“Emigração portuguesa deixou de crescer”
O saldo das remessas o resultado de uma emigração elevada e de uma imigração muito menor, diz Rui Pena Pires, mas agora a saída de portugueses foi estancada.
Para Rui Pena Pires, investigador do Observatório da Emigração, é provável que saldo das remessas continue a subir “por mais alguns anos”, devido ao “efeito acumulado das migrações na última década: emigração em alta e imigração reduzida”. Em respostas por escrito, este especialista na área da emigração diz que, no caso da França, de onde vem 33% do valor global, “o passado explica o valor elevado das remessas, os anos mais recentes explicam o seu crescimento”.
Em termos de remessas, o saldo entre entradas e saídas tem vindo a subir desde 2001. É expectável que se mantenha assim nos próximos anos?
Apesar de uma ligeira diminuição da emigração e de um pequeno aumento da imigração, é provável que o saldo continue a subir por mais alguns anos devido ao efeito acumulado das migrações na última década: emigração em alta e imigração reduzida.
O dinheiro enviado por emigrantes em França tem subido, e vale um terço do total enviado para Portugal no ano passado. É ainda o reflexo do passado, ou mais do que isso?
O aumento das remessas de França é a consequência do aumento da emigração para França e da sua estabilização num patamar elevado nos últimos cinco anos: cerca de 18 mil entradas de portugueses por ano naquele país. A França é hoje o segundo destino mais importante da emigração portuguesa logo a seguir ao Reino Unido. O passado explica o valor elevado das remessas, os anos mais recentes explicam o seu crescimento.
Verifica-se também um aumento de remessas vindas do Reino Unido…
O Reino Unido é, desde 2011, o principal destino da emigração portuguesa, com cerca de 30 mil novas entradas anuais entre 2013 e 2015. Quer por esta razão, quer porque foi um dos países em que a emigração portuguesa mais cresceu entre 2010 e 2013 (mais de 20% ao ano), o valor das remessas tem vindo a aumentar. Sendo, no entanto, recente este aumento da emigração para o Reino Unido, o volume das remessas actualmente recebidas em Portugal com origem naquele país é ainda inferior ao que tem por origem a França, a Suíça ou mesmo a Alemanha.
Que tendências é que se verificam actualmente em Portugal no que toca ao tema da migração?
Portugal continua a ser um país com um saldo migratório muito negativo, tanto em termos absolutos como em percentagem da sua população residente. Esse saldo é o resultado de uma emigração elevada e de uma imigração muito menor do que no final do século passado. Confirma-se, no entanto, que a emigração portuguesa deixou de crescer, embora se mantenha a um nível elevado. Do lado da imigração é também visível uma pequena subida, embora parte dessa subida seja o resultado do regresso de emigrantes e não da entrada de novos estrangeiros. Globalmente, estamos ainda longe da superação do saldo migratório, mas pelo menos este deixou de aumentar.
Tem alguma ideia que explique a quebra acentuada do valor das remessas enviadas para Portugal verificada em 2002, face ao ano anterior? Passa de 3737 para 2818 milhões de euro, mas nas saídas não se verifica essa diferença…
De 2001 para 2002 mudou a moeda em Portugal e consumou-se a criação da zona euro. A quebra verificada é em grande parte o resultado dessas mudanças, mais do que de quaisquer alterações no volume da emigração. As consequências da entrada em vigor do euro no plano das remessas foram múltiplas: problemas de registo, abandono da transferência das poupanças por inexistência, a partir de então, de moedas diferentes na origem e no destino… As questões monetárias são, aliás, sempre relevantes quando se analisa a evolução das remessas. Quando estas têm origem em países fora da zona euro é sempre necessário avaliar que parte da evolução poderá ser explicada por eventuais alterações cambiais e não por qualquer alteração quer no valor das remessas na sua origem, quer no volume da emigração.