Ilga lança projecto para combater a homofobia e transfobia nas escolas

Dados indicam que 94% dos jovens da comunidade LGBT são alvo de comentários e comportamentos homofóbicos e transfóbicos nos estabelecimentos de ensino portugueses.

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Iniciativa visa actuar nas escolas do norte do país Reuters/LUCY NICHOLSON

A Associação Ilga Portugal — Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo lançou, nesta terça-feira, um projecto que visa travar o bullying homofóbico e transfóbico. Aliança Da Diversidade (ADD) é o nome do projecto, dirigido a estudantes de escolas da região norte e que a instituição pretende alargar a todo o país.

A iniciativa visa a "promoção da cidadania activa de jovens em contexto escolar na região norte do país", que irá também disponibilizar um atendimento e acompanhamento psicossocial semanal a jovens LGBTI, adianta a associação em comunicado.

Segundo dados da Agência para os Direitos Fundamentais da União Europeia, 94% dos jovens LGBT ouvem ou testemunham comentários e comportamentos negativos em contexto escolar em Portugal". "As vítimas de crimes de ódio e de discriminação em função da orientação sexual e da identidade de género são bastante jovens. A violência é muitas vezes exercida por colegas e por familiares, e raramente é denunciada", refere a ILGA Portugal.

"Jovens LGBTI reportam mais episódios de bullying e discriminação, correndo maior risco de exclusão. Tal como demonstrado de forma exemplar no episódio recente ocorrido na Escola Secundária de Vagos, em Aveiro, promover a solidariedade entre pares e a visibilidade neste âmbito é a melhor forma de prevenir a violência e a discriminação", disse o o coordenador do projecto, Telmo Fernandes, no dia em que várias organizações, em colaboração com a ILGA, promoveram acções em diferentes pontos do país.

Em Coimbra, a Não Te Prives - Grupo de Defesa do Direitos Sexuais organizou a concentração para “defender uma escola sem homofobia” em frente à sede da Direcção-Geral de Equipamentos Escolares do Centro.  À margem do protesto que não juntou mais de 10 pessoas, a presidente Rita Alcaire referiu ao PÚBLICO que é preciso assegurar que as escolas “são espaços seguros para os alunos expressarem os seus afectos”. A representante defendeu ainda que, relativamente ao sucedido em Vagos (onde duas alunas vistas a beijarem-se na escola terão sido chamadas à direcção para serem informadas de que não se podiam fazê-lo), é necessário perceber “o que é que o ministério vai fazer para que não haja novos episódios como este”.

Questionário online

O projecto ADD, apoiado pelo programa Portugal 2020, pretende fornecer recursos e ferramentas para que possam "organizar grupos, idealmente com a colaboração de professores ou outros elementos significativos da comunidade escolar", adianta a ILGA. O objectivo é que estes grupos se constituam como "dinamizadores de actividades regulares de visibilidade positiva da diversidade em função da orientação sexual, da identidade e expressão de género em contexto escolar, e como polos activos de prevenção da discriminação dentro das escolas", acrescenta.

A directora executiva da ILGA Portugal, Marta Ramos, adianta que este projecto vem no seguimento das "inúmeras iniciativas e recursos educativos" que a associação tem vindo a desenvolver com vista "ao combate ao bullying homofóbico e transfóbico". "Este projecto surge para aprofundar este trabalho e o objectivo é que possa vir a ser alargado a todo o país."

A ILGA lança também nesta terça-feira um "Estudo Nacional sobre o Ambiente Escolar", dirigido a jovens LGBTI, com mais de 14 anos e que estejam a frequentar o ensino regular ou profissional. O estudo visa "aprofundar o conhecimento acerca das experiências de jovens LGBTI em contexto educativo, que em boa medida permanecem invisibilizadas pelas práticas, currículos, manuais e regulamentos escolares, e cujas vivências de discriminação são em grande medida silenciadas e permanecem por denunciar", adianta.

O questionário, confidencial e anónimo, pode ser acedido na sua página oficial. Os resultados serão divulgados no final do ano e pretendem contribuir para a "implementação de políticas educativas inclusivas mais eficazes". O estudo tem o apoio técnico da organização norte-americana GLSEN e conta com a colaboração do Centro de Psicologia da Universidade do Porto e do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE-IUL.