Conhecimento sobre os incêndios não está a chegar a operacionais e populações

Especialistas chamam a atenção para o facto de fogos se combaterem com conhecimento.

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Incêndio de Pedrógão Grande Adriano Miranda

Especialistas consideram que o conhecimento científico e tecnológico sobre prevenção e combate a fogos florestais existe em Portugal, mas não está a chegar aos operacionais nem às populações por “opção política”. Investigadores e académicos falaram esta segunda-feira sobre o estado do conhecimento científico sobre os fogos, no Encontro Ciência 2017, que decorre até quarta-feira, no Centro de Congressos de Lisboa.

Durante a sessão, cientistas, professores universitários e técnicos concluíram que o conhecimento científico e técnico sobre prevenção e combate a incêndios existe, mas não está a ser transmitido aos operacionais no terreno nem às populações que vivem nas zonas mais vulneráveis aos fogos. “As populações não sabem o que fazer na prevenção, na situação de incêndio e na recuperação das áreas ardidas”, alertou o investigador Miguel Almeida, da Universidade de Coimbra, considerando que “a informação deveria ser partilhada”.

Miguel Almeida acrescentou que “a tecnologia” para o combate aos incêndios florestais “existe, mas não está a chegar aos postos de comando”. “É impensável gerir um incêndio se não se sabe onde estão as chamas”, assinalou, lembrando que simuladores de comportamento de fogo podem auxiliar as operações de combate.

O presidente do Instituto de Telecomunicações, Carlos Salema, sustentou também que “o conhecimento não está a passar para os comandos operacionais”. “É essencial que as pessoas tenham formação sobre os meios, os equipamentos que estão a usar”, afirmou, salientando a importância da “organização no comando das operações” de combate aos incêndios.

Em declarações à agência Lusa, o investigador José Miguel Cardoso Pereira, do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia (ISA) de Lisboa, justificou a falta de transmissão do conhecimento científico e técnico produzido, mais antigo e recente, com a “opção política”. Segundo o professor catedrático do ISA, “o conhecimento não está a chegar ao terreno, por opção política”, porque os incêndios são encarados como “um problema da protecção civil, que se resolve combatendo os incêndios”.

O combate aos fogos está direccionado para a protecção das populações e das habitações, relegando para terceiro plano a floresta, advogou, vincando que “o esforço do combate” às chamas “em defesa da floresta é pequeno” em Portugal e que a prevenção de incêndios e a gestão florestal “estão subalternizadas”.

A este propósito, José Miguel Cardoso Pereira criticou a falta de um organismo de defesa da floresta contra incêndios, que poderia ser constituído por técnicos, bombeiros, militares da GNR, guardas florestais com “treino especializado para trabalhar com as questões relacionadas com o fogo o ano inteiro”. “Não há ninguém a tempo inteiro com a função específica de gerir o fogo”, disse, dando como exemplos os fogos controlados para reduzir a matéria combustível, a criação e limpeza de faixas de contenção das chamas e a recuperação de áreas queimadas.

O investigador e docente apontou, ainda, a “falta de investimento público para apoiar” os proprietários privados de terrenos florestais “em acções de prevenção” de fogos.

“Ou o país quer governar o fogo, ou vai ser governado pelo fogo”, defendeu Tiago Oliveira, investigador do Centro de Estudos Florestais do ISA, de Lisboa. Esta ideia foi reforçada João Claro, investigador do INESC – TEC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Tecnologia e Ciência), frisando que um fogo como o que deflagrou em Junho, em Pedrógão Grande, causando 64 mortos e mais de 200 feridos, “combate-se com conhecimento”.

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