Coreia do Norte diz que "prenda" para os "sacanas americanos" tem capacidade nuclear

Kim Jong-un gargalhou com o sucesso do primeiro míssil intercontinental e diz que este pode transportar ogiva. ONU condena "escandalosa violação" e reúne Conselho de Segurança, com China a apelar à calma.

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A KCNA libertou imagens que atribui ao acompanhamento por Kim Jong-un do lançamento do teste do míssil intercontinental Reuters/KCNA
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A KCNA libertou imagens que atribui ao acompanhamento por Kim Jong-un do lançamento do teste do míssil intercontinental Reuters/KCNA
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No Japão, uma transmissão televisiva mostrada numa rua em Tóquio mostra Kim Jong-un após o lançamento do míssil de teste LUSA/KIMIMASA MAYAMA
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A KCNA libertou imagens que atribui ao acompanhamento por Kim Jong-un do lançamento do teste do míssil intercontinental LUSA/KCNA HANDOUT
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A inspecção de um Hwasong-12, numa fotografia não datada divulgada pela KCNA Reuters/KCNA

Numa altura em que várias fontes confirmam que a Coreia do Norte lançou mesmo um míssil balístico intercontinental, Kim Jong-un diz agora que o teste que visava assinalar o Dia da Independência norte-americano foi com um projéctil capaz de transportar uma ogiva nuclear – e descreveu a acção como o envio de “uma encomenda de prendas” para “os sacanas americanos”. A China pediu entretanto calma e contenção e que o seu aliado que não viole resoluções das Nações Unidas.

O teste, bem como o alegado desenvolvimento do arsenal, estão proibidos à Coreia do Norte por várias resoluções da ONU.

As declarações do Presidente norte-coreano são citadas pela agência de notícias da Coreia do Norte, a KCNA, que indica que Kim disse que o teste de segunda-feira (horas locais) completava o armamento estratégico do seu país, arsenal que diz agora incluir bombas de hidrogénio e atómicas, bem como mísseis balísticos intercontinentais. A agência Reuters indica, por seu turno, que esta quarta-feira Pyongyang confirmou que o míssil intercontinental, o primeiro a ser lançado e testado com sucesso, tem capacidade de transporte de uma ogiva nuclear de grande dimensão. Segundo os especialistas, para ser operacional, um míssil intercontinental teria de ter uma ogiva nuclear de pequena dimensão, além de outra tecnologia que a protegesse do calor extremo da reentrada na atmosfera.

Os peritos internacionais têm-se mostrado cépticos quanto à capacidade de Pyongyang armar um míssil com capacidade nuclear, sendo que previam que a probabilidade de a Coreia do Norte ter um míssil intercontinental era também distante no tempo. O teste do míssil intercontinental – não armado com capacidade nuclear – surgiu mais cedo “e com muito mais sucesso do que o esperado”, disse à Reuters o perito em armamento John Schilling, que colabora com o projecto de monitorização da Coreia do Norte 38North. Até que estes mísseis tenham “mínima capacidade operacional” deverão passar um ou dois anos, defende Schilling. A agência KCNA diz ainda que o teste verificou positivamente vários requisitos do novo míssil, como a reentrada na atmosfera, por exemplo.

A KCNA noticia ainda que Kim Jong-un avisou que não negociará com os EUA, cujo secretário de Estado, Rex Tillerson, classificou terça-feira o teste do míssil interncontinental como “uma nova escalada da ameaça”. Até Washington abandonar a sua política hostil contra o país, diz a KCNA, o seu Presidente não entrará em conversações sobre o destino do armamento.   

Sobre o teor das declarações de Kim em torno do lançamento bem sucedido do míssil, diferentes fontes dão detalhes distintos. A Reuters cita a KCNA dizendo que “ele, com um amplo sorriso na sua cara, disse aos responsáveis, cientistas e técnicos que os EUA ficariam desagradados… porque lhes foi dada ‘uma encomenda de prendas’ no seu ‘Dia da Independência’”, acrescentando que o chefe de Estado ordenou que sejam “enviadas aos ianques ‘encomendas de prendas’ grandes e pequenas com frequência”. Tudo para que “eles não fiquem demasiado entediados”, divulga ainda a KCNA sobre as declarações e “gargalhadas” do chefe de Estado norte-coreano.

Já diários britânicos britânicos como o Guardian ou o Telegraph mostram um lado mais verrinoso das declarações de Kim Jong-un, escrevendo que a KCNA descreveu Kim “a deleitar-se” com o míssil e que o míssil foi descrito sim como um presente para “os sacanas americanos” – o New York Times destaca também o termo, escrevendo ainda que Kim Jong-un destacou o “óptimo timing” do lançamento para “atingir os americanos arrogantes no nariz” em vésperas do 4 de Julho. O míssil usado, que terá sido um Hwasong-14, “era tão bonito quanto um rapaz bem parecido e era bem feito”, terá descrito Kim Jong-un, fotografado em êxtase e de punho erguido rodeado de militares no momento do lançamento da projéctil.

Entretanto, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, criticou “mais uma escandalosa violação das resoluções do Conselho de Segurança", que "constitui uma perigosa escalada da situação”, pedindo que o país “ponha fim a mais actos provocatórios” e cumpra a regulamentação internacional. Esta quarta-feira, dia em que se realiza um encontro de urgência, à porta fechada, do Conselho de Segurança das Nações Unidas para discutir a situação norte-coreana, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, recomendou à Coreia do Norte que não viole as resoluções da ONU e pediu contenção ao seu aliado.

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