A imunologista Maria de Sousa é prémio Universidade de Lisboa 2017

A descoberta da cientista portuguesa consta hoje de qualquer manual sobre o sistema imunitário.

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A imunologista Maria de Sousa Nuno Ferreira Santos

O Prémio Universidade de Lisboa 2017 foi atribuído nesta sexta-feira à imunologista Maria de Sousa, de 77 anos – “uma das primeiras mulheres portuguesas a serem reconhecidas internacionalmente pelas suas descobertas científicas”, considerou o júri do prémio.

Depois de se formar em Medicina em 1963, pela Faculdade de Medicina de Lisboa, Maria de Sousa começou uma carreira na investigação científica. Entre 1964 e 1966, esteve nos Laboratórios de Biologia Experimental em Mill Hill, em Londres, como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. E foi em Londres que fez uma grande descoberta que consta hoje de qualquer manual de imunologia.

Até 1964, pensava-se que todos os linfócitos (células do sistema imunitário) vinham do timo e que, após a nascença, iam proliferar e amadurecer nos órgãos linfáticos periféricos (como os gânglios). Maria de Sousa percebeu que não era assim, em experiências com ratinhos aos quais foi removido o timo logo após o nascimento. Porque viu que esses ratinhos continuavam a ter linfócitos nos órgãos linfáticos periféricos.

E, além disso, percebeu que naqueles órgãos dos ratinhos sem timo havia espaços deixados vazios, ou seja, espaços destinados aos linfócitos do timo. As áreas sem linfócitos eram diferentes de outras áreas ocupadas por outros linfócitos. Essa zona reservada aos linfócitos do timo é hoje conhecida por Área T. E ao fenómeno de migração dos linfócitos tanto do timo como da medula óssea (onde também se formam) para microambientes específicos nos órgãos linfóides Maria de Sousa chamou “ecotaxis”.

Em 1967, rumou à Universidade de Glasgow (Escócia), onde se doutorou em imunologia em 1972 e permaneceu até 1975. Daí seguiu para os Estados Unidos – o Instituto Sloan Kettering para a Investigação do Cancro, a Faculdade de Medicina de Cornell e a Faculdade de Medicina de Harvard. Em 1984, regressou a Portugal, sendo professora catedrática de imunologia no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (no Porto) desde 1985 até à sua jubilação em Outubro de 2009.

“Profundamente estimada e muito respeitada na comunidade científica, Maria de Sousa é também uma humanista que cultiva o gosto pelas artes, pela história e pela poesia”, considerou ainda o júri do Prémio Universidade de Lisboa 2017. “A Universidade de Lisboa premeia uma mulher que contribuiu de forma notável para o progresso da ciência e a projecção de Portugal no mundo.”

O júri é presidido pelo reitor da Universidade de Lisboa, António Cruz Serra, e inclui entre outras personalidades o director do PÚBLICO, David Dinis.

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