O ministro, a pasteleira e a funcionária pública. O Erasmus fez deles europeus
Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação, foi um dos galardoados nesta terça-feira numa sessão comemorativa dos 30 anos do programa de intercâmbio, no Parlamento Europeu.
Quando Tiago Brandão Rodrigues entrou na Universidade de Coimbra, em 1995, “praticamente não se falava de Erasmus”. Mas nos quatro anos seguintes começou “uma verdadeira revolução”. A mais antiga universidade do país passou a receber cada vez mais estudantes estrangeiros e isso contaminou toda a gente. “Fascinou-me completamente”, contou o ministro da Educação, pouco tempo depois de ter sido um dos galardoados pela Comissão Europeia e o Parlamento Europeu a propósito dos 30 anos do programa de mobilidade, numa sessão comemorativa realizada nesta terça-feira, em Estrasburgo.
“Foram estes Erasmus estrangeiros os primeiros que me ensinaram o que era ser verdadeiramente europeu”, lembrou Brandão Rodrigues no seu discurso no plenário do Parlamento Europeu. O ministro português foi um dos três escolhidos para se dirigir aos deputados, juntamente com a artista sueca Alexandra Pascalidou e um jovem alemão, Jens Schmitz, que recentemente terminou a sua formação profissional.
A influência dos estrangeiros que conheceu em Coimbra levou-o a querer ter a mesma experiência. Foi para a Universidade Autónoma de Madrid onde esteve dez meses a fazer o projecto de investigação que servia para finalizar o seu curso de Bioquímica. E esse foi também o ponto de partida para 15 anos fora do país que o levariam à Universidade de Cambridge, onde era investigador antes de entrar no Governo.
"Vale a pena arriscar"
Desde então, o Erasmus mudou e alargou o âmbito dos intercâmbios também ao ensino não superior e profissional, áreas em que Tiago Brandão Rodrigues tem hoje responsabilidades governativas. O ministro quer, por isso, ver o programa europeu chegar a um cada vez maior número de portugueses nesses níveis de ensino. Os argumentos “são os mesmos”, diz: “Vale a pena arriscar. Sai-se valorizado da experiência”.
Desde 2014 que o Erasmus se alargou a outros âmbitos que não apenas o ensino superior. Entre os 33 representantes dos países participantes escolhidos pelo Parlamento Europeu e a Comissão Europeia para serem galardoados nesta terça-feira havia desportistas, artistas, professores e empresários. Eram pessoas com experiências diversas dentro das várias vertentes do Erasmus. Percebia-se, porém, uma grande atenção às pessoas que tinham feito intercâmbio durante a sua formação profissional.
É o caso de Nazaret Rodrigues, uma espanhola de 27 anos que, há dois anos, foi para França fazer um estágio na Potel et Chabot, uma das maiores empresas de catering do mundo. Trabalhou lado a lado com o campeão mundial de pastelaria, Marc Rivièrem e com chefs com estrelas Michelin como Anne Sophie Pic e Guy Savoy. Também serviu os convidados do torneio de ténis de Roland Garros ou os passageiros do Expresso do Oriente.
A experiência marcou-a profissionalmente. Hoje trabalha no restaurante de nouvelle cuisine Don Gil, em Albacete. As consequências sentiram-se também em termos pessoais. “Conhecer gente de todo o lado faz-te perceber que somos iguais”, conta. “Não importa que um fale uma língua e outro outra”.
A experiência Erasmus de Serap Bilal, 30 anos, começou “quase por acidente”. Há dez anos, esta turca, que hoje trabalha numa agência governamental do seu país, tinha um part-time na biblioteca da Universidade de Antália. A Turquia dava então passos no sentido da entrada na União Europeia e a instituição onde trabalhava recebia documentação sobre diferentes iniciativas europeias. Ao arquivar aqueles documentos, Serap acabaria por encontrar informação sobre um programa de intercâmbio.
Dez anos em Erasmus
Era o Erasmus. Inscreveu-se e foi para a Universidade de Bona, na Alemanha. A partir daí acumulou uma experiência Erasmus de uma década. Primeiro no Serviço de Voluntariado Europeu, na Hungria. Depois, em dois programas de formação, na Bélgica e na Roménia. “Cresci com o programa.”
Serap está entre os 14 mil turcos que todos os anos participam no Erasmus. Mais do que os 8000 estudantes anuais que Portugal envia para fora do país. A Turquia é um dos cinco países que não pertencem à UE, mas são membros do programa. Para a jovem turca, a grande incerteza agora é se isso vai continuar a acontecer depois de 2020, data em que termina o actual quadro de financiamento europeu.
O dia em Estrasburgo não serviu apenas para celebrar os 30 anos do Erasmus e partilhar histórias de sucesso. Foi também tempo de falar do futuro. A presidente da comissão parlamentar de Educação e Cultura, Petra Kammerevent, deputada alemã do partido social-democrata europeu, introduziu o tema na conferência de imprensa realizada de manhã: “pelo menos 3% do orçamento europeu” devem ser destinados ao programa Erasmus no próximo programa de financiamento europeu, que começará após 2020, defendeu. Isso quer dizer cerca de 30 mil milhões de euros, praticamente o dobro do que foi destinado ao programa no actual quadro.
Pouco depois, dois homens do Partido Popular Europeu, o presidente do Parlamento, Antonio Tajani, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Junker, deram-lhe razão, na sessão plenária. “É preciso um orçamento europeu com fundos adequados para apoiar o Erasmus”, disse o primeiro. “Conto convosco para que o Orçamento Europeu esteja à altura do talento dos nossos jovens”, acrescentou o segundo.
O jornalista viajou a convite do Ministério da Educação