Milhares manifestam-se em Madrid pelo encerramento da central de Almaraz
"O caso só está encerrado quando a central de Almaraz encerrar", alertou a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins.
Vários milhares de espanhóis e portugueses manifestaram-se neste sábado nas principais avenidas de Madrid para exigir ao Governo espanhol o encerramento de todas as centrais nucleares da Península Ibérica, a começar pela de Almaraz.
Os manifestantes, que tiveram de enfrentar uma temperatura de cerca de 35º C, tinham cartazes e gritaram palavras de ordem como "Não ao nuclear, fechar Almaraz", "Fechar Almaraz, descanse em paz" ou "Nós só queremos fechar Almaraz". A manifestação realizou-se no dia em que a central, na fronteira com Portugal, faz 40 anos.
Segundo a plataforma que organizou a manifestação, o Movimento Ibérico Antinuclear (MIA), estiveram presentes representantes de mais de 125 organizações dos dois países ibéricos.
O MIA pretende que o Governo espanhol encerre as centrais nucleares existentes à medida que forem caducando as actuais licenças de exploração e defende a passagem para um modelo energético "renovável, justo e sustentável".
Presente na manifestação, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, alertou que a central nuclear de Almaraz "está obsoleta, já devia ter encerrado e é absolutamente inaceitável a sua manutenção, porque é um risco muito grande para todos".
Em declarações ao PÚBLICO, Catarina Martins criticou a posição do Governo português que optou por dar Almaraz como um caso encerrado e assunto soberano de Espanha, não tendo por isso abordado a questão na recente cimeira ibérica. “O caso só está encerrado, quando a central de Almaraz encerrar. Esta questão não vai sair da agenda e era importante que o Governo agisse em conformidade, até porque o Parlamento português aprovou por unanimidade uma resolução a favor do encerramento”, disse.
Portugal e Espanha alcançaram uma "resolução amigável" para o litígio em torno da central nuclear de Almaraz, com Lisboa a retirar em Fevereiro último uma queixa apresentada junto da Comissão Europeia por Madrid ter aprovado a construção de um aterro de resíduos nucleares em Almaraz sem ter consultado Portugal.
Outra deputada portuguesa que se deslocou a Madrid, Heloísa Apolónia do Partido Ecologista Os Verdes, acusou o Governo português de se ter "encolhido muito face ao Governo espanhol", por ainda não ter dito que Almaraz devia encerrar em 2020.
"Nós respeitamos a soberania espanhola" para tomar a decisão de encerrar Almaraz, mas "no fundo estamos a renegar a soberania portuguesa, [...] quando estamos a falar de uma central nuclear que é um risco transfronteiriço", insistiu a deputada.
Por seu lado, o vice-presidente da Quercus, Nuno Sequeira, realçou que "os dois povos [espanhol e português] estão unidos contra esta forma nefasta de produção de energia", acrescentando que agora só falta os dois Governos perceberem "que as pessoas não querem as centrais nucleares".