Charlie Hebdo põe cara séria e apela ao voto contra Marine Le Pen
Jornal satírico deixa os bonecos fora da primeira página e faz uma pergunta: "É mesmo preciso fazer-vos um desenho?"
Desta vez, o jornal satírico francês Charlie Hebdo resolveu suspender o sarcasmo por uma semana e falou a sério sobre a segunda e decisiva volta das eleições presidenciais em França. Na primeira página faltam os habituais bonecos e, por isso mesmo, os responsáveis pelo jornal perguntam: “É mesmo preciso fazer-vos um desenho?”
Depois do atentado de 7 de Janeiro de 2015 – quando dois homens armados ligados ao braço da Al-Qaeda no Iémen mataram 12 pessoas, entre as quais oito colunistas e cartoonistas do Charlie Hebdo –, o jornal francês foi envolvido por uma onda de solidariedade internacional. Foi a primeira vez que recebeu algo que não fosse gargalhadas dos seus fãs e desprezo ou fúria dos seus alvos.
Um desses alvos tem sido Marine Le Pen, a candidata da extrema-direita que vai disputar a segunda volta das presidenciais francesas com o moderado Emmanuel Macron. As sondagens indicam que Le Pen muito dificilmente ganhará, mas o receio de que se repita o cenário das presidenciais nos Estados Unidos ou do referendo sobre o “Brexit” deixou até o mais satírico dos jornais satíricos com uma cara séria.
Fugindo à sua tradição de andar contra a corrente, o Charlie Hebdo pôs-se ao lado dos que vão votar contra Marine Le Pen – não necessariamente a favor de Emmanuel Macron, mas decididamente contra as propostas extremistas da antiga líder da Frente Nacional (suspendeu a sua liderança um dia depois da primeira volta para, segundo as suas palavras, unir o maior número possível de eleitores).
Em vez de uma caricatura, a edição desta semana do Charlie Hebdo tem apenas letras – “Segunda volta: É mesmo preciso fazer-vos um desenho?” A pergunta será dirigida aos indecisos, principalmente aos que na primeira volta votaram no candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon e que agora estão divididos entre votar contra Le Pen e a abstenção. Para alguns desses eleitores, Macron é um representante da alta finança mundial e a sua eleição apenas adiará uma vitória de Le Pen nas próximas eleições.
A segunda volta das presidenciais em França vai decorrer no próximo domingo e conta com apenas dois candidatos – Emmanuel Macron partiu como independente mas tem o apoio oficial de líderes da direita e da esquerda, como Nicolas Sarkozy e o Presidente François Hollande; Marine Le Pen passou à segunda volta mas os analistas antecipam que os seus eleitores não serão suficientes para derrotarem uma coligação temporária contra a candidata da Frente Nacional.