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Ricardo Cabral: "A ideia que exageramos em crescimento não tem fundamento"

O economista defende uma reacção rápida do Governo, já este ano, não deixando medidas para o próximo ano. E diz que há uma margem de 1.500 milhões de euros que deveria ser aproveitada para investimento.

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LM miguel Manso

O país cresceu de forma mais acelerada no primeiro trimestre do ano e os números mais recentes do Banco de Portugal mostram que a actividade económica continua a acelerar no segundo trimestre do ano. Perante as notícias positivas, o economista Ricardo Cabral defende que o executivo comece a pensar de forma diferente para acompanhar e não para travar as potencialidades da economia.

Perante os números do crescimento, o que é possível fazer?
Este crescimento é o resultado de uma conjuntura externa muito favorável, desde as taxas de juro, petróleo, choque no turismo, economias a crescer. São vários factores a darem um impulso positivo. Ao fim de sete anos em que as empresas não contrataram ninguém, a certa altura é preciso contratar. Há um estímulo positivo na economia, mas não é à toa que ninguém espera um crescimento de 4%. As expectativas adaptaram-se por baixo. O que argumento é que o crescimento pode ser mais elevado [do que está previsto] e temos de fazer coisas; temos de aproveitar as condições que existem. Durante muitos anos apertou-se o cinto em vários sentidos, cortando rendimentos e não fazendo investimento, e agora que há espaço de manobra há que aproveitar para se promover mais crescimento, ao nível do investimento.

Como por exemplo?
Dou o exemplo do Metro. Havia um plano de quatro estações, mas agora já só se fala em duas, porque não há dinheiro. É um tolice ir ao milímetro para não gastar mais dinheiro. Há uma margem de manobra de cerca de 1.500 milhões de euros que pode ser aproveitada, é um valor linear, que resulta de um cálculo simples.

O que se pode fazer para não cometer erros em crescimento?
A ideia que cometemos excessos e que exageramos em crescimento não tem fundamento, também há erros que se cometem quando se está em recessão. O que há a fazer é ter já medidas no curto prazo. Despesa de investimento em projectos e alguma reposição de rendimentos, já este ano. O governo está a limitar um bocado isso até porque se está a sair do Procedimento por Défice Excessivo e politicamente com Bruxelas não seria bem visto. Mas há medidas, até mais pequenas, já acordadas que podem vir a ser feitas. E sobretudo o investimento.

Olhando para os números, o crédito à economia continua a ser um travão?
É preciso olhar para a banca. O crédito às empresas continua a cair. É preciso ver o que está por trás das estatísticas. O facto é que está a cair 2,2% e causa uma pressão deflaccionista terrível. As empresas que querem crescer não conseguem. Estão a enfrentar constrangimentos terríveis ao crescimento. O primeiro objectivo da politica económica devia ser o crédito estagnado. Se a economia está a crescer a 4% em termos reais, para isto estar a acontecer, há sectores que estão a diminuir, mas há outros que estão a crescer a 10% e a banca não terá capacidade para acompanhar essas empresas.

O ex-economista chefe do FMI Olivier Blanchard defendeu que se poderia ter um défice mais alto se fosse para resolver o malparado. Concorda?
O crédito malparado foi sendo ultrapassado de alguma maneira. Há uma parte do malparado que resulta da profunda recessão económica. Muito desse crédito já foi ultrapassado e já foram criadas imparidades. Se a economia começa a crescer, muito desse malparado começa a resolver-se, como por exemplo no sector imobiliário. Não me parece que faça sentido entrar com mais um veículo com custos públicos.

Mas a banca portuguesa ainda sofre com o malparado...
A banca não me parece menos capitalizada que a restante banca europeia. Está, aliás, muito mais capitalizada. O que me parece que tem de ser feito é um trabalho junto das autoridades europeias e da Direcção-Geral de Concorrência para tirar um pouco a pressão [juntos dos bancos]. Parece-me que tem de haver essa negociação junto da DGComp e do Banco Central Europeu no que diz respeito aos rácios de capitais, porque o credito está a cair. Não será possível começar a aumentar o crédito, mas pelo menos que ele páre de descer.

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