Madeira cria faixa corta-fogo para proteger o Funchal
Eucaliptos e acácias serão substituídos por árvores folhosas. Será construída uma rede de caminhos agrícolas com bocas de incêndio.
A Madeira vai avançar, já este ano, com uma faixa corta-fogo à volta da cidade do Funchal. O projecto do governo madeirense vai ser implantado numa área de 420 hectares, que tem sido das zonas mais fustigadas pelos incêndios que ciclicamente assolam a ilha.
Só nos últimos seis anos, foram três grandes incêndios (2010, 2012 e 2016), tendo o do ano passado sido dramático, ao provocar a morte a três pessoas e a consumir perto de 22% da área total do município do Funchal.
O objectivo desta zona tampão é claro. “Queremos diminuir o risco de incêndios e aumentar a segurança das populações”, indica ao PÚBLICO a secretária regional do Ambiente e Recursos Naturais, Susana Prada, explicando que a intervenção do governo, que irá custar, numa primeira fase, 1,35 milhões de euros, compreende a retirada de espécies altamente combustíveis como eucaliptos e acácias, a construção de uma rede viária florestal e um reservatório de água.
“Desta forma, criamos uma barreira que impede a passagem do fogo, facilitando o trabalho dos bombeiros e evitando incêndios de grande dimensão e intensidade”, acrescenta a secretária regional do Ambiente e Recursos Naturais, dizendo que o primeiro passo para esta faixa de gestão de combustíveis incide na própria gestão da floresta.
Eucaliptos, acácias e giestas – plantas que possuem elementos que potenciam a propagação das chamas, como óleos inflamáveis –, serão substituídos por árvores folhosas e com elevado teor de água, como castanheiros, carvalhos e espécies indígenas.
A zona será depois acompanhada e monitorizada, para que o espaço florestal seja mantido limpo e com reduzida carga combustível. “Isto irá permitir criar descontinuidades horizontais e verticais no interior da floresta, dificultando a propagação do fogo", prossegue a secretária regional do Ambiente e Recursos Naturais.
Em simultâneo, será aberta uma rede de caminhos florestais, que terá uma dupla função. Por um lado vai facilitar o acesso para os trabalhos de “silvicultura preventiva”, reflorestação e, numa fase mais operacional, a deslocação de meios de combate a incêndios. Por outro, vai criar aceiros. “Descontinuidades sem vegetação que travem a progressão das chamas por falta de combustível.”
O projecto, que contempla a aquisição de terrenos, já começou a ser implementado. Estão a decorrer trabalhos de limpeza em cerca de 81 hectares em paralelo com outros, desenvolvidos por privados, e financiados por fundos comunitários.
Bocas de incêndio de 500 em 500 metros
Nos caminhos agrícolas serão instalados bocas de incêndio de 500 em 500 metros (250 metros nas zonas sinalizadas como sendo mais críticas), que serão alimentadas por uma rede de tanques de água e por um reservatório com capacidade para 1500 metros cúbicos, a ser construído.
O reservatório servirá, futuramente, os meios de combate a aéreos que venham a ser colocados no arquipélago.
No rescaldo dos incêndios de Agosto passado, o executivo madeirense pediu ao Ministério da Administração Interna um estudo sobre a possibilidade de utilização destes meios na região, tendo em conta as especificidades orográficas e demográficas.
Foram realizadas testes envolvendo um avião e um helicóptero ligeiro. E a 20 de Junho passado chegaram ao Funchal as conclusões do relatório, dando luz verde a esses meios de combate.
O governo regional criou já uma “estrutura de missão” que, até Setembro, vai apresentar uma proposta de implementação dos meios aéreos, tendo em consideração recursos, acções a desencadear e custos associados.