Vêm aí as candidaturas ao superior. Os rankings ajudam a escolher?
As listas internacionais são mais valorizadas pelos alunos que admitem estudar no estrangeiro. Mas mesmo quem quer escolher uma universidade em Portugal pode retirar informação útil. Por exemplo, quais são as que têm mais prestígio?
Terminada a 1.ª fase dos exames nacionais do ensino secundário, as atenções dos alunos começam a voltar-se para o ensino superior. O concurso nacional de acesso começa a 19 de Julho. Os rankings internacionais de universidades, muitos dos quais divulgados mais ou menos nesta altura, podem ajudar a tomar uma decisão sobre que caminho tomar. A questão é saber como lê-los.
Rankings como o que é feito pela Universidade de Leiden, por exemplo, publicado em Maio, baseiam-se exclusivamente em indicadores de produtividade científica. O de Xangai – que nesta quarta-feira publicou a sua lista por disciplina, onde Portugal tem 14 instituições representadas – também valoriza, sobretudo, este tipo de indicadores. Isto importa a estudantes que procuram uma licenciatura?
Sim, acredita o reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, uma vez que a qualidade da investigação transfere-se para dentro das salas de aulas: “Só ensina bem quem sabe bem aquilo que ensina. E para isso é preciso fazer boa investigação.”
Outro aspecto que os alunos devem valorizar quando lêem um ranking destes são os indicadores de reputação. O ranking de Xangai, que começou a ser publicado em 2003 pela Universidade Jiao Tong de Xangai, tem em conta por exemplo os grandes prémios académicos recebidos por professores e investigadores de cada instituição e os artigos publicados em revistas científicas de renome.
Já a lista da publicação especializada britânica Times Higher Education (THE) toma em consideração a opinião de empregadores sobre os diplomados e mede a percepção da qualidade de cada instituição através de entrevistas. “Muitas famílias olham, sobretudo, para o prestígio das instituições na hora de escolherem. Isso está reflectido nos rankings”, sustenta o investigador da Universidade Aberta João Caetano, que é especialista nestas listas de comparação internacional.
João Caetano reconhece que o prestígio não é o critério essencial que preside à escolha de um curso superior pela maior parte dos alunos. Sobretudo entre as famílias de classes sociais mais baixas, o mais determinante é a proximidade da instituição, por motivos que têm a ver com os custos de uma estadia longe de casa.
Apenas as famílias de estratos sociais mais elevados “fazem um outro juízo sobre as escolas”, considera. “Para essas não há problema nenhum em enviar um filho para os Estados Unidos ou para o Reino Unido e aí os rankings já são fundamentais.”
Os rankings são também “determinantes” para a atracção de alunos internacionais, considera o presidente do Instituto Politécnico de Bragança, João Sobrinho Teixeira, mas “a nível nacional o impacto não é tão forte”, pelo menos para já. “Existe um estigma social muito forte sobre a interioridade e os institutos politécnicos que é extremamente penalizante”, lamenta o responsável de um instituto que, apesar da interioridade, está presente no ranking de Xangai por disciplinas na área de Tecnologia Alimentar e consta também da lista de Leiden.
O “estigma” que Sobrinho Teixeira diz pesar sobre a instituição transmontana cria uma situação paradoxal no politécnico, que é um estabelecimento relativamente pequeno, com cerca de 6000 estudantes nacionais, mas que tem 1500 alunos internacionais inscritos. É a percentagem de estrangeiros mais elevada de todo o sistema de ensino superior nacional: 20%. A expectativa de Sobrinho Teixeira é que quem anda nesta altura a estudar hipóteses de percurso académico considere o reconhecimento internacional que a instituição de Bragança tem.
Datas-chave da escolha
Para os alunos portugueses, o momento da escolha no 12.º ano aproxima-se. Os resultados da 1.ª fase dos exames nacionais do ensino secundário são divulgados no dia 13 de Julho. Seis dias depois começa a 1.ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior. Os estudantes podem candidatar-se até 8 de Agosto.
Os resultados serão conhecidos a 11 de Setembro, mas para os que queiram ingressar num curso de uma universidades ou politécnico há mais duas oportunidades: a 2.ª fase, que vai de 11 a 22 de Setembro, e a 3.ª, que se estende de 4 a 9 de Outubro.
Olhando para os rankings internacionais, há um grupo de seis instituições com lugar cativo em todas as principais listas: as universidades de Lisboa, Porto, Coimbra, Aveiro, Minho e Nova de Lisboa.
A estas juntam-se outras instituições com uma presença mais esporádica, como o ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, a Universidade da Beira Interior, o Instituto Politécnico de Bragança e a Universidade Católica, que é a única instituição particular que aparece habitualmente nos rankings internacionais — em particular na área de gestão de negócios.
O cenário tem, de resto, vindo a melhorar em particular nos dois últimos anos. Por exemplo, as universidades de Aveiro e do Minho entraram no ranking de Xangai no ano passado e na última edição da lista Quacquarelli Symonds (feita por uma companhia britânica), publicada no início deste mês.
Também a Universidade da Beira Interior e o ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa surgiram na nova edição do ranking de universidades jovens publicado, em Abril, pelo Times Higher Education.
“Tem havido uma grande melhoria”, assinala João Caetano. As principais universidades nacionais tomaram a opção de se assumirem como “universidades globais” e para isso “passaram a jogar com as regras globais”, analisa o investigador da Universidade Aberta. Por isso, e apesar de todas as dificuldades financeiras pelas quais passaram, houve “uma grande preocupação em corrigir os seus problemas”. Os rankings também reflectem isso.