Em Góis, fogo levou à evacuação de um lar de idosos e deixou um funeral a meio
Ao longo do dia foram evacuadas 27 aldeias do concelho de Góis. Ao final do dia o secretário de estado Jorge Gomes dizia que a situação estava a melhorar
Cidália Nunes fala com a inquietação de quem recebeu a visita da GNR ao início da manhã e teve que abandonar a casa onde vive há 20 anos. As ordens dos militares eram para evacuar a população da pequena aldeia do Cadafaz, concelho de Góis, uma das 27 de onde as pessoas foram retiradas por causa do incêndio que lavra desde sábado à tarde.
“A casa é velhota, com traves da madeira, a gente tem medo. O fogo andava nos montes em volta”, afirma Cidália já no centro de Góis, para onde a população das aldeias foi deslocada e onde as pessoas aguardam por notícias que lhes permitam regressar a casa. Por ali passou já um vizinho que lhe disse entretanto que a situação já estava mais calma. O fogo “andou por lá, mas parece que já foi”, refere a idosa. A casa ainda estará em pé.
Ataíde e Fernanda Henriques vivem em Coimbra, mas também têm uma casa no Cadafaz, cuja população não chegará às duas dezenas. “A polícia mandou tirar a gente porque o fogo era muito”, conta Fernanda. Em frente à Associação Educativa e Recreativa de Góis, que acolheu parte dos deslocados durante o dia, o casal que foi retirado da aldeia de manhã refere que lá só ficaram quatro pessoas mais jovens, para ajudar a combater o fogo. “Nunca vi nada assim, com a idade que tenho”, desabafa, Ataíde, de 68 anos. A saída das pessoas interrompeu mesmo um funeral. “Está lá, na casa mortuária”, atira Fernanda, referindo-se ao caixão que aguarda por enterro.
Ao final da tarde tinham sido evacuadas 27 aldeias, mais nove que de manhã, mas não havia uma contabilidade do número de deslocados. O secretário de Estado, Jorge Gomes, disse aos jornalistas que a medida foi tomada mais por precaução. Quando tinham sido evacuadas 18 aldeias, o número de deslocados rondava a centena. O governante apelava a que as populações se mantivessem em casa, uma vez que os militares da GNR estão a percorrer todas as povoações. No movimento de retirada de pessoas das aldeias foi também evacuado um lar de idosos da Cáritas Diocesana de Coimbra na Cabreira, frequentado por 56 idosos.
Face à situação, ao final do dia, a Comissão Distrital de Protecção Civil activou o plano distrital de emergência.
As populações não estão em perigo, mas há operacionais no terreno a proteger os bens, garantiu o secretário de Estado, Jorge Gomes. O governante esteve durante o dia no posto de comando operacional localizado no parque eólico das Malhadas, num monte da Serra da Lousã (concelho de Góis), que chegou ser ameaçado pelas chamas. Durante a tarde o fogo subiu a encosta da montanha e pouco antes das 18h esteve a escassos metros do sítio onde estavam instalado o centro da operação, desde o secretário de Estado aos comandantes da protecção civil. A situação acabou por ser controlada em poucos minutos.
O incêndio de Góis chegou a ter uma linha de 58 quilómetros de comprimento de chamas e mais três focos de incêndio, mas ao final do dia, quando começaram a cair alguns pingos de chuva, Jorge Gomes indicava que o incêndio de Góis já estaria “com dimensões mais reduzidas” e com “algumas zonas contidas”. “A situação está a evoluir positivamente e as extensões das linhas de fogo são mais reduzidas”, referiu o governante. Choveu com intensidade em alguns pontos, o que terá ajudado no combate às chamas.
O dia começou com 743 operacionais a combater o incêndio, mas o contingente foi reforçado. No terreno estão 1086 operacionais, entre bombeiros de várias corporações de Norte a Sul do país e exército. Estão também em 376 viaturas, cinco meios aéreos e 4 máquinas de arraste.
Até ao fecho da edição, as pessoas que foram retiradas das suas casas e do lar de idosos ainda não tinham tido autorização para regressar.
José Tereso, presidente da Administração Regional de Saúde do Centro, adiantou ao PÚBLICO que que os serviços de saúde em Góis estarão aberto 24 horas por dia, com um reforço de profissionais de médicos e enfermeiros. As pessoas que foram evacuadas são, na sua maioria idosas, pelo que o responsável recomenda a todos os deslocados que se desloquem ao seu médico de família para obterem os medicamentos de que necessitam.