Nem a Polícia Marítima fica fora da operação de segurança em Fátima
Coordenada pelo Sistema de Segurança Interna, foi montada uma das maiores operações de sempre realizadas em Portugal. Todas as forças policiais, militares e de investigação estão envolvidas para garantir a segurança nas comemorações do centenário de Fátima. Saiba qual a missão de cada uma.
Sistema de Segurança Interna coordena, com a ajuda do SIS
Por decisão do Governo coube ao Sistema de Segurança Interna (SSI), dirigido pela procuradora-geral adjunta Helena Fazenda, montar e coordenar toda a operação de segurança para o centenário de Fátima e a visita do Papa Francisco. Ao longo dos últimos meses, realizaram-se várias reuniões que envolveram todas as forças de segurança e as chamadas “secretas” para que ficasse claro qual o trabalho de cada uma, de forma a não haver “atropelamentos” ou trabalho duplicado, e qual o tipo de resposta a dar a diferentes situações.
Proteger a vida e a integridade das pessoas, a paz pública, designadamente contra o terrorismo, a criminalidade violenta ou altamente organizada, a sabotagem, prevenir e reagir a acidentes graves ou catástrofes e preservar a saúde pública é a missão geral da operação.
Caberá também ao SSI, por proposta do Serviço de Informação de Segurança (SIS), determinar o nível de alerta do país durante as comemorações. Actualmente, Portugal está em grau dois (moderado) numa escala de cinco, mas este deverá ser elevado para grau três (significativo) durante as cerimónias religiosas de 12 e 13 deste mês.
O SIS teve um papel fundamental na operação do SSI já que foi a “secreta” que elaborou o relatório distribuído e debatido com todas as forças de segurança envolvidas sobre as principais ameaças que podem surgir durante as comemorações e visita do Papa. No topo das preocupações está a ameaça terrorista, de matriz islâmica.
O trabalho de recolha de informação e distribuição da mesma pelas restantes forças de segurança é dinâmico e acontecerá até a visita do Papa terminar.
GNR, a “mãe” de toda a segurança
Fátima está sob a jurisdição da GNR. Por isso, esta força terá o papel principal na operação. Por questões de segurança, a Guarda não divulgou até ao momento detalhes do que será o seu trabalho, nem o número de militares envolvidos. Vários oficiais já vieram a público garantir que estão preparados para “uma operação de larga escala”, em que serão usadas todas as valências da força na protecção dos fiéis e visitantes ilustres presentes, apoio aos peregrinos durante as suas caminhadas e, em Fátima, na gestão de multidões e de trânsito. Na missão da GNR ninguém fica de fora, desde as diversas forças especiais, ao grupo cinotécnico.
Para apoiar e gerir a sua missão, está já em funcionamento a chamada Sala de Controlo do Posto Territorial de Fátima, que concentra o comando e onde será centralizada toda a informação, nomeadamente as imagens de videovigilância recolhidas por 20 câmaras — 11 do santuário, quatro da câmara de Ourém e cinco da GNR.
À sala de controlo chegará ainda toda a informação das patrulhas em acção, será feita a gestão das redes de rádio e o acompanhamento do noticiário nos canais de televisão. A sala dispõe de um segundo espaço que será a área de trabalho do estado-maior. Estarão representantes oficiais de ligação de todas as forças de segurança, bem como entidades da área da justiça, saúde e infra-estruturas.
A GNR vai ainda utilizar, pela primeira vez, um helicóptero alugado em Espanha com uma câmara de alta definição, para controlar fluxos de viaturas e de peões em Fátima, entre 11 e 14 deste mês.
Ao dispor estará já o armamento e material táctico comprado recentemente e que os militares consideravam fundamental para garantir a segurança no centenário de Fátima. São 150 pistolas-metralhadoras HK-MP5, de fabrico alemão, e 200 coletes anti-bala. Esta força terá também várias patrulhas nas estradas, algumas delas a cavalo, a apoiar os peregrinos, numa operação que começou a 2 deste mês. A GNR dará ainda apoio ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no controlo de fronteiras terrestres.
PSP com a segurança pessoal do Papa
A PSP terá como missão principal a segurança pessoal do Papa Francisco em colaboração com a equipa que habitualmente acompanha Francisco. Haverá homens “colados” ao sumo pontífice desde o momento em que chegue a Portugal e até partir de volta ao Vaticano.
O gabinete de comunicação recusou, por razões de segurança, disponibilizar qualquer dado sobre a sua operação. Mas segundo o PÚBLICO apurou terá ainda homens disponíveis para qualquer solicitação que lhe seja feita, nomeadamente para a participação no controlo de fronteiras a cargo do SEF.
Os homens da PSP garantirão também a segurança pessoal a outras altas individualidades presentes no santuário e darão apoio ao SEF no controlo de fronteiras terrestres.
Com a missão da PSP em Fátima, o Governo autorizou em Março a compra de 17 malas de protecção balística, 15 malas tácticas, 18 malas codificadas para armas e 80 kits tácticos de emergência médica.
Exército com apoio total a peregrinos e fiéis
A missão do Exército estará centrada no apoio aos peregrinos e fiéis presentes em Fátima, estando em directa colaboração com as nove autoridades civis que irão acompanhar os cerca de 2500 fiéis que se vão deslocar a pé até ao santuário.
Os militares vão fornecer alimentação e alojamento aos efectivos que estarão no terreno a apoiar os peregrinos nas rotas do Norte e do Centro do país, através da montagem de 95 tendas, 8 unidades de produção de energia e meios de iluminação. Vão ainda ser disponibilizadas 2557 camas articuladas de campanha.
