Conflito entre Qatar e vizinhos com impactos no céu

Perda de acesso ao espaço aéreo da Arábia Saudita provoca dificuldades à Qatar Airways.

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A Qatar Airways deixa de poder utilizar o enorme espaço aéreo da Arábia Saudita nos voos para a Europa e EUA. Reuters/Regis Duvignau

O levantamento dos custos do corte de relações entre o Qatar e vários dos seus vizinhos -- Bahrein, Egipto, Arábia Saudita, Iémen e Emirados Árabes Unidos – ainda está por fazer, mas o mais visível será o impacto nas viagens de avião. Neste momento, e na sequência das acusações de que o Qatar apoia o terrorismo, a companhia aérea desta país, a Qatar Airways, já ficou sem acesso ao espaço aéreo da Arábia Saudita,  e as transportadoras do Dubai e de Abu Dhabi, a Etihad e Emirates, vão cancelar as ligações para o Qatar a partir desta terça-feira. Numa altura em que o Qatar se apresenta, tal como Abu Dhabi, como um hub internacional, estas alterações vêm introduzir barreiras, com menos hipóteses de transferes e alterações às rotas, havendo ligações que podem ficar mais demoradas (e mais caras). 

Saj Ahmed, analista chefe da StrategicAero Research, afirmou à Reuters que o espaço aéreo vai ser afectado "por voos a serem redireccionados, especialmente por parte da Qatar Airways, que deixa de poder utilizar o enorme espaço aéreo da Arábia Saudita nos voos para a Europa e para os Estados Unidos da América”. No primeiro trimestre deste ano, passaram pelo principal aeroporto do Qatar quase dez milhões de passageiros. 

Conforme recorda a Reuters, o actual choque entre vizinhos é mais severo do que o de 2014, altura em que a Arábia Saudita, o Bahrain e EAU retiraram os seus embaixadores de Doha. O caso durou oito meses, mas nunca afectou as ligações aéreas.

A actual situação acontece numa altura em que várias companhias aéreas da região do Médio Oriente foram afectadas pela proibição de aparelhos electrónicos, como computadores portáteis, nos voos para os EUA (excepto no porões). 

De acordo com os últimos dados da IATA, divulgados na passada quinta-feira, referentes a Abril, houve uma descida de 2,8% nos voos de companhias aéreas do Médio Oriente para os EUA. Em sete anos, foi a primeira que tal aconteceu. Neste momento, os EUA estão ainda a analisar se alargam a proibição de aparelhos portáveis, que afecta países como Arábia Saudita, Qatar, e os EAU, aos voos com origem na Europa.

Mais compras por mar

O Qatar, país produtor de petróleo que vai receber o Mundial de Futebol de 2022, vai ter também de fazer algumas alterações na forma como se abastece. A venda de crude ao exterior está assegurada, mas parte das suas importações, nomeadamente alimentares, entram no país pela Arábia Saudita através de vias terrestres. Agora, a alternativa, além da via aérea, é receber os bens por via marítima. Isso, no entanto, deverá tornar os produtos mais caros, com impactos nas empresas e na população local.

Depois, há também efeitos ao nível dos trabalhadores deslocados, já que as recentes decisões diplomáticas implicam a saída dos cidadãos dos países envolvidos. Só no Qatar, diz a BBC, existem 180 mil egípcios a trabalhar em sectores como construção e engenharia ou medicina. Empurrado pelas notícias, o principal índice bolsista do Qatar caiu 7,3% esta segunda-feira.  

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