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Eurodeputados portugueses criticam Juncker e o funcionamento do Parlamento Europeu

Sessões plenárias pouco prioritárias e uma agenda com muitas sobreposições justificam muitas ausências no plenário. Tajani, que não gostou das críticas, pode estar a preparar mudanças nas regras de assiduidade.

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Junker e o Parlamento quase vazio EPA

O eurodeputado português Carlos Zorrinho, no seu mural no Facebook, criticou as palavras do presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, que chamou "ridículo" ao Parlamento Europeu que na manhã desta terça-feira encontrou quase vazio na sessão de balanço dos seis meses de presidência de Malta. "‘Ridículo’ é marcar um debate prioritário ao mesmo tempo que decorrem reuniões de grupos de trabalho e de coordenação de comissões", escreveu Zorrinho.

O eurodeputado socialista diz que esteve no debate. "Eu estive parcialmente e usei da palavra. No início tive que participar num grupo de trabalho onde se debatiam as questões da Venezuela, Cuba e Brasil (áreas em que tenho particulares responsabilidades)".

Prossegue dizendo que "todos" os deputados da Delegação do PS no Parlamento Europeu que não estavam no plenário estavam em Grupos de Trabalho, reuniões de comissões "e até num dos casos numa reunião com uma Comissária, convocada pela própria. (Falo destes deputados porque como Presidente da Delegação conheço a sua agenda)".

Críticas idênticas fazem outros deputados, que mencionam as sobreposição na agenda do PE. Os eurodeputados do PSD garantiram ao PÚBLICO que estavam a trabalhar no Parlamento Europeu à hora em que começou o debate em plenário com o presidente da Comissão. Acontece que há outros compromissos que decorrem em simultâneo, explica a delegação do PSD.

Os deputados do PCP explicam também ao PÚBLICO que marcam presença assídua nos trabalhos do plenário. Porém, o Regimento do PE permite que durante as sessões plenárias decorram simultaneamente várias reuniões (comissões parlamentares, entre outras). Os eurodeputados comunistas frisam que estiveram no plenário durante a manhã — Miguel Viegas fez uma intervenção no debate a seguir ao da presidência maltesa.

Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, criticou Juncker porque "preferiu pôr todos os deputados e toda a gente na UE a falar sobre esta coisa do ‘ridículo’ em vez de se estar a discutir o verdadeiro debate que acontece hoje nesta casa, que é sobre a criação do exército europeu", cita o esquerda.net.

"O Sr. Juncker não tinha rigorosamente nada para dizer sobre a presidência de Malta e resolveu criar um facto sem a mínima relevância política", afirmou Marisa Matias aos jornalistas após o plenário. "Sobre dar importância à França e Alemanha, o Sr. Juncker que nos dê explicações, porque ele é que anda sempre atrás da França e da Alemanha, não são os eurodeputados", prosseguiu Marisa, segundo o mesmo jornal.

As palavras enfurecidas de Junker foram proferidas na sessão do Parlamento em que, estimou, estavam apenas 30 dos 751 eurodeputados, segundo as suas contas. "Não é sério", disse. "Se em vez de [Joseph] Muscat [primeiro-ministro de Malta] estivesse aqui Angela Merkel ou Emmanuel Macron, a sala estaria a transbordar", criticou o presidente da Comissão Europeia.

O presidente do Parlamento, o italiano Antonio Tajani, não gostou. Acusou Juncker de falta de respeito pela instituição. "Pode criticar o Parlamento, mas não é função da Comissão controlar o Parlamento — é o Parlamento que tem de controlar a Comissão", disse. Juncker respondeu a letra: "Trinta deputados na sessão plenária para controlar a Comissão? Vocês são ridículos".

Fonte do Parlamento Europeu disse ao PÚBLICO que, posteriormente, Junker e Tajani conversaram, com o Presidente da Comissão a "lamentar" as palavras proferidas no plenário.

Tajani, disse a mesma fonte, já levantou a questão sobre a presença dos eurodeputados no plenário várias vezes, podendo haver "novidades sobre a questão em breve".

Os eurodeputados portugueses insurgem-se também com as regras para as suas intervenções no plenário. Ana Gomes, que no Twitter escreveu "que está presente no plenário quando tem algo a dizer e quando pode ter a palavra", diz que no primeiro debate da manhã, não teve a palavra.

"Ridículo é um grupo parlamentar como o meu, com 52 deputados eleitos, ter dois minutos de tempo de palavra para esse debate que é dito prioritário", disse Marisa Matias. Explicou de seguida a sua agenda para o dia: "Eu estava cá às 7h30 e às 8h da manhã tive uma audiência com o vice-presidente da Comissão, o Sr. Dombrovskis. A seguir estive a negociar o parecer que elaborei sobre o combate às desigualdades na UE". "Ridículo é haver um parlamento que tenha a funcionar ao mesmo tempo que o plenário as comissões, votos em comissões, reuniões de grupos parlamentares, conferências de presidentes de comissão, de presidentes de delegação… enfim, todo o tipo de reuniões. E nós não temos o dom da omnipresença", concluiu.

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