Segundo revelou, através de email, o departamento de comunicação do Exército ao PÚBLICO, os militares vão montar um Posto de Apoio Sanitário em Condeixa, através do Agrupamento Sanitário, constituído por uma tenda de admissão, outra tenda de tratamentos, uma mista, de tratamentos e consultas, uma tenda de serviço de observação e respectivas unidades de produção de energia.
Serão disponibilizadas sete equipas de emergência médica e reanimação (viatura incluída), “pré posicionadas em pontos escolhidos, capazes de responder a alguma solicitação de emergência”.
O controlo e a coordenação da operação serão efectuados a partir do Regimento de Apoio Militar de Emergência, em Abrantes. No terreno vão estar 350 militares, oriundos das brigadas de Reacção Rápida, Intervenção e Mecanizada. Caso seja solicitado o emprego de parte do Agrupamento Sanitário, o número de militares ascenderá aos 450.
A operação do Exército teve início a 6 de Maio e termina a 14.
PJ igualmente mobilizada
A Polícia Judiciária (PJ) participou na operação de planeamento de segurança da operação em Fátima e tem vários elementos mobilizados para responderem a qualquer solicitação que lhes seja feita durante as comemorações.
Também vão estar inspectores em Fátima antes e durante as comemorações. Até agora, o seu trabalho tem sido de recolha e tratamento de informação que partilhou com as restantes forças da operação de segurança.
Força Aérea Portuguesa transporta o Papa
A Força Aérea Portuguesa (FAP) terá duas missões específicas durante a visita do Papa: transportar Francisco entre a Base Aérea N.º 5, em Monte Real, e Fátima; e garantir a inexistência de voos de drones ou outras aeronaves no espaço aéreo que cobre os espaços da visita.
O Papa Francisco chega à base de Monte Real, no concelho de Leiria, pelas 16h20 do dia 12. É recebido pelo Presidente da República, visitará a capela da base, dedicada à Nossa Senhora do Ar, e tem a viagem prevista para o estádio Municipal de Fátima, a cerca de 30 quilómetros, às 17h15.
Será transportado num helicóptero Agusta-Westland EH-101 Merlin da FAP, com capacidade para 30 passageiros, estando a chegada ao destino prevista para as 17h35. No dia 13, no final da visita, caberá igualmente à FAP transportar o Papa no percurso inverso.
Já o controlo de drones e de outras aeronaves no espaço aéreo de Fátima, que estará encerrado nos dois dias da visita do Papa, vai ser feito em conjunto entre a FAP e a Autoridade Aeronáutica Nacional, organismo sob a alçada da Força Aérea.
Sem dar grandes detalhes, por questões de segurança, sobre a forma com funciona o equipamento anti-drones, adquirido recentemente, o tenente-coronel Manuel Costa, director de comunicação da FAP, explicou que ele faz a gestão do espaço aéreo interferindo no espectro electromagnético.
Diariamente, a FAP tem ao serviço cerca de 600 militares operacionais, mas esse número deverá subir para cerca de 1500 durante a visita do Papa Francisco.
ASAE evita “gato por lebre”
A Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE) começou a Missão Centenário no final de Dezembro, prolongando-a até ao final da visita do Papa. O trabalho tem-se centrado na fiscalização na área da segurança alimentar e prestação de serviços económicos.
O facto de ter avançado para Fátima e arredores, nomeadamente em zonas de peregrinação, com vários meses de antecedência, visou detectar e corrigir atempadamente eventuais problemas antes dos fiéis começaram a chegar.
Conforme divulgou recentemente, até meados de Abril a ASAE fiscalizou 550 operadores económicos, tendo sido levantados 125 processos de contra-ordenação, seis processos-crime e suspensa a actividade em nove estabelecimentos. Falta de condições de higiene tem sido o principal problema detectado.
Conforme explicou o inspector-geral da ASAE, Pedro Portugal Gaspar, a missão desta força é evitar que se venda “gato por lebre”. A ASAE tem tido no terreno uma equipa com 20 homens, mas esse número pode aumentar com a proximidade da visita do Papa.
SEF controla reposição de fronteiras
Entre as zero horas do dia 10 de Maio e as zero horas de 14 haverá controlo documental de pessoas nas fronteiras aéreas, marítimas e terrestres do país. O SEF tem como missão fazer esse controlo nas fronteiras, que foram repostas pelo Governo por razões de ordem pública e segurança interna.
Em todas existem pontos de passagem autorizados. No caso das fronteiras terrestres foi necessário definir nove pontos de passagem autorizados: Valença-Viana do Castelo, Vila Verde da Raia-Chaves, Quintanilha-Bragança, Vilar Formoso-Guarda, Termas de Monfortinho-Castelo Branco, Marvão-Portalegre, Caia-Elvas, Vila Verde de Ficalho-Beja, Vila Real de Santo António.
Durante o período de reposição de fronteiras, todos os cidadãos, independentemente da nacionalidade, que se desloquem para dentro ou para fora de Portugal através de aeroportos, aeródromos, portos, marinas ou via terrestre (rodoviária, ferroviária e fluvial) deverão ser portadores de documento de viagem válido, nomeadamente passaporte ou cartão do cidadão.
O gabinete de comunicação do SEF diz que “toda a operação já está planeada e pronta a ser executada, com os meios considerados necessários para acautelar a segurança nas fronteiras”, não adiantando porém quantos elementos vão estar envolvidos.
Polícia Marítima também está activa
Em Fátima não há mar, mas a Polícia Marítima não ficará fora da operação. A esta força da Autoridade Marítima Nacional caberá dar apoio ao SEF com homens e embarcações no controlo de fronteiras em portos e marinas.