Pedrógão Grande: bombeiros queixam-se de desordenamento do território
Comandantes dos bombeiros de Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos defendem criação de faixas de contenção dos incêndios
Os comandantes das corporações de bombeiros de Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos consideram que falta ordenamento do território, sugerindo a plantação de vegetação mais resiliente ou a criação de faixas de contenção dos incêndios.
"Se tiver 100 hectares de floresta, em que tenho uma faixa de contenção de 30 ou 40 metros, eu sei que só me vão arder aqueles 50 hectares. É como fazem os espanhóis", disse à agência Lusa o comandante da corporação de Figueiró dos Vinhos, Paulo Renato, sublinhando que, queimando a outra parcela da floresta com uma estratégia de contrafogo, consegue-se estancar o avanço das chamas.
O comandante dos bombeiros voluntários de um dos concelhos fortemente afectados pelo incêndio que começou no sábado, em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e que provocou pelo menos 64 mortos, considera que "o ordenamento da floresta é o essencial".
"As pessoas não aprendem", notou, recordando que já houve outros grandes incêndios no passado na região.
"Ninguém diz para se abrirem umas faixas. Nos próximos dez anos, ninguém tem nada para vender [de produtos florestais], mas também ninguém se vai preocupar em limpar", sublinhou Paulo Renato.
Outra medida que considera necessária é utilizar máquinas de rasto e limpeza com lâmina em torno de habitações ou zonas habitacionais.
Dessa forma, os bombeiros têm garantia de que "ali não há habitações queimadas e é muito mais fácil para o combate", porque deixam de estar preocupados com essa zona, referiu.
“A floresta está mal organizada. Se tiver vegetação com 15 metros de altura, tenho que ter uma área aberta de 30 metros, que é o dobro, e não há. Temos estradões com dez metros de largura, se a vegetação é maior, se a chama dobra, passa a estrada”, explanou.
Já o comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande, Augusto Arnaut, apostaria mais na plantação de vegetação mais resistente ao fogo, como carvalhos ou castanheiros, entre culturas mais inflamáveis, como é o caso do eucaliptal ou pinhal, muito presentes na região.
"Vivemos no meio da floresta. Cada incêndio tem pernas para andar", constatou.
Paulo Renato acrescentou que "toda a gente sabe" o que se deve fazer, "mas, agora, (…) tem de ser o Estado".