandes temas inscritos pela anfitriã Angela Merkel na agenda do G20, o comércio livre e as alterações climáticas, às questões das migrações e do combate ao terrorismo levantadas pelos líderes da União Europeia, aos focos de conflito que preocupam Estados Unidos e Rússia mas nos quais se encontram em lados opostos: a guerra da Síria e a instabilidade no Golfo Pérsico ou a ameaça nuclear da Coreia do Norte.

Segundo Putin, as discussões centraram-se na “Ucrânia, Síria e outros problemas bilaterais. Também abordamos a luta ao terrorismo e a cibersegurança”, revelou à agência russa Interfax, antes de entrar na sala de mais uma ronda bilateral, com o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe. Trump deixou o centro de congressos de Hamburgo e seguiu (com uma hora de atraso) para a recepção, jantar e concerto na Elbphilarmonie, à beira rio, sem falar sobre o encontro – que segundo Rex Tillerson, começou com uma “robusta e demorada troca de ideias” sobre a alegada interferência da Rússia “em processos democráticos nos EUA e outros países”.

Tillerson disse aos jornalistas americanos, que Trump “mais do que uma vez pressionou Putin sobre a ingerência na eleição de 2016”, com o Presidente russo a desmentir qualquer responsabilidade em actividades ilegais. Na versão de Serguei Lavrov para os media russos, o Presidente dos EUA disse a Putin que achava “estranho” que se continuasse a falar do envolvimento de Moscovo na campanha quando não havia “nenhuma prova” disso – o Presidente russo confirmou-lhe ter conhecimento dos seus desmentidos, que subscrevia.

No fim do primeiro dia de trabalhos da cimeira, a chanceler alemã Angela Merkel reconheceu que as negociações entre os diferentes países sobre as questões comerciais estão a ser “muito difíceis”. “Prevejo uma longa noite de trabalho para sermos capazes de chegar a um consenso que possa ser vertido para o comunicado final”, disse a chanceler. Sem se referir explicitamente à postura dissidente dos EUA, Merkel acrescentou que a maior parte dos participantes concorda que o comércio deve ser libre mas também “justo”, uma expressão que Donald Trump gosta de utilizar.

O Presidente norte-americano também teve o seu primeiro encontro frente-a-frente com o seu vizinho do Sul, Enrique Peña Nieto, que deveria ter sido o primeiro chefe de Estado a visitar Washington após a tomada de posse de Trump, mas acabou por cancelar a visita por causa da polémica construção de um muro na fronteira entre os dois países. O assunto não foi abordado na reunião, embora Trump tenha insistido que a estrutura será paga pelo México: “Absolutamente”, respondeu aos jornalistas. Os dois países concordaram iniciar o processo de revisão do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (que abrange também o Canadá) em meados de Agosto.

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