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Rui Moreira recusa pressão do PS, mas não recusa o apoio

Para os socialistas, ter apenas um representante sabia a pouco e Ana Catarina Mendes tratou de fazer “pressão” para abrir caminho a uma negociação com Rui Moreira, mas o autarca não cedeu.

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Rui Moreira revelou ter falado com Costa antes da secretária-geral adjunta ter corrigido as declarações na imprensa PEDRO GRANADEIRO/NFACTOS

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, explicou ontem à noite na SIC que rompeu com o apoio do PS porque não aceita que o partido com quem tem uma coligação pós-eleitoral no executivo faça crer que existe uma coligação informal.

“Não aceitamos que o PS tente fazer crer que existe uma coligação informal", disse Moreira, referindo-se às declarações da secretária-geral adjunta dos socialistas, Ana Catarina Mendes, que ao Observador, na terça-feira, disse que uma vitória de Rui Moreira seria uma vitória do PS e que o partido havia de ter uma "representação forte" nas listas do movimento o Nosso Partido é o Porto. "Nós temos um movimento de cidadãos e temos gosto se os partidos entenderem apoiar-nos, mas o apoio de um partido não pode ser transformado numa coligação formal ou informal”, insistiu Rui Moreira, acrescentando que “nunca” se candidatará por nenhum partido ou coligação. 

O presidente da autarquia elogiou a "lealdade" de Manuel Pizarro, o líder da federação distrital do PS, e afirmou que o convidará para permanecer na vereação, mas apenas pelo "desempenho" que tem tido, e não por ser dirigente do PS. "O dr. Manuel Pizarro tem sido de uma enorme lealdade e de uma enorme competência e, portanto, era minha intenção — que eu espero poder concretizar... Toda a gente entenderá que o dr. Manuel Pizarro será convidado por mim para a vereação, pela competência demonstrada e pela forma como tem trabalhado comigo”.

Rui Moreira contou que falou com o primeiro-ministro e secretário-geral do PS na quarta-feira de manhã, antes ainda de Ana Catarina Mendes afirmar à Lusa — corrigindo o que dissera ao Observador — que uma vitória de Rui Moreira no Porto não seria uma vitória do PS, mas dele próprio, embora o PS também comemorasse por ter apoiado o autarca independente. Mas Moreira não desvendou muito das palavras que trocou com Costa: “Tive uma conversa ontem [anteontem] de manhã com o dr. António Costa e aquilo que ele me disse é que compreendeu que havia um incómodo já então da minha parte. Já tinha feito saber a pessoas do PS desse incómodo e ele teve a gentiliza de me ligar apenas nesse sentido, mais não direi”. “Um movimento como o nosso conta, para candidatos, com aqueles que são melhores, independentemente da sua coloração partidária. Na nossa vereação temos pessoas que concorreram contra nós, nomeadamente do PS, temos pessoas próximas do BE e, mais recentemente, fui buscar um vereador eleito pelo PSD, porque considerava que precisava dele para trabalhar pela cidade”, disse, vincando que quer ter liberdade de escolher a sua equipa. “Não pode haver uma contabilidade que tente minar este princípio fundamental do meu movimento”, enfatizou.

“O número dois da lista será, em qualquer caso, uma pessoa independente do nosso movimento”, avisou Rui Moreira, deixando para o PS a decisão de continua a apoiar ou não a sua candidatura.

Há muito que se aventava a hipótese de Rui Moreira não estar disponível para ceder mais do que um lugar ao PS. Para os socialistas, ter apenas um representante sabia a pouco e Ana Catarina Mendes tratou de fazer “pressão” para abrir caminho a uma negociação com Rui Moreira, mas o autarca não cedeu. E a ruptura consumou-se quando esta dirigente disse que “uma vitória de Rui Moreira no Porto será uma vitória do PS” e “reassumiu” que as listas para os órgãos autárquicos da candidatura independente O Nosso Partido é o Porto terão “uma representação forte” do PS. Foi a gota de água.

Rui Moreira precisava de um pretexto para começar a descolar dos socialistas, de modo a que o seu movimento não se transformasse numa espécie de partido trasvestido e o PS ofereceu-o de bandeja. Mas, depois desta crise, tudo pode ficar na mesma se o PS decidir manter o apoio a Rui Moreira.

Ao renunciar ao apoio político do PS, Moreira marca aqui uma posição de força e sua recandidatura ganha um novo élan. É quase como se renascesse, ao mesmo tempo que solidifica a matriz independente da sua candidatura. Mas há um outro factor favorável. Sem o apoio do PS, Moreira não fica obrigado a eleger nove representantes: seis pelo Movimento Independente o Porto é Nosso partido e três pelo PS. E para ter uma vitória basta eleger sete representantes, mais um do que elegeu em 2013. Por outro lado, o eleitorado do centro-direita deixa de ter argumentos para não votar de novo nele. Tudo isto permite a Rui Moreira regressar às origens do seu projecto para o Porto.

Dramatização encenada?

Francisco Assis, uma das vozes que tem criticado a falta de uma candidatura ao Porto, disse ao PÚBLICO que o PS tem de resolver rapidamente a situação, apresentando um candidato. “Compreendo a decisão de Rui Moreira e entendo eu que o PS não deve abrir uma guerra”, afirmou, evidenciando “o trabalho feito pelo partido na Câmara do Porto”.

“Das palavras de Rui Moreira percebemos que tudo vai ficar na mesma entre Rui Moreira e o PS. A dramatização criada por Rui Moreira, encenando a ruptura com o PS, destina-se  a reconstruir  a sua desgastada imagem de  independência face aos partidos com quem tem governado a Câmara do Porto, o PS e o CDS, fingindo que nada negoceia com eles”, declarou o candidato do BE, João Semedo. 

“Rui Moreira anunciou que convidará membros do PS para a sua lista, por exemplo o dr. Manuel Pizarro, convites que certamente não deixarão de ser aceites por quem ainda há poucos dias dizia que apoiava Rui Moreira com convicção, mesmo que esses convites sejam para posições mais desgraduadas que o previsto e desejado”, acrescentou o ex-deputado e candidato á Câmara do Porto.

Para João Semedo, “este episódio expõe na praça pública para que todos possam ver a arrogância de Rui Moreira e o estilo de caudilho que molda o seu comportamento. E mostra igualmente até onde chega a subordinação dos dirigentes do PS-Porto. É natural o sentimento de frustração e desilusão de muitos socialistas que gostariam de ver no Porto o mesmo que se passa no país: a esquerda a entender-se para melhorar a vida dos portugueses”.

Argumentando que desconhece o que se passou “exactamente”, o candidato da coligação Porto Autêntico, apoiado pelo PSD e pelo PPM, Álvaro Almeida, fala de um desentendimento entre as duas partes, mas diz que “falta saber se é apenas um arrufo de namorados ou se vai dar mesmo em divórcio”.

A candidata da CDU à presidência da Câmara do Porto, Ilda Figueiredo, também fala de um “arrufo de namorados” e diz não estar convencida de que as duas forças não venham ainda a apresentar uma candidatura comum.“ É natural que daqui até às eleições se sucedem alguns arrufos de namorados, até para desviar a atenção de processos bem mais difíceis que se vivem na cidade”, declarou a candidata, à margem de uma visita à zona do Bairro do Aleixo.

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