Fugiu à guerra na Síria e morreu no incêndio em Londres
Um refugiado sírio é a primeira vítima mortal identificada do incêndio em Londres. “Sobreviveu a Assad, à guerra na Síria para acabar por morrer numa torre em Londres. Não há palavras”, disse um amigo. Oficialmente estão confirmadas 17 mortes mas a polícia acredita que o número vai aumentar.
Está identificada uma das vítimas mortais do incêndio na Torre Grenfell, em Londres. Mohammad al-Haj Ali, um refugiado sírio e estudante de engenharia civil na University of West London, de 23 anos, é o primeiro nome a ser conhecido. Para além de Mohammad, estão confirmadas 17 mortes (e mais de 78 pessoas feridas) mas a polícia admite que possam existir mais vítimas no interior da estrutura.
Por causa do fumo, Mohammad ficou para trás enquanto tentava escapar com o seu irmão Omar do edifício onde as chamas deflagraram durante a madrugada de quarta-feira. Voltou sozinho para o seu apartamento, no 14.º andar, e ficou lá fechado durante duas horas, altura em que fez algumas chamadas para amigos e familiares na Síria, escreve o Telegraph. Acabou por enviar uma última mensagem: “O fogo chegou aqui agora, adeus”.
“Sobreviveu a Assad [presidente da Síria], à guerra na Síria para acabar por morrer numa torre em Londres. Não há palavras”, lamentou Abdulaziz Almashi, um amigo da família e fundador da associação de solidariedade Syrian Solidarity Campaign. “Isto é terrível. Depois de tudo aquilo por que passou, um sítio seguro leva-o à morte”, disse Marjorie Bahjad, uma amiga dos dois irmãos.
“[Mohammad] passou de um governo que começa guerras com os seus próprios cidadãos a um governo que negligencia os regulamentos de habitação… Quando teremos líderes que se importam com os seus cidadãos?”, questionou. O alarme de incêndio não disparou no prédio de 24 andares e, nos últimos anos, um grupo de moradores tinha publicado repetidos avisos e críticas sobre a falta de segurança na torre. “Parece que nós, os britânicos, o decepcionámos – era suposto ele estar seguro connosco”, concluiu Marjorie.
Fontes da família e amigos confirmaram que o irmão de Mohammad – Omar, de 25 anos – sobreviveu ao incêndio e encontra-se no Hospital Kings Cross a recuperar da inalação de fumo.
No hospital encontram-se, por causa do incêndio, pelo menos 37 pessoas hospitalizadas, 17 das quais em estado crítico. Para além dos 78 feridos, estão oficialmente confirmadas 17 mortes. Ainda assim, o comandante da polícia britânica, Stuart Cundy, disse à Reuters que era expectável que o número de vítimas mortais aumentasse e que os bombeiros não estão confiantes de que consigam resgatar sobreviventes dos destroços, apesar de terem conseguido salvar cerca de 65 pessoas. Cundy referiu ainda que a prioridade, neste momento, não é precisar o número de mortos mas sim “identificar e localizar as pessoas que ainda estão desaparecidas”. "Mas espero que os números não cheguem aos três dígitos", acrescentou Cundy, admitindo que algumas vítimas possam não ser identificadas e que as buscas demorem meses.
Segundo o Telegraph, o número de mortes pode ascender até aos 100, já que há famílias inteiras cujo paradeiro é desconhecido e outras centenas de pessoas (dos cerca de 500 moradores do edifício) que continuam desaparecidas. Entre os desaparecidos está uma família de cinco pessoas (marido, mulher e três filhas) oriundas do Líbano. Como viviam no 24.º andar, acredita-se que não tenham conseguido escapar às chamas.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, ordenou já a abertura de um inquérito público para investigar este incêndio. "As pessoas querem respostas", disse May: "Precisamos de saber o que aconteceu, precisamos de uma explicação para isto", acrescentou.