Governo Macron é um arco-íris político para agradar ao grande centro
São recompensados com ministérios os aliados mais próximos do Presidente, como Gérard Collomb ou François Bayrou, e escolhidos nomes mediáticos para tentar agradar a uma maioria dos franceses.
O Governo montado pelo Presidente Emmanuel Macron e o seu primeiro-ministro, Edouard Philippe, é um arco-iris de sensibilidades políticas: se a pasta da Economia foi entregue a Bruno Le Maire, o republicano que se prontificou a colaborar com o novo Presidente francês, o socialista Jean-Yves Le Drian, um amigo de François Hollande que era ministro da Defesa no Executivo socialista, transita para o novo Governo, com a pasta da Europa e dos Negócios Estrangeiros.
Com 22 elementos, o novo Governo tem figuras do PS, d’Os Republicanos, dos centristas do MoDem e alguns independentes. Tem o mesmo número de homens e mulheres - Macron tinha prometido respeitar a paridade. Mas não há qualquer mulher entre os três ministros de Estado, e os cargos mais importantes na hierarquia foram atribuídos a homens.
Um dos ministros de Estado é François Bayrou, o líder do partido centrista MoDem, cujo apoio se tornou decisivo para credibilizar a candidatura de Macron. Foi nomeado para a Justiça. Três vezes candidato a Presidente e duas vezes ministro da Educação – de François Mitterrand e de Jacques Chirac –, regressa agora ao Governo, aos 66 anos, como uma velha raposa do sistema político francês.
Traz como agenda a aprovação de legislação para impor uma maior transparência e moralização da vida política - Traz como agenda nova legislação para impor uma maior transparência e moralização da vida política — uma preocupação que ganhou nova acuidade com a revelação de casos como os dos empregos fictícios para a sua família do candidato da direita François FIllon.
Outro ministro de Estado é Gérard Collomb, até agora presidente da Câmara de Lyon, e que fica com a pasta do Interior, tradicionalmente uma das mais importantes. Com 69 anos, é o ministro mais velho deste Governo. Este barão do Partido Socialista, um dos raros políticos a assumir ser maçon, transformou-se em parteiro do República em Marcha, o partido criado por Macron. Foi o artífice do apoio de Bayrou a Macron e um dos primeiros apoiantes da sua candidatura à presidência.
Ambiente amigo do átomo
O terceiro é Nicolas Hulot, animador de televisão, activista ambiental candidato à presidência, em 2007, que tinha recusado as ofertas para ser ministro feitas pelos dois presidentes anteriores. Desta vez, Hulot, que se tornou célebre com um programa de televisão, aceitou o convite para a nova pasta da Transição Ecológica e Solidária.
“Acho, embora não tenha a certeza, que a nova situação política oferece uma oportunidade para a acção e não posso ignorá-la”, disse no Twitter Hulot, de 62 anos, cuja popularidade é sempre bastante alta. As acções da EDF, a eléctrica nacional francesa, caíram 2,5% quando o seu nome foi anunciado, diz a Reuters.
Aplicar a lei da transição energética promulgada em 2015 será uma das tarefas de Hulot – a não ser que seja aprovada nova legislação. Esta lei inclui uma série de objectivos ambiciosos até 2050. Um deles é reduzir a um quarto a quantidade das emissões de gases com efeito de estufa e para metade o total do consumo de energia. Até 2025, a contribuição do nuclear na produção energética francesa deve ser reduzida em 50%.
Hulot é um activista ambiental, mas não é avesso ao nuclear. Ao perguntarem-lhe sobre o encerramento da central de Fessenheim, prometido mas não cumprido por François Hollande, Hulot disse que seria importante encerrá-la, mas que teria um custo social elevado, recorda a Reuters.
Expulsos d’Os Republicanos<_o3a_p>
Para a pasta das Finanças, embora com outro nome, Ministério da Acção e das Contas Públicas, foi escolhido Gérald Darmanin, um político ainda mais jovem que o Presidente francês de 39 anos – fará 35 em Outubro. O ex-director de campanha de Nicolas Sarkozy nas primárias do centro-direita demitiu-se de secretário-geral adjunto d’Os Republicanos no decorrer do escândalo em torno dos empregos fictícios de François Fillon.
Os membros do partido de centro-direita que integram o novo Governo “já não fazem parte d’Os Republicanos”, anunciou Bernard Acoyer, secretário-geral do partido a que Nicolas Sarkozy mudou o nome. As setas envenenadas dirigem-se sobretudo contra Bruno Le Maire, a quem foi atribuída a Economia. O político que começou como director de gabinete de Dominique de Villepin nos Negócios Estrangeiros - quando foi o rosto da oposição francesa à invasão do Iraque pelos EUA - ofereceu-se cedo para colaborar com Macron, suscitando fortes críticas da liderança republicana. Macron ofereceu-lhe a pasta da Economia com que ele sonhava no Governo de Sarkozy.
A segunda pasta ministerial do MoDem foi atribuída à eurodeputada centrista Sylvie Goulard. Ex-conselheira política do presidente da Comissão Europeia Romano Prodi, é ministra da Defesa. É a segunda mulher neste cargo, depois Michèle Alliot-Marie, ministra de Nicolas Sarkozy.
Mas Goulard teria provavelmente a expectativa de receber a pasta dos Negócios Estrangeiros – ainda mais por causa da importância que Emmanuel Macron diz atribuir à União Europeia. Próxima de François Bayrou, a eurodeputada é muitas vezes solicitada para fazer análises, e sabe defender a sua posição em Berlim, Londres ou Roma, diz o Le Monde. Além disso, diz ser próxima de Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão.
A pasta do Trabalho foi entregue a Muriel Penicaud. Foi conselheira de Martine Aubry, a ministra socialista que criou a semana das 35 horas, mas depois enveredou por uma carreira de administradora em grandes grupos privados - na Danone, no grupo Dassault, Orange ou Aeroportos de Paris. Daí a reacção da esquerda de que foi convidada uma representante do patronato para esta importante pasta - uma das principais promessas de Macron, e que promete ser mais polémica, já a partir deste Verão, é a reforma do mercado de trabalho.
A cultura foi entregue a Françoise Nyssen, co-responsável pela editora Actes Sud. Frédérique Vidal, uma bioquímica de formação que presidia à Universidade de Nice Sophia Antipolis, foi nomeda para o Ministério do Ensino Superior, da Investigação e da Inovação. Agnès Buzyn sai da presidência da Alta Autoridade de Saúde para o Ministério. Já dirigiu vários institutos públicos.
"A Vespa" no Desporto
“A Vespa” foi a escolha de Emmanuel Macron para o Ministério do Desporto. Laura Flessel, duas vezes campeã olímpica de esgrima e seis vezes campeã do mundo. Natural de Guadalupe, um dos territórios ultramarinos franceses, a ex-atleta de 45 anos é uma das personalidades envolvidas na promoção da candidatura de Paris à organização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024.
O dossier olímpico será, com toda a certeza, um dos primeiros em que "A Vespa" - a alcunha que ganhou - irá trabalhar. Aliás, Macron já deu vários sinais de que se empenhará na conquista desta organização. Flessel é também madrinha dos Gay Games, marcados para Paris em 2018 – presidiu ao Comité de Luta contra as Discriminações no Desporto.
Flessel integrava um grupo de cerca de 60 atletas, em actividade ou retirados, que assinaram um apelo a votar em Macron na segunda volta das presidenciais. Começou recentemente a apresentar um programa de televisão – os primeiros episódios serão transmitidos já com ela como ministra